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Transporte marítimo pode sair do papel

Cúpula do Executivo palhocense participou de viagem demonstrativa

cccc0252c2df33004e98bbe11f0ac822.jpg Foto: DIVULGAÇÃO

Uma comitiva de Palhoça participou da operação-teste do futuro sistema de transporte marítimo da Grande Florianópolis, na segunda-feira (12). O prefeito, Camilo Martins; o vice, Amaro Júnior; e o secretário municipal de Infraestrutura, Eduardo Freccia, atenderam ao convite da Secretaria Estadual da Infraestrutura e do Departamento de Transportes e Terminais (Deter) e fizeram a viagem de demonstração a bordo de uma embarcação do tipo catamarã, operada pela empresa BB Barcos, de Imbituba. A embarcação, com capacidade para 180 passageiros, é similar àquela projetada para o transporte marítimo de passageiros da Grande Florianópolis.

“O teste comprovou a eficácia do transporte marítimo na Grande Florianópolis. Há nove anos a licença ambiental estava parada. Depois de uma longa espera, avançamos na liberação do documento junto à Fatma. O transporte marítimo vai melhorar a mobilidade urbana e a qualidade de vida na Grande Florianópolis”, disse o secretário da Infraestrutura, Luiz Fernando Cardoso. “Com rapidez, segurança e conforto, o catamarã saiu do Veleiros da Ilha, em Florianópolis, passando pela Ponta de Baixo, em São José, indo até a Barra do Aririú. Tudo isso em apenas 19 minutos”, comenta o vice-prefeito de Palhoça, Amaro Júnior. O trajeto foi percorrido com velocidade média de 32 nós (equivalente a 60km/h). O catamarã também testou outras possíveis rotas nas baías Sul e Norte da Capital.

Depois de obter, no ano passado, a licença prévia da Fatma, o projeto de transporte alternativo foi enviado ao Serviço de Patrimônio da União (SPU), em Brasília, onde encontra-se em análise. A autorização do órgão federal é o documento que falta para o início efetivo das operações, que deve começar com um único trajeto, entre São José (Ponta de Baixo) e Florianópolis (Centro, próximo ao CentroSul). A expectativa é a de que essa primeira linha comece a funcionar a partir de agosto, ao preço de R$ 9 e com “foco” inicial na movimentação turística.

Depois, haveria uma ampliação de linhas (e quanto mais encorpado o sistema, maior é o volume de passageiros e os preços tendem a cair), com a inclusão de paradas em Palhoça e Biguaçu. O Executivo palhocense tem todo o interesse em participar do sistema. Camilo Martins se mostrou favorável ao transporte marítimo, com a integração dos municípios. “Uma ação conjunta baixaria os custos necessários para um investimento deste porte”, reflete. O prefeito acredita que uma força-tarefa do estado junto às prefeituras seria a solução mais viável. Camilo projeta a construção de trapiches na Praia do Sonho, na Enseada de Brito, na Praia de Fora, na Barra do Aririú e na Ponte do Imaruim, com recursos contratados junto ao Badesc. Além do trapiche, é preciso construir toda uma estrutura, com local para as pessoas aguardarem a chegada dos barcos, lanchonete e estacionamento. “Seria como uma ‘hidroviária’. A ideia é também fazer um sistema integrado ao transporte coletivo rodoviário”, observa Amaro.

 

Sistema integrado

Após o passeio na embarcação, os prefeitos da região se encontraram no gabinete da chefe do Executivo de São José, Adeliana Dal Pont, para a 1ª Reunião Ordinária do Colégio Superior da Região Metropolitana da Grande Florianópolis.

O objetivo era homologar a Minuta de Projeto de Lei Complementar Estadual sobre o Transporte Coletivo da Região Metropolitana da Grande Florianópolis (RMF). O projeto trata da viabilização e integração dos serviços de transporte coletivo intermunicipal com os sistemas de Palhoça, São José, Águas Mornas, Antônio Carlos, Biguaçu, Governador Celso Ramos, Santo Amaro da Imperatriz e São Pedro de Alcântara.

Com a aprovação dos municípios, o documento agora segue para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) para que o projeto de lei seja analisado e votado. A partir da aprovação da lei, será possível a celebração do convênio de cooperação entre o estado de Santa Catarina e os municípios da RMF que permitirá a integração do planejamento, da gestão e da execução dos serviços e infraestruturas de transporte público coletivo municipal e intermunicipal de caráter urbano da Região Metropolitana. 

 

“Nossos governantes não priorizam o transporte coletivo de passageiros”

Aproveitando a iniciativa em busca de uma maior mobilidade urbana na área metropolitana, o Palhocense buscou a opinião do professor da Unisul José Onildo Truppel Filho, especialista em Segurança no Trânsito, para avaliar o transporte coletivo na região.

Palavra Palhocense – O transporte marítimo entre Florianópolis e São José deve começar em breve. É a melhor alternativa para desafogar o trânsito na Região Metropolitana? Palhoça deveria entrar nesse sistema?
José Onildo Truppel Filho
– Espero que esta seja uma das alternativas e que Palhoça, em breve, faça parte desta integração. Muitos especialistas estão apontando para a necessidade de se analisar os custos deste tipo de transporte, o que nos parece uma realidade a ser ponderada, haja vista o possível valor das passagens a serem praticadas. Porém, tem que ser uma alternativa, pois nossos governantes não priorizam o transporte coletivo de passageiros e isso está fazendo com que nossas cidades fiquem, dia após dia, saturadas de veículos, inviabilizando cada vez mais o comércio de rua e a convivência das pessoas nas cidades.

Palavra Palhocense - Falando em transporte coletivo rodoviário, além da saturação de veículos, que o senhor mencionou, há outras variáveis que são frequentemente apontadas pelos empresários do setor como obstáculos para um bom serviço: o preço dos combustíveis (o que impacta no preço da tarifa, uma das reclamações dos usuários); má qualidade das estradas, cheias de buracos (o que acaba deixando os veículos em mau estado, outra reclamação dos usuários, e impacta em custos altos de manutenção); e claro que os engarrafamentos impactam diretamente no cumprimento dos horários. São justificativas válidas? O Poder Público deveria atuar também neste sentido, de garantir melhores condições para a operação do sistema?
José Onildo
– Todas as justificativas são válidas. Porém, temos que imaginar que o transporte coletivo urbano de passageiros é uma concessão da Prefeitura Municipal (quando ocorre somente dentro do município) e esta Prefeitura deveria colaborar com este transporte, no mínimo, bem conservando as vias por onde passam esses veículos, melhorando os acessos ou criando acessos exclusivos, o que não vemos atualmente nas administrações. Outro ponto importante para os usuários é a verificação dos valores cobrados de passagem e as condições dos veículos que fazem o transporte, também tarefa das Prefeituras, em primeiro plano. Mas é uma troca, o Poder Público não conserva as vias, que leva ao aumento das despesas de manutenção de frota e, para compensar, esse mesmo Poder Público não fiscaliza como deveria.

Palavra Palhocense - Como seria o sistema ideal de manutenção dos ônibus que fazem este tipo de transporte?
José Onildo
- Essa é uma pergunta difícil de responder, pois vemos, em muitos casos, o próprio usuário destruindo os veículos que amanhã terá que usar novamente. Mas, em resumo, um Poder Público atuante, cuja administração do transporte ocorra de maneira transparente, com planilhas de cálculos bem definidas, poderia ajudar em muito o controle dos valores das passagens.

Palavra Palhocense - Corredores exclusivos para ônibus nas vias principais, como a BR-101 e a Via Expressa, seriam uma alternativa ou uma necessidade?
José Onildo
- O transporte aqui discutido é urbano e, por isso, quem deve pensar e providenciar os corredores para ônibus são os administradores urbanos e não os rodoviários, como sugerido. Os corredores exclusivos ou mesmo os compartilhados são essenciais para que se tenha um transporte de qualidade, rápido e seguro, pois se o mesmo veículo puder fazer várias viagens num período de tempo, diminui-se o valor de manutenção, de mão de obra e da quantidade de veículos, por exemplo. Isso também permite baratear - e muito - o valor das passagens. Deixar um veículo, com motorista e cobrador, parado nos congestionamentos é um desperdício de dinheiro do usuário, é literalmente “queimar dinheiro”. 

Palavra Palhocense - Do jeito que funciona o sistema hoje, tem como atrair o usuário, convencendo as pessoas a deixar o carro em casa e usar o transporte coletivo? Como seria um sistema atraente para o usuário - e viável economicamente?
José Onildo
- O transporte coletivo de passageiros, para ser atrativo, tem que ser rápido (mais ou igual aos veículos individuais), seguro (tanto para evitar acidentes quanto para qualquer tipo de furtos ou roubos) e limpo, principalmente. Corredores de ônibus, pontos de parada e terminais bem articulados, acessando aos principais pontos da cidade, são imprescindíveis para um transporte coletivo de qualidade. Sem isso, nunca serão atrativos, serão sempre para as pessoas que não têm condições de utilizar outro tipo de transporte.  

Palavra Palhocense - Há esta movimentação para a formatação de um sistema integrado na Região Metropolitana, proposto pela Suderf. Os prefeitos reclamaram da formatação original e se articularam para apresentar uma contraproposta. O senhor conhece as bases desse sistema? A tendência é a de melhorar o trânsito com essa implantação?
José Onildo
- Infelizmente, não conheço a fundo o projeto desenvolvido pela Suderf. Nos parece que, novamente, estão tentando concentrar o trânsito sobre as já saturadas BR-101, BR-282 e SC-401, por exemplo, transformando o trânsito destas vias em algo cada vez mais urbano. Temos que lembrar que, neste tipo de transporte, o pedestre está muito presente (o que é o desejável), para poder chegar e sair dos ônibus, e acabarão por estar a compartilhar. Mas quem sabe seja esta a solução, já que os responsáveis pelos estudos devem ter desenvolvido várias hipóteses até apontar para esta solução. O curioso na reclamação dos prefeitos é que até hoje fizeram muito pouco (ou quase nada), apesar de todo o tempo que esteve com eles a possibilidade de ajustes e resolução dos problemas do transporte. É só observarmos há quanto tempo não temos qualquer mudança no modelo de transporte coletivo nas nossas cidades.



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