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Super Mães

Na época em que somos aconselhados a ficar em casa para evitar o contágio pelo novo coronavírus, elas correm riscos para salvar vidas

62d7bb87466480631911b1d7c88314f9.jpeg Foto: ARQUIVO PESSOAL

Se “amor de mãe” é diferente, nosso amor pelas mães também é. Não é por acaso que o Dia das Mães é uma das datas mais emotivas do nosso calendário. Neste surreal ano de 2020, em que uma pandemia desafia nossa resiliência, a celebração da maternidade vai ter os contornos do distanciamento social. Feliz de quem consegue aproveitar a data em família e em segurança! Segurança: um conceito, um contexto, um sentimento que sempre esteve presente na relação entre mães e filhos, na proteção do colo ou na sabedoria das palavras, e que ganha uma nova dimensão diante da ameaça do novo coronavírus. Por isso, o jornal Palhocense escolheu contar as histórias de quatro “super mães”, que deixam seus lares para exercer as responsabilidades da profissão que escolheram, como uma forma de homenagem a todas as mamães palhocenses neste domingo (10). 

 

Elizangela, mãe da Maria Luiza

Moradora do Passa Vinte, a técnica de Enfermagem Elizangela Coelho, de 39 anos, trabalha como socorrista no Samu de Palhoça desde 2005. Já são 15 anos de atividades; os últimos quatro anos e meio foram vividos na companhia da filha, Maria Luiza.

A rotina de trabalho já é delicada naturalmente, mas em época de pandemia, acaba se transformando em uma atividade de risco ainda maior. “Peço todos os dias que Deus nos proteja e nos guarde (todos, da Saúde ou não, que estão dentro de hospitais, unidades de pronto atendimento, unidades de básicas de saúde, transportes). Que sigamos firmes e fortes, porque isso vai passar e vamos vencer essa pandemia. Juntos, somos fortes, e com empatia, ganharemos fácil”, reflete.

A profissional define empatia como “a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela”. “Eu, como profissional de Saúde, me coloco sempre à disposição das pessoas em ajudar e acalentar angústias e amenizar suas dores. Amo muito o que faço, e não troco nada pela minha profissão”, acrescenta a socorrista, que faz turnos noturnos de 12 horas, das 19h às 7h.

Ela comenta que o trabalho mudou bastante em função da pandemia e diz que os profissionais têm usado todo o equipamento de proteção individual (EPI) recomendado. “Em tempos de pandemia, a gente está passando por situações que a gente nunca imaginou passar, tanto para o profissional da Saúde quanto para o leigo. Aumentou todo o cuidado no manuseio das coisas, cuidado com a gente e com as pessoas, porque é importante os dois estarem se cuidando”, destaca.

Mesmo diante dos riscos da profissão e da ameaça do novo coronavírus, Elizangela diz que não tem medo da Covid-19. “Medo eu não tenho, só tenho receio de que isso demore muito a acabar, com aumento de desemprego, fome, é disso que eu tenho medo”, revela.

Quando não está trabalhando, a técnica em Enfermagem passa seu tempo com a filha Maria Luiza. “Amo muito, é minha paixão”, derrete-se. “Ela é muito inteligente. Sabe que tem que lavar as mãozinhas antes de sair de casa, tem ciência de que tem que usar a máscara, sabe que tem um vírus que faz dodói nas pessoas mais velhas, nas pessoas que têm risco de doenças. E com ela, o cuidado redobrou”, observa Elizangela, que também trabalha no Hospital Regional, em São José.

 

Maria Elisa, mãe do Heitor

Maria Elisa Esser Koppel, de 30 anos, sempre morou em Santo Amaro da Imperatriz. Há sete anos, entrou para o Corpo de Bombeiros Militar, e nos últimos três anos, integra os quadros do quartel de Palhoça. Atualmente, atua na função de operadora e condutora da viatura ABTR, o caminhão de incêndio e resgate dos Bombeiros.

Em sua atuação profissional, a bombeira destaca situações de risco, como os incêndios na loja Koerich, em São José, em dezembro de 2016; e do Camelão, em Palhoça, em maio do ano passado.

Elisa reflete que o risco oferecido pelo trabalho que exerce aumentou em meio à pandemia do novo coronavírus. “Mesmo tomando todos os cuidados, a gente se arrisca, assim como outros trabalhadores, por estar na rua”, pondera. “Sinto medo da Covid, mas não é em relação a mim, e sim em levar essa doença para dentro de casa e minha família. Porém, estamos sempre fazendo nosso melhor e redobrando cuidados com higiene e uso de EPIs”, acrescenta.

Mãe do Heitor, de quatro anos, Elisa relata que já explicou ao filho, de uma maneira lúdica, e ao mesmo tempo séria, sobre o que está acontecendo no mundo diante da pandemia da Covid-19. “Ele tem todo cuidado e noção, já entende. Principalmente quando eu chego em casa do trabalho, ele sabe que só pode abraçar e beijar depois que eu tomo banho e troco a roupa, evitando, assim, uma contaminação”, narra a profissional, que neste ano, não vai poder passar o Dia das Mães todo com o Heitor. Elisa estará trabalhando no domingo (10). “Já aconteceu outras vezes, o Heitor entende, vamos ter que comemorar antecipado”, resigna-se. 

 

Patricia, mãe do Leonardo e do Eduardo

Nascida em Criciúma, Patricia Martins Biff Beduschi, de 35 anos, é primeiro-tenente médica da Polícia Militar, lotada no 16º Batalhão, em Palhoça, desde 2015. Formada em Medicina pela Ufsc em 2007, entrou para a PM como oficial médica em 2014.

No 16º Batalhão, atende policiais e bombeiros da cidade e toda a região. “Já sou palhocense de coração, adoro essa cidade, que me acolheu, trabalhando em uma corporação que muito tenho orgulho, e numa cidade que fiz grandes amigos”, diz Patricia, que tem residência médica e pós-graduação em Oftalmologia e Medicina do Trabalho, áreas em que atua na PM.

A rotina, até a chegada da pandemia, era como a da maioria das famílias: trabalho durante o dia e revezando com o marido para buscar e levar os filhos à escola. Não trabalha em emergências, mas continua prestando todos os atendimentos necessários aos militares, bem como dando um suporte aos policiais em casos confirmados e suspeitos de Covid-19. “Meu marido também é médico, infectologista, então nossa rotina em casa mudou drasticamente nos últimos dois meses. Em relação ao meu trabalho, não mudou muito, mas mudamos e adaptamos os atendimentos à nova realidade”, relata a médica.

Patricia garante que não tem medo da Covid-19, mas tem muito respeito pela doença que paralisou o mundo. “É uma nova doença, um novo vírus, que pouco se conhece, que mostrou ser agressivo em alguns grupos em especial, então, todos devemos tomar os devidos cuidados para que a sociedade consiga passar por esse momento delicado, com o menor número de doentes possível, bem como todo o resto, tentando preservar a saúde mental e também a saúde econômica do povo”, reflete.

Mãe do Leonardo, de três anos e meio, e do Eduardo, de oito meses, a médica diz que os filhos não têm tanta dimensão do que é essa pandemia, pois ainda são muito jovens. “Mas o Leonardo já fala do coronavírus, aceita usar máscaras, sabe que não tem ido à escola por conta disso”, descreve. Patricia conta que ela e o marido, que atende diariamente casos graves de Covid-19, optaram por tentar levar esse período “de maneira mais leve”, e manter a união da família, com os devidos cuidados. Ao voltar do trabalho, roupa na máquina, cuidados com pertences e banho. E depois, aí sim: muito carinho, beijos, abraços e brincadeiras com as crianças. 

O Dia das Mães geralmente é passado com a mãe ou a sogra (ambas moram em outras cidades). Neste ano, será diferente. “Trabalharei no fim de semana, estarei longe delas, mas estarei junto dos meus filhos e marido. Um dia diferente, por conta das circunstâncias, mas também será certamente muito especial”, projeta.

 

Bianca, futura mamãe

Bianca Maria de Lima, de 34 anos, nasceu em Florianópolis, mas mora em Palhoça há 30 anos – primeiro, no Jardim Eldorado, e atualmente, no Aririú. É soldado da PM desde outubro de 2013, e desde 2015 atua no 16° Batalhão.

Durante esses quase cinco anos servindo à sociedade palhocense, passou dois anos na guarnição de blitz e há três anos vinha atuando como patrulheira na viatura de área, atuando no atendimento das mais diversas ocorrências, desde as mais arriscadas até as mais corriqueiras. “Já enfrentei situações como disparo de arma de fogo contra a minha guarnição, ocorrência em que até o mais bem preparado e corajoso soldado teme por sua vida e a vida de seus companheiros”, relata.

Mas as ocorrências que mais marcaram foram as violências contra a mulher: um estupro de vulnerável no Passa Vinte, em 2019, em que o padrasto violentou a enteada, de seis meses de idade; e uma tentativa de feminicídio ocorrida também no ano passado, no Brejaru.

Desde janeiro de 2020, Bianca exerce função em uma sessão administrativa no 16° Batalhão, pois descobriu que está grávida do seu primeiro filho. E no meio da adaptação à nova função, surgiu o afastamento do trabalho presencial devido à pandemia do coronavírus. “Desde então, tenho desempenhado minhas funções em home office e em isolamento total”, relata. Todo cuidado é pouco com a saúde do filho que vai nascer. “Eu e meu esposo, que também é policial aqui no 16° BPM, e está na linha de frente, redobramos os cuidados no manuseio de tudo que vem da rua, desde os calçados até as sacolas de supermercado”, detalha.

O primeiro Dia das Mães não será exatamente como imaginou, mas agradece por dois grandes presentes antecipados: o primeiro, a dádiva de ser mãe; e o segundo, a notícia de que sua mãe, que trabalha da área da Saúde e foi infectada pelo coronavírus no dia 14 de abril, está curada. “Vivemos dias difíceis, porém, na esperança de dias melhores, cada um fazendo a sua parte, pois juntos somos mais fortes. Um feliz Dia das Mães a todas essas mulheres guerreiras e valorosas”, deseja.

 

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