Texto: Isonyane Iris
Com o tema “A diversidade como princípio formativo educacional”, a Escola de Educação Básica Irmã Maria Teresa, na Ponte do Imaruim, promoveu, em maio, a Semana da Diversidade. A atividade acabou dividindo opiniões entre pais e alunos e ainda hoje, meses depois, ainda desperta questionamentos. Afinal, qual é a melhor forma de tratar do assunto com crianças e adolescentes?
Alguns estudantes não teriam concordado com a forma com que a atividade foi realizada na escola e acabaram sendo tachados de homofóbicos. Diante disso, alguns pais ficaram preocupados com o verdadeiro sentido da atividade, que na opinião deles, deveria ser para levar respeito entre as pessoas, e não uma apologia ao movimento LGBTQ+. Um dos professores organizadores da atividade garantiu que apenas dois alunos não se sentiram confortáveis e foram liberados, sem serem prejudicados.
Para algumas famílias, a atividade teria perdido o objetivo quando teriam “obrigado” os alunos a participar do conteúdo programado e a aceitar tudo que estava sendo apresentado. “Ele nos contou que ao dar sua opinião, junto com outros alunos, sobre não estar de acordo com a forma com que o evento estava sendo conduzido, foram chamados de homofóbicos. Ele nos disse que simplesmente não estava de acordo com a forma com que estavam fazendo o evento: impondo aos alunos que assistissem às palestras, apresentações teatrais, não deixando que cada um escolhesse se queria ou não participar”, descreve a tia de um aluno. “É contraditório eles pregarem o respeito à comunidade LGBTQ+ e depois não respeitarem nossa opinião. Sou evangélica, sigo a Bíblia e não concordo com muitas coisas que foram apresentadas na escola, que ferem meus princípios. Mas em nenhum momento me respeitaram, pelo contrário, me obrigaram a participar de uma atividade que foi completamente contra as minhas crenças”, reclama uma aluna que participou de todas as atividades.
Pais e alunos concordam que palestras de respeito ao movimento LGBTQ+ devem ser aplicadas nas escolas, mas destacam que são contra as atividades que façam apologia à diversidade sexual. “Bem triste essa situação, pois a escola sendo um ambiente de desenvolvimento educacional do jovem está se tornando um lugar de opressão por parte daqueles que sempre se julgam oprimidos. Direito é uma coisa, privilégio é outra. Não tem como se lutar por algum direito oprimindo e constrangendo o outro e fazendo-o se sentir um criminoso por emitir sua opinião. A escola precisa ser um ambiente saudável e não um ambiente de caos que estamos vendo nesses eventos. Vemos dentro de instituições o apoio desse tipo de caos entre pessoas, que ao invés de desenvolver o respeito pelo próximo, isso tudo contribui para colocar uns contra os outros, parece uma incitação ao ódio de forma planejada”, reclama uma mãe de aluno.
Segundo os organizadores do projeto, a proposta “A educação transforma - por uma escola sem LGBTfobias” seria de reflexão prática a estudantes do Ensino Médio com o objetivo de conscientizar toda a comunidade escolar a pensar sobre as questões de preconceito e discriminação relacionadas ao sexo, raça, gênero, entre outras. O objetivo principal da atividade seria de conscientizar, sensibilizar e informar alunos, professores, funcionários, mães e pais sobre a necessidade urgente do trabalho com questões de gênero e diversidade na escola, contribuindo, desse modo, com a formação humana integral. “A Semana da Diversidade, pra mim, foi sobre um assunto de extrema importância, pelo fato de que no Ensino Médio, nós adolescentes entramos em contato com uma quantidade muito grande de diferenças entre cada um de nós, e a semana abordou o respeito a essas diferenças, de formas artísticas ou com palestras e vivências; vimos pessoas do meio LGBTQ+, assim como eu, por exemplo”, elogia o aluno Alex Willian da Silva, destacando ainda que em um país e região onde há tanta intolerância, um colégio que é referência em Palhoça fazer uma semana tão ousada e tão importante é algo necessário e admirável. “A semana pregou o respeito às diferenças e a empatia entre os alunos, foi incrível”, elogia o aluno.
“Toda temática que usamos entra em consonância com todas as legislações normativas no Brasil. Desde a Constituição, a liberdade de pensamento, o respeito pela sexualidade até chegar à proposta curricular do estado de Santa Catarina de 2014, que enfatiza como princípio formativo o respeito e a tolerância e a diversidade. Então, toda atividade está pautada na legislação. Entendo que há um forte fundamentalismo religioso e de extremismo que provoca essa reação específica de pais que impedem seus filhos de falar sobre tolerância, respeito, igualdade e diversidade dentro da escola. Mas a gente precisa compreender que a escola é um lugar de democracia, plural, onde todas as pessoas precisam ser tratadas igualmente com respeito e dignidade, para que possam ter acesso e permanecer nesse ambiente”, explicou um dos professores organizadores do projeto e palestrante, Robson Ferreira Fernandes.
O professor informou ainda que houve aula normal durante a Semana da Diversidade. “Em alguns momentos, os alunos foram convidados a participar de algumas palestras e atividades culturais a respeito dessas temáticas, então, todos os alunos participaram de forma direta ou indireta das atividades. Durante a semana, somente dois pais foram até a escola para entenderem a proposta do projeto e os alunos não foram até a direção para criticar ou não participar da semana. Um dos professores organizadores da atividade garantiu que os alunos que não se sentiram confortáveis foram liberados sem serem prejudicados, e que no caso teriam sido apenas dois estudantes. Apenas dois pais procuraram a escola para retirar seus filhos das atividades, mas eles também não foram punidos por conta da ausência nesses debates”, destacou o professor Robson. “Em nenhum momento o planejamento foi de apologia, nós criamos essa Semana da Diversidade para pensarmos sobre as questões voltadas aos assuntos pertinentes do ambiente escolar e contemporâneos. Não é para educar e doutrinar as pessoas a serem gays, lésbicas ou trans. Nada disso. Até porque a educação sexual provoca essa ideia de respeito, tolerância e também de igualdade entre os gêneros. Isso faz parte da educação sexual e não aquilo que o senso comum trata como conceito de destruir os berços das famílias consideradas tradicionais brasileiras e de nenhuma forma de tirar o filho da educação familiar. Tratando dessas questões, nós estamos fazendo com que um próximo futuro venha a ser melhor do que hoje”, acredita Robson.
Quanto à questão sobre a importância do evento, Lauro Lostada, assistente técnico-pedagógico da escola, confirmou que o debate ocasionado pela Semana da Diversidade teve uma importância muito grande no espaço da instituição. “Primeiro, por dar visibilidade a um grupo oprimido, que sofre no silêncio, às vezes sem poder se expressar, gerando situações muito mais sérias, com casos de depressão ou até suicídio. Também foi um espaço importante para o desenvolvimento da empatia, cuja essência é fundamental ao desenvolvimento da diversidade. O evento mobilizou muitos dos estudantes para a construção de um debate criativo, seja através de cartazes, dramatizações teatrais, palestras, debates, sobre a importância do reconhecimento da individualidade e do respeito. Por último, todas as críticas às ações realizadas acabaram também por tencionar a comunidade escolar a um debate que, dadas as devidas proporções, é fundamental para que se realize um projeto democrático de valorização dos sujeitos”, acredita.
A equipe diretiva da escola explica que a Semana da Diversidade já estava prevista no calendário desde o início do ano, e tem por objetivo trabalhar o respeito, a ética e a cidadania entre os jovens. “É importante esclarecer que, em nenhum momento, algum assunto foi trabalhado de forma pejorativa. A Secretaria de Estado da Educação esclarece ainda que questões sobre respeito, diversidade e cidadania estão previstas na Proposta Curricular de Santa Catarina, embasada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 e aprovada pelo Conselho Estadual de Educação”, explicou, em nota.
Opinião de especialista
Segundo a neuropsicopedagoga Letícia Mello, a melhor forma de abordar esse assunto dentro do ambiente escolar é com as famílias conscientes do que está sendo trabalhado. “A escola e a família devem ser sempre parceiras, visando ao bem-estar e desenvolvimento dos educandos. Uma ação educativa por meio de palestras, roda de conversa, oficinas com os alunos, e até envolvendo as famílias, é algo que conscientiza, trabalha a questão do respeito e nos torna seres humanos mais conscientes de nossas ações. A informação e o diálogo são os melhores aliados para uma educação consciente. Portanto, ao abordar a semana da diversidade com o objetivo de combater o bullying e tornar os alunos conscientes, toda a comunidade escolar deve estar ciente, evitando assim constrangimentos para qualquer cidadão”, aconselha a neuropsicopedagoga.