A palavra “semear” costuma ser usada tanto no sentido literal (o do plantio na terra) quanto no sentido figurado (o de disseminar uma ideia, por exemplo). E quando ambos os sentidos se fundem em um conceito de conscientização ambiental, a própria natureza agradece. Em Palhoça, duas iniciativas recentes mostraram o poder da mobilização dos palhocenses em torno da preservação do meio ambiente; não por acaso, a palavra “semear” está no foco das instituições envolvidas.
Na manhã de sábado (17), um grande mutirão de limpeza e revitalização foi promovido no Caminho Novo por voluntários da organização não-governamental (ONG) Semear Amor. O mutirão foi a primeira etapa de um novo projeto da ONG para a comunidade, o “Meu Bairro Cidadão”. O projeto, coordenado pelo voluntário Alamir Inácio, têm como objetivo limpar, revitalizar e tornar útil para a comunidade o canteiro principal entre as ruas João Duarte Raimundo e Santos Girardi.
Durante a mobilização, os voluntários recolheram centenas de quilos de resíduos na área alcançada. Dois voluntários usaram roçadeiras para tirar o mato crescido. Um coletor de entulhos foi usado para retirar móveis e entulhos descartados na área de forma irregular. Foi também realizada uma campanha de conscientização com os moradores que passaram no local e distribuídas mudas nativas para plantio.
ONG Semear Amor
Oficialmente, a ONG Semear Amor realiza um trabalho social na cidade há seis anos, mas o “pontapé inicial” foi ainda em 2008, com as primeiras ações. Em 2012, foi oficializada a formação da ONG, que na época se chamava Associação Paz em Cristo. “Desde então, trabalhamos muito em cima de alguns projetos sociais e fizemos muitos eventos humildes para arrecadação de fundos, como cafés coloniais, lanchonetes, almoços, rifas, pedágios, entre outras ações. Nunca tivemos ajuda para executar nosso trabalho da parte do poder público, mesmo sendo reconhecidos como organização de utilidade pública municipal através da Câmara e estadual através da Assembleia”, relata o presidente da ONG Semear Amor, Tiago João Vargas.
A ONG passou mais de um ano sem uma sede, porque não havia recursos suficientes para manter o espaço locado no bairro. No próximo mês, a instituição vai se estabelecer em um novo endereço, o que vai ajudar a manter ativa a chama do voluntariado.
Um dos projetos mantidos pela ONG é o Pão e Vida, que já assistiu centenas de pessoas em situação de rua. No projeto, pessoas em situação de rua são assistidas com alimentação nutritiva, atendimento básico de saúde e encaminhamento para comunidades terapêuticas parceiras. “Através deste projeto, temos vivenciado situações marcantes, como o dia em que atendemos um morador de rua idoso com parada cardíaca e algumas outras histórias de pessoas que tivemos êxito em tirar das ruas”, explica Tiago.
Troca de sementes
No dia 10, uma semana antes da iniciativa no Caminho Novo, a Unisul recebeu, na Pedra Branca, uma ação de troca de sementes vinculada ao Projeto Semear Conhecimentos, que surgiu em 2005 das mãos da idealizadora Daniela Pastana Cuevas. A iniciativa incentiva a conservação da biodiversidade, a disseminação das florestas e a educação ambiental, a partir de troca de sementes e mudas de plantas entre pessoas.
Esta foi uma das ações envolvidas no evento na Unisul, que reuniu, junto ao horto do curso de Naturologia, diferentes projetos internos, como o Revitalizando Culturas e o programa de Direitos Humanos. O dia começou com uma meditação guiada com flauta. Depois, vieram palestras, oficinas, apresentações musicais e a troca e doação de sementes. Várias pessoas levaram sementes e mudas e foram trocando durante o evento.
Os participantes também fizeram uma composteira no horto. “Levamos toda a conscientização ambiental para isso, nosso papel de reciclar, de separar, que quase tudo pode virar adubo, então foi muito legal, foi bem produtivo”, afirma a aluna da Naturologia Ana Paula Godoy, uma das organizadoras do evento. “O objetivo foi o de reunir pessoas que gostassem desse assunto e tivessem esse objetivo de fortalecer esse movimento de trocar sementes de plantas nativas ou sementes comuns. Essa troca é interessante, porque esse banco de sementes vai se multiplicando. O Projeto Semear trabalha com vários tipos de sementes, inclusive sementes crioulas, e eles levaram lá e fizeram as trocas e agora vão fazer o acompanhamento dessas pessoas que levaram as sementes”, explica Ana Paula.
A universitária conta que tem a intenção de construir uma proposta de educação ambiental, começando pela universidade, levando a conscientização para o ambiente acadêmico e por isso está escrevendo um projeto que envolve reciclagem, o Re-Ciclo. “Eu sou de Curitiba, e lá tem uma visão muito clara e muito ampla sobre reciclagem e essa questão de resíduos orgânicos. Mesmo que ainda não esteja no padrão ideal, tenho algumas noções interessantes que eu gostaria de trazer para a universidade e é isso que eu estou fazendo”, detalha. “De pouquinho em pouquinho, a gente vai aumentando essa percepção de consciência em nós e ao nosso redor”, acrescenta.
Em setembro, no início da primavera, a Unisul já havia promovido outro evento com troca de sementes, o “Penso, Logo Reciclo”, com a participação de indígenas, que levaram sementes para serem distribuídas. “Foi uma troca muito bonita. Até a cacique falou que quando você pega uma semente dessas, você tem uma responsabilidade de plantar, de cuidar dela, dos frutos dela, e assim passar adiante para outras pessoas”, relembra Ana Paula.
A ideia é fazer com que o movimento aconteça regularmente, com eventos, oficinas e palestras, e quem sabe entre definitivamente para o calendário da universidade. O próximo deve ser realizado em julho de 2019.