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“Toda pessoa pode aprender música”

No dia de reverência à colaboração feminina no desenvolvimento da sociedade, trazemos a história da regente Najla Santos

5ead8e5464bffb18fdd429316f5b613f.jpeg Foto: ARQUIVO PESSOAL

“Não deveria existir um Dia das Mulheres, porque devemos reverenciá-las todos os dias.” Quantas vezes não ouvimos esse argumento? É claro que o argumento faz todo o sentido; a data é um mero simbolismo. O Dia das Mulheres é um chamado. Somos chamados a refletir de uma forma mais profunda sobre o papel e a importância cotidiana das mulheres na construção de uma sociedade desenvolvida. Essa reflexão nos leva às homenagens, que estão espalhadas pelas páginas desta edição. Nesta página em especial, homenageamos uma palhocense cujo trabalho é música aos nossos ouvidos.

Najla Elisângela dos Santos iniciou sua vivência musical na infância, aproximadamente aos sete anos de idade. Seu pai, seu Valdir, foi seu primeiro professor! Repassando as notas musicais numa “folhinha” e de “ouvido”, Najla ensaiava os primeiros acordes em seu pequeno piano Hering. Só tocava, não cantava. Exigente, seu Valdir achava que a filha era desafinada - e durante muito tempo Najla realmente acreditou que não tinha voz para cantar. O tempo provaria o contrário.

Aos poucos, a habilidade musical foi se desenvolvendo. Najla começou a tocar em missas, celebrações de primeira eucaristia, casamentos e chegou a ser tecladista no conjunto musical Vozes do Sertão, no ano em que completara 14 anos. No ano seguinte, 1990, foi uma das primeiras alunas a se matricular na escola de música Toque Musical, de Luciana Weiss. Seu objetivo era ler partituras, pois até então só tocava de ouvido. De aluna, passou a professora e, de professora, se tornou proprietária da escola, que passou a se chamar “Tok Musical”. De 1993 até 2003, muitos alunos passaram pelos ensinamentos da professora Najla e sua equipe. Tendo em vista que já tinha uma grande paixão em ensinar, decidiu cursar Pedagogia, com habilitação em Orientação Educacional pela Universidade Federal de Santa Catarina, em 1996. 

Como a grande lição de um sábio é a compreensão socrática de que saber nunca é demais, Najla continuou estudando e se aperfeiçoando. Conheceu a Clave – Centro de Estudos Musicais, onde estudou canto. A parceria rendeu muitos frutos, como a possibilidade de fazer cursos fora do estado e se tornar também regente. Viajou para Londrina (PR), Curitiba (PR) e Rio de Janeiro (RJ), participando de vários festivais de música e estudando técnica vocal, canto popular, canto erudito, percepção musical, flauta doce, regência e canto coral. “A partir desses cursos, comecei a defender que toda pessoa pode aprender música e, consequentemente, cantar”, afirma. “Aprender música é uma área de conhecimento tão importante quanto as demais, que todos podem aprender. O dom e o talento fazem parte das características do ser humano, mas a partir do momento em que você deseja aprender algo, basta realmente querer e ter a oportunidade para tanto”, ensina.

Najla foi regente do Coral da Associação do Magistrados Catarinenses durante 10 anos (“Momentos inesquecíveis lembrados com muito amor”, relembra) e de vários outros corais: do Tribunal Regional do Trabalho, do Hospital de Caridade e dos Bancários em Florianópolis e o Bom Jesus de Nazaré, em Palhoça. Tendo em vista que seu “berço musical” foi na igreja, também passou a ensinar música litúrgica. Teve a oportunidade de coordenar e ser professora num projeto litúrgico-musical, o qual lhe trouxe muitos ensinamentos nesta área, chegando a cursar uma pós-graduação em Música Ritual na Faculdade de Campo Limpo Paulista, em 2014. Depois, ainda se especializou em Regência Coral com Capacitação em Docência numa pós-graduação no Centro Universitário Adventista de São Paulo (2010). “Com esta pós, compreendi que meu universo musical precisava ser ampliado, pois estar num mundo acadêmico me agradava demais, e a paixão por ensinar música só aumentava”, recorda.

Aumentava a ponto de buscar um mestrado em Educação Musical, na Universidade do Estado de Santa Catarina. Com a titulação, prestou concurso para professor colaborador na Faculdade Municipal de Palhoça (FMP), onde iniciou a disciplina de Canto e Música para a Maturidade – Programa de Extensão e o Coral da FMP. “O grupo da Maturidade é composto por pessoas acima de 50 anos, muitos deles chegaram nas aulas de música com o sonho de cantar mas se ‘achavam sem dom’, da mesma forma os cantores do coral. Hoje, cantam, participam de encontros de corais e compartilham uma experiência musical que ultrapassa os muros da faculdade. A experiência com os pedagogos, em favorecer o acesso ao conhecimento musical, através da disciplina de Educação Musical, proporcionou desenvolver habilidades nestes estudantes para que também possam criar experiências musicais com seus alunos nas escolas”, reflete.

E quando o assunto é o “empoderamento” feminino na sociedade moderna, a regente sustenta: “O empoderamento da mulher começa quando desde pequena a menina é educada de forma a entender seus direitos de igualdade em relação a suas escolhas em ser e fazer determinadas ações. Empoderar é se permitir, é poder ser, é fazer escolhas”. Najla avalia que a mulher ainda luta para conquistar espaços que a sociedade determinou como sendo “exclusivamente dos homens”. “O direito de escolher a sua profissão, por exemplo, deve considerar as suas habilidades, e não de acordo com o que a sociedade oferece como ‘isso é função de mulher’. Quando iniciei minha carreira musical, muitas vezes ouvi que seria mais ‘econômico’ ficar em casa cuidando do meu filho do que ir trabalhar, do que estudar e me aperfeiçoar. Enquanto tocava teclado no conjunto com meu pai, havia todo um cuidado, uma super proteção, pois era perigoso uma menina estar no meio de tantos homens. Quando iniciei os estudos de regência, as classes eram sempre compostas, em sua maioria, por homens. Ainda hoje, nos encontros de corais, percebo que o número de mulheres regendo é bem menor do que o de homens. Neste dia dedicado à mulher, desejo que as mulheres se fortaleçam ainda mais, que tenham seus direitos garantidos, que tenham autonomia, igualdade de oportunidades, e acima de tudo sejam respeitadas”, conclui.

 



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