“Você não precisa nascer rico, só precisa ter o sonho e a vontade”. O recado é do filho de um caminhoneiro e de uma dona de casa de Palhoça que hoje mora em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, um dos lugares mais cobiçados do mundo. Junior Byrne Silva não nasceu rico, mas tinha um sonho e teve força de vontade suficiente para batalhar em terras estrangeiras até se consolidar na carreira. Uma carreira que permitiu conhecer celebridades e receber um título que definitivamente não é para qualquer um: o ex-estudante do colégio Ivo Silveira é, hoje, o paraquedista brasileiro com o maior número de saltos.
Já são mais de 23 mil saltos, em 26 anos de paraquedismo. Uma façanha inquestionável! E tudo começou aqui, na vizinha São José. “A minha formação como paraquedista foi feita no Aeroclube de São José, com os instrutores Ewaldo Silva e Saulo”, relembra.
O interesse pelo paraquedismo veio depois que serviu o Exército, na 14ª Brigada de Infantaria Motorizada, na Beira-Mar Norte. Lá, ouviu histórias de paraquedistas e ficou interessado. Mas nada empolgou tanto quanto um filme, em que acompanhou, perplexo, um personagem que se jogava de um penhasco mas não se esborrachava no chão. Era o base jump, o salto realizado a partir de uma base fixa, como um penhasco ou um prédio.
No início dos anos 1990, época em que tocava uma peixaria, a Peixaria da Barra, no Mercado Público de Florianópolis, surgiu um convite para voar de avião. Voar era pouco: ele queria saltar! Fez, então, o curso de static line (quando o paraquedista sai do avião e o paraquedas abre automaticamente). “Fiz o primeiro salto com o maior medo, uma coisa normal, como todo mundo que salta pela primeira vez. Na segunda também, e na terceira o medo vai passando, depois que você aprende mais como funciona tudo”, relembra.
Como não havia como saltar com muita frequência por aqui, demorou para concluir o curso. Então, o jeito foi aproveitar as viagens a São Paulo, para onde viajava para levar frutos do mar, e saltar por lá, na famosa Boituva, centro nacional do paraquedismo brasileiro. “Fiz muitos saltos em pouco tempo. O que demorava para fazer cinco, dez saltos no Aeroclube de São José, eu fazia lá em um dia, então, a evolução foi muito boa”, recorda.
Foi em Boituva que ficou sabendo de um lugar na Flórida mundialmente conhecido pelos saltos. Em 1997, cerca de três anos depois do primeiro salto, tirou passaporte e fez planos pra ir para os Estados Unidos, mas os planos foram adiados. Tinha seu negócio, tinha sua família, não falava inglês... Os obstáculos venceram. Mas só daquela vez! Em 1998, a lembrança dos filmes da saga Rambo, que acompanhava desde os oito anos de idade, falou mais alto e a curiosidade de conhecer os Estados Unidos foi finalmente saciada. A terra do Tio Sam forjaria o profissional que hoje é respeitado no mundo inteiro.
Junior tentou levar a família para lá, mas acabou se separando da esposa e deixando as duas filhas no Brasil. Com o rompimento, focou toda a sua energia no aprendizado. Tirou todas as carteiras possíveis no paraquedismo; virou coach, instrutor, examinador. Acumulou milhares de saltos e reencontrou o amor nos braços de uma norte-americana, com quem teve um filho, hoje com 12 anos.
A família decidiu se mudar para Dubai, nos Emirados Árabes, em 2013. Dois anos antes, Júnior teve a primeira experiência no emirado, a convite de um príncipe. Sim, a vida dele é assim: cercada da realeza árabe e de celebridades. O garoto que praticava judô e ciclismo em Palhoça, que venceu uma competição de manobras de bike das Lojas Weiss, aos 10 anos de idade; o jovem paraquedista que morou em barraca, em furgão, em trailer nos Estados Unidos; hoje salta com astros do calibre do ator Tom Cruise, da apresentadora Eliana, do ex-jogador Ronaldo Fenômeno e do ex-piloto de Fórmula-1 Michael Schumacher. Jogava futebol com ninguém menos do que o argentino Maradona, falecido recentemente. “Tentei convencer ele a saltar de paraquedas, mas não consegui”, diverte-se, com saudade do amigo.
Com a gratidão de quem reconhece a dádiva da posição que consolidou na carreira, Junior quer mostrar que o trabalho árduo é capaz de conquistar recompensas. Quer ser exemplo. “Quero ser um motivador, quero passar minha experiência”, destaca. Para isso, vai usar suas redes sociais, como o Instagram (@juniorbyrnesilva) e o YouTube (JuniorSilva777), para democratizar as chances de garotos e garotas humildes vencerem no esporte. “Vou dar o caminho das pedras para o pessoal mais humilde. E vou focar em Palhoça, de repente até abrir um clube e reunir pessoas que queiram fazer doações para este clube, que vai ajudar as pessoas humildes e crianças que querem aprender inglês ou seguir a carreira no esporte e não têm condições”, explica. Tudo para ajudar os outros. Para tirar as crianças do “caminho ruim”. Para retribuir o que a vida lhe proporcionou. Um salto de humanidade!
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