Texto: Isonyane Iris
O ano letivo começou na última segunda-feira (11) em toda a rede de ensino no município. Com tudo arrumado na mochila, os estudantes seguiram para as escolas, mas de acordo com os pais, só teve um problema: nem todos tinham professores. Teve creche que atende 70 crianças de portas fechadas; em várias escolas da rede municipal, os professores confirmam a ausência de outros docentes. Entre os motivos, estaria a forma como o último processo seletivo teria sido realizado e ainda o atraso no pagamento de salários.
“Eles fazem processo seletivo dizendo que é classificatório, mas é eliminatório. Elaboram questões absurdas, que teve gente com mestrado que não passou. Anularam duas questões porque perceberam que não passou quase ninguém, mas mesmo assim não adiantou. Então, começa o ano e agora estamos com professores faltando em várias escolas, sendo que se o processo seletivo tivesse sido feito de forma classificatória, poderiam continuar chamando professores”, reclama uma professora da rede municipal de educação, que preferiu não se identificar.
Entre as disciplinas em que estariam faltando professores, se destacam as turmas de educação especial, onde, segundo informações, quase ninguém teria se classificado. “As turmas de educação especial não têm professor e os alunos estão em casa. Eles usam fralda, sonda, precisam de uma segunda professora, mas foram poucos os professores que conseguiram ser aprovados no último processo seletivo. Soubemos de caso que chamaram professoras com Ensino Médio para essa disciplina, sendo que por lei não poderia”, revela a professora, destacando que a Secretaria de Educação teria aberto um novo processo seletivo para essa área, mas que a possível demora seria motivo de preocupação.
Nos anos iniciais, quando falta um professor de alguma disciplina, os demais professores precisam cobrir o horário, para que as crianças não sejam liberadas mais cedo. “Faltou professor, nós temos que cobrir. No meu caso, a última aula era Educação Física e eu precisei inventar alguma coisa para a turma, que logo percebeu que eu estava tentando suprir a disciplina que não veio e já começou a bagunçar”, lamenta a docente.
Para piorar a situação dos professores, na terça-feira (12) eles teriam recebido a informação de que só iriam receber os salários no final de março. “Nosso cartão do ônibus não foi carregado, não temos vale-alimentação, não podemos comer merenda nem se ela sobrar, as merendeiras são obrigadas a jogar no lixo e não podem nos dar. E agora vamos trabalhar mais de um mês de graça, só vamos receber no final de março. Isso é falta de respeito com os professores, depois querem ter ensino de qualidade. Como vamos conseguir preparar nosso planejamento de aula, aplicar nossa disciplina pensando nas dívidas e em tudo que vamos atrasar até receber?”, questiona a professora.
Os professores já teriam procurado informações com a Secretaria de Educação do município e até com o prefeito, Camilo Martins, mas nenhum retorno teria sido dado. “Se eu for reclamar no RH, sou exonerada; se não dou aula, sou exonerada; não tenho para onde correr. Não sei mais o que fazer. O sindicato não faz nada pela gente, pois somos ACTs. A Secretaria de Educação e o prefeito não nos respondem. Só sei que temos famílias e que a Prefeitura não parece se importar com a gente. Estamos pagando nossa passagem de ônibus, comendo pão porque não temos alimentação, cobrindo horário de outros professores e ainda sem receber nosso salário, que deveria ser pago no final de fevereiro”, desabafa.
Sem aula
No Centro de Educação Infantil que funciona dentro da sede da Associação Comunitária do Aririú da Formiga, cerca de 70 crianças ficaram sem atendimento na segunda-feira (11). Com dois meses de salários atrasados, as quatro professoras que trabalham teriam paralisado suas atividades. Na tentativa de manter o atendimento, a direção se mobilizou para receber as crianças, mas os pais não apareceram.
Segundo informações repassadas pelo conselho, um convênio com a Prefeitura prevê o repasse de R$ 15 mil mensais para a creche, no entanto, as despesas com a folha de pagamento atingem R$ 20 mil. O prefeito teria se comprometido a providenciar uma vistoria no local em janeiro, para começar a pagar o aluguel em fevereiro, mas até o momento, nada foi feito.
A Secretaria Municipal de Educação salientou que não tinha informação oficial sobre a paralisação de atividades da creche da Associação Comunitária do Aririú da Formiga. Ao tomar conhecimento da situação através de comentários nas redes sociais, o setor fez contato com a diretoria da entidade e solicitou um relatório sobre a situação. “Se, de fato, está ocorrendo a paralisação de funcionários, isso é responsabilidade da diretoria do Centro Comunitário Aririú da Formiga. No último dia 29, a Prefeitura de Palhoça assinou 15 termos de ‘chamamento público com entidades parceiras’ (denominação técnica para os antigos convênios) com associações de bairros e conselhos comunitários que prestam serviços na área da educação, principalmente Educação Infantil, beneficiando mais de 2.300 crianças”, garante a Prefeitura.
Segundo a Secretaria de Educação, os 15 convênios somam cerca de R$ 6 milhões, que serão repassados às entidades parceiras em 11 parcelas mensais. A primeira será repassada até o dia 15.
A secretaria garante que oferece toda a merenda às aproximadamente 2.300 crianças, em espécie, com cardápio elaborado por nutricionistas, e também disponibiliza assessoria pedagógica, com cursos de “formação continuada” para professores e demais funcionários. “O Centro Comunitário Aririú da Formiga é uma dessas entidades parceiras. Ao se credenciar, e depois quando assinou o contrato, em nenhum momento o Centro Comunitário Aririú da Formiga relatou dificuldades, capazes de paralisar atividades”, informa a Prefeitura.