Texto: Isonyane Iris
Nesta segunda-feira (11), estudantes da rede de ensino municipal e estadual voltam às aulas; infelizmente, só os que têm vaga. Nesta última semana, vários pais voltaram às escolas para tentar mais uma vez uma vaga que possa ter sobrado do ano anterior, mas muitos voltaram para casa desanimados.
Com dois irmãos em idade escolar e a família desempregada, uma leitora contou ao Palhocense que esse é o quinto ano em que a situação se repete. Um dos irmãos estaria em todas as listas para ser chamado, mas não aconteceu. Nos anos anteriores, a família teria se sacrificado para conseguir pagar uma escola particular, mas neste ano, as condições financeiras não estariam permitindo. “Já tentamos de tudo, até mesmo na Justiça do município e com a Secretaria Estadual de Educação, mas nada é resolvido. Estamos desempregados, e agora, o que vamos fazer? Me sinto frustrada, com um sentimento de impotência gigante. Ensinamos a eles que para ter um futuro melhor precisam se dedicar aos estudos, que o conhecimento é o único bem que ninguém pode tirar deles, mas parece que esse direito é apenas dos que conhecem alguém na Prefeitura, na direção das escolas ou que conseguem pagar o ensino particular”, lamenta a leitora.
Na tarde de terça-feira (29), a Prefeitura de Palhoça assinou 15 convênios com associações de bairros e conselhos comunitários que prestam serviços na área da educação, principalmente na Educação Infantil, o que promete beneficiar mais de 2,3 mil crianças - a maioria das entidades beneficiadas nesse pacote educacional atende crianças entre zero e cinco anos.
No ato de assinatura dos convênios, o prefeito Camilo Martins ressaltou a “importante parceria com entidades que auxiliam o município, que ajudam a Prefeitura a prestar um importante trabalho educacional e social”. Na opinião do prefeito, os convênios são fundamentais, pois garantem uma relativa segurança financeira às entidades, que “prestam um bom serviço aos munícipes”.
A secretaria de Educação, Shirley Nobre Scharf, revela que além de repassar os recursos mediante convênio, a Prefeitura fornece merenda escolar, assessoria pedagógica e cursos de formação profissional continuada.
Atualmente, o município conta com 1.546 crianças aguardando por uma vaga na Educação Infantil. Segundo a secretária de Educação, este número estava em 5.500 vagas, mas após um recadastramento, a secretaria verificou que muitos pais não residiam mais no município. “Também é importante destacar que essa redução é graças às 1.764 matrículas realizadas em janeiro deste ano. Inauguramos também quatro novas unidades, a quinta será inaugurada até abril de 2019. Com os novos credenciamentos das unidades parceiras, vamos conseguir cumprir o TAC (termo de ajustamento de conduta) dessas vagas”, garante a secretária.
Com o crescimento do município, onde só no último ano Palhoça recebeu mais de 8 mil novos habitantes, Shirley reforça que a Secretaria de Educação está trabalhando para atender essa demanda. “Tanto no Ensino Infantil como no Fundamental. Em 2018, construímos três novas salas no Ensino Fundamental, o que grou seis novas turmas. Para esse ano, pretendemos ampliar nossas unidades do Ensino Fundamental”, prevê a secretária.
Aos pais que aguardam por uma vaga na rede municipal de ensino, a secretária explica que é importante ir até a Secretaria de Educação para ver qual sua posição na fila de espera e obter orientações.
Escolas Estaduais
Com o comprovante da pré-matrícula realizada pela internet em mãos, Débora Grazieli Henrique, moradora da Guarda do Cubatão, acordou cedo na segunda-feira (4) e foi até a escola Venceslau Bueno, no Centro. Ao apresentar os documentos para fazer a matrícula da sua filha para o 1º Ano do Ensino Fundamental, ela teria sido informada de que as vagas eram apenas para os moradores do Centro e que precisaria da negativa de vaga das escolas do seu bairro.
“Sem poder, eu perdi um dia de trabalho e fui nas duas escolas do meu bairro pegar as negativas de vaga e voltei ao Venceslau. Quando voltei, outra moça me atendeu e me informou que não adiantava nada, pois as vagas eram só para moradores do Centro. Eu disse que tinha ido pela manhã e que a moça tinha me pedido a documentação, mas ela nem me ouviu. Me atendeu muito mal e disse que a pré-matrícula não valia de nada, que ali eles escolhiam quem receberia as vagas”, relembra Débora, afirmando se sentir humilhada diante de toda essa situação.
Em conversa com a coordenadora-geral da Educação na Grande Florianópolis, Elizete Soares Geraldi, a direção da escola informou que a mãe teria sido bem atendida e que as câmeras de segurança na porta da escola teriam registrado todo o atendimento, comprovando que em nenhum momento teve alteração por parte da equipe da escola. “A orientação repassada para a mãe foi a de que ela deveria pegar a negativa de vaga e retornar à escola na segunda-feira (11), pois a escola neste primeiro momento deve respeitar a questão do zoneamento, ou seja, das famílias que moram ou que o trabalho dos pais seja no mesmo bairro da escola”, explica a coordenadora.
A coordenadora informa que a vaga pretendida por Débora e confirmada pela pré-matrícula online vai estar disponível na segunda-feira (11). “Somos obrigados a respeitar o zoneamento. Depois de fazer as matrículas para os moradores e para os pais cujo trabalho é no Centro, será feita a matrícula para todos que tiveram problemas com seus documentos ou que não atendem à questão do zoneamento. Por isso, ela não irá perder a vaga, é dela, a pré-matrícula garante isso. Basta ela apresentar as negativas de vaga e os demais documentos”, afirma a coordenadora, destacando que por isso o sistema pede que os pais inscrevam seus filhos em duas escolas, já prevendo que em uma delas pode não ter vaga.
Sobre o déficit de vagas nas escolas estaduais de Palhoça, Elizete afirma que no município a demanda de vagas é grande. “Por isso, estamos sempre trabalhando para atender a todos os alunos. Mesmo quando não conseguimos escola no bairro perto da casa, tentamos em outro e até em alguns casos auxiliamos com o vale-transporte para que o aluno não deixe de estudar”, diz a coordenadora, adiantando que a previsão do estado é a de que a nova escola Professor Ângelo Cascaes, no Bela Vista, seja inaugurada ainda neste primeiro semestre. Cerca de 1,5 mil vagas são previstas para essa nova instituição.