Texto: Isonyane Iris
Quatro fertilizações, duas transferências e quatro anos na fila por uma adoção. São 11 anos lutando pelo sonho de ser mãe. Essa é a história de Daiane Lúcia Soares Roxo, de 29 anos, moradora do Aririú. Casada há 12 anos com Maicon dos Santos Roxo, Daiane já foi além do seu limite físico, emocional e financeiro, mas para ela, ainda existe um fio de esperança quando se trata de realizar o sonho de ser mãe.
Desde que casaram, Daiane e Maicon queriam filhos. Depois de alguns anos tentando sem sucesso, eles começaram a investigar e descobriram uma varicocele (dilatação das veias presentes dentro do escroto, conhecidas varizes do testículo). “Tínhamos 5% de chance se fosse natural, então, a médica tentou induzir com tratamentos de simples complexidade. Fiz seis ciclos de coito programado e inseminações. Anos se passaram e nada”, relembra Daiane.
O casal, então, buscou um urologista, que marcou uma cirurgia e informou que tudo estava normal, alertando o casal que, se em seis meses não engravidassem, eles teriam que partir para a fertilização in vitro. Mais dois anos se passaram e nada.
Em 2009, o casal conheceu uma mulher que era usuária de drogas, estava grávida e queria abortar o bebê. “Conseguimos convencê-la a ter a criança e nos dar ao invés de abortar. Acompanhamos a rotina dela desde os três meses de gestação. Montamos o quarto do bebê, deixamos tudo pronto, acompanhávamos os ultrassons e tudo. Era uma menina, a nossa Julia. Hoje, sabemos que era o jeito errado de começar, mas quando se tem um sonho, parece que tudo te cega”, reconhece o casal.
Aos nove meses, Julia era saudável e estava pronta pra nascer quando a mãe avisou que estava com dores e estava indo para a maternidade. O casal foi para casa, arrumou tudo e deixou tudo pronto para a chegada da tão sonhada princesa. Dois dias passaram e a Júlia nasceu saudável. “Uma menina linda de cabelos pretos e olhos castanhos. Na noite que iriámos buscá-la, a mulher nos ligou e disse que não iria mais dar a menina e desligou. Meu coração parou naquele momento, tudo pronto pra chegada dela e ela não veio. Sofremos muito, e nunca mais soubemos dela. O quarto ficou vazio, com tudo pronto. Não conseguia mais entrar em casa, então vendemos o apartamento e compramos outra casa”, conta Daiane, destacando que depois dessa situação o casal começou a pesquisar sobre adoção. “Resolvemos fazer o que é certo e até hoje, já são quatro anos, esperando pelo nosso filho(a). Como tudo aqui na Palhoça é demorado, pode levar até oito anos na fila de espera”, lamenta Daiane, que depois de alguns anos de espera resolveu marcar umas consultas para descobrir o valor de uma fertilização, que poderia chegar até R$ 20 mil. “Nunca iria conseguir fazer. Foi quando comecei a pesquisar e vi um programa chamado ovodoação, que é quando um casal receptor quer ter filhos mas não tem óvulos, e sabendo deste programa, eu podia realizar nosso sonho”, explica Daiane.
Sendo doadora compartilhada, Daiane se submeteria a todo o processo para ela e para a receptora, depois doava metade dos meus óvulos e o outro casal custeava uma parte do tratamento. Exames prontos e o casal começou o tratamento. “Que sonho, uma fertilização era a nossa realização. Fomos para Porto Alegre (RS) por 15 dias. Injetaria diariamente injeções na barriga, numa média de duas a três por dia, por uns 10 a 12 dias pra induzir. Logo eu que morria de medo de agulha, tinha que me perfurar todos os dias”, destaca a jovem.
Mesmo muito nervosa, Daiane fez a indução. Foi para a sala de cirurgia coletar os óvulos, um procedimento tranquilo. Após acordar da anestesia, a médica mandou o casal ir pra casa e esperar pra saber quantos iriam fertilizar. No dia seguinte, uma triste notícia: nenhum embrião teria fertilizado. “Lembro de ver meu chão abrindo e a dor me consumindo ali mesmo. Meu marido se entregou, nunca tinha visto ele assim, que sofrimento! Voltamos no mesmo dia para Florianópolis. Lembro que foram cinco horas de viagem em total silêncio, única coisa que ouvia era meu choro”, descreve Daiane.
Após isso, o casal realizou vários exames, procedimentos e nada. Alguns meses depois, uma nova clínica ligou falando sobre outra receptora. Lá foram eles, desta vez com destino a Curitiba (PR). “Todo procedimento novamente, injeções, ultrassom para indução, coleta de óvulos e a dor da espera até outro dia. Então o telefone tocou e eu só consegui ouvir alguém dizer: sinto muito. Meu marido pegou o telefone continuou a falar com o médico, não aguentava mais tanto sofrimento. No outro dia, o médico ligou e disse que um óvulo tinha fertilizado e tínhamos uma chance, mais que teríamos que ir para Curitiba naquele momento”, destaca Daiane, lembrando que foram três horas de viagem.
O embrião foi transferido e Daiane agora voltava para casa deitada, com uma felicidade e uma esperança que não cabiam no peito. As medicações começaram e três dias antes do exame de sangue para saber sobre a possível gravidez o casal não aguentou a ansiedade e fez um teste de farmácia. Para a alegria deles, o tão sonhado “resultado positivo” chegou. “Mas no dia seguinte comecei a ter sangramento, liguei para o médico, que mandou aumentar a dosagem da medicação e antecipou o exame de sangue. O sangramento só aumentava, foi quando fiz o exame e deu negativo”, relembra, com tristeza.
Então, uma terceira fertilização foi feita. “Coletamos e tivemos um embrião. Foi a maior felicidade. Tentamos mais uma quarta vez pra conseguir mais embriões e nada. Então começamos a pensar naquele embrião. Marcamos a transferência e viajamos para Porto Alegre, transferimos e voltamos”, relata Daiane, que após o procedimento ficou em completo repouso. Dias depois, o exame de sangue comprovava, ela estava grávida.
O casal começou o acompanhamento pré-natal e confirmou a gravidez. Com cinco semanas, o sangramento começou, a dosagem da medicação aumentou e com isso o casal gastava uma média de R$ 200 por semana só com medicações para manter a gravidez. Há algumas semanas atrás, com oito semanas e cinco dias, o casal fez o ultrassom, e naquela sala em que era para ouvir o som mais esperado por eles das batidas do coração do tão sonhado filho, eles ouviram a notícia mais triste que poderiam receber: o feto tinha parado de se desenvolver. “Meu mundo acabou. Não me lembro de mais nada que a médica disse naquele momento. Fui mandada para casa para ter um aborto espontâneo. Depois das dores físicas e emocionais, tive em casa o aborto e com isso a certeza de que acabou tudo”, desabafa Daiane, sem conseguir segurar as lágrimas. “Continuamos só nós dois, um segurando a dor do outro. Hoje estamos vivendo o luto e sem condições financeiras de continuar”, lamenta o casal, sobre a perda recente do bebê e a vontade de terem um filho.
Para angariar fundos para uma possível fertilização sem ter que doar seus óvulos, o casal resolveu fazer uma “vaquinha” online, onde pretende angariar o valor de R$ 20 mil e assim partir para mais uma tentativa de realizar o sonho de ter um filho.