O governo do estado liberou o funcionamento de estabelecimentos da cadeia produtiva automotiva, náutica, de implementos agrícolas e lavanderias a partir desta quarta-feira (8). Na semana passada, já havia sido liberado o setor da construção civil. Na segunda-feira (6), veio a liberação para o trabalho de profissionais liberais e autônomos. Outros setores do comércio ainda aguardam a liberação, o que não vai acontecer antes de domingo (12), quando encerra a mais recente prorrogação da quarentena decretada pelo governador Carlos Moisés no dia 17 de março, como forma de promover um distanciamento social e, assim, evitar um pico descontrolado da proliferação do novo coronavírus (Covid-19) em solo catarinense.
As liberações “a conta-gotas” fazem parte das ações para garantir o convívio responsável nesta época de pandemia, à medida em que o estado vai fortalecendo o sistema público de saúde para receber futuros infectados. Essa retomada gradual das atividades econômicas vem acompanhada de recomendações aos empresários, para que adotem normas de higiene e procurem evitar aglomerações.
Construção civil
Na última quarta-feira (1), o governador Carlos Moisés já havia autorizado a retomada do ciclo produtivo da construção civil. Com a medida, lojas de material de construção e comércios no ramo de ferragens, cimento, tintas, vernizes e outros passaram a abrir com atendimento presencial, mediante algumas regras de segurança para prevenção do contágio do vírus.
Em Palhoça, no entanto, empresários do setor relatam dificuldades. O proprietário de uma loja de tintas na Ponte do Imaruim, por exemplo, admite que o movimento caiu com a pandemia, principalmente porque muita gente ainda está em isolamento. “Os meus maiores compradores são o pessoal de oficina, que está com pouco serviço, já que as lojas de revenda de carros estavam fechadas”, explica César de Freitas, da Vitória Tintas.
Em relação a obras com mais de cinco trabalhadores, a Portaria nº 214 prevê, entre as regras, que o regime de escala dos funcionários seja priorizado e que pessoas no grupo de risco sejam, prioritariamente, afastadas do serviço, sem prejuízo de salários. Ainda, orienta o afastamento de trabalhadores com febre ou sintomas respiratórios, e que os veículos para eventuais transportes de trabalhadores funcionem com ocupação limitada a 50%.
Profissionais liberais e autônomos
Com a publicação, na noite de domingo (5), de uma portaria que prevê a retomada do trabalho de profissionais autônomos em Santa Catarina, alguns serviços - como salão de beleza, advocacia, contabilidade e ótica - amanheceram, na segunda-feira (6), abertos em Palhoça. O desafio, no entanto, segue sendo adaptar os negócios aos tempos de pandemia, quando muitas pessoas ainda estão isoladas em casa.
Espaçamento de horários de clientes e reforço das medidas de higienização são algumas das regras que validam a volta dos atendimentos presenciais. Nos salões de beleza do município, a semana começou com abertura da agenda de clientes, mas como a medida veio em um domingo, os profissionais não tiveram tempo para fazer agendamentos. O movimento aumentou a partir desta terça-feira (7). “Estamos com a agenda bem boa, porém, nos preocupamos somente com as próximas semanas. Algumas clientes desmarcaram por falta de dinheiro”, lamenta a proprietária de um salão de beleza no Centro.
Serviços de barbearia também foram liberados. Um dos estabelecimentos do Centro do município começou a semana com bons números. “O movimento na segunda-feira normalmente é fraco, mas estamos com mais agendamentos do que o normal”, conta um dos barbeiros. Embora estejam atendendo apenas com hora marcada, o movimento em um espaço no Pagani também foi alto. Além disso, um dos profissionais assegura que as medidas de segurança, como o distanciamento de 1,5 metro e o uso de equipamentos de proteção individuais (EPIs), estão sendo seguidas: “Só fica dentro da barbearia os clientes em atendimento, e (é feita) a higienização de tudo, a cada cliente atendido”.
Já nas óticas analisadas pela equipe de reportagem, a segunda-feira foi de movimento bem abaixo do habitual. Entrando na lista de estabelecimentos com funcionamento permitido, lojas relatam que muitos consumidores estão com medo de sair de casa. Em uma das óticas centrais de Palhoça, o saldo de uma manhã foi de três clientes - todos para pagar prestações. Em uma unidade próxima, o movimento também foi pequeno. Mesmo assim, pensando em minimizar os riscos de contágio, a equipe está trabalhando em formato reduzido, com revezamento de atendentes por turno.
Os escritórios de contabilidade e advocacia de Palhoça não são unânimes quanto à volta dos serviços presenciais. Na Pedra Branca, por exemplo, um grupo de advogados decidiu manter o home office, modalidade que já acontecia desde março. Já um dos escritórios da Ponte do Imaruim aproveitou o decreto estadual para retomar os trabalhos presenciais. Embora todas as medidas de segurança estejam sendo tomadas, segundo os advogados, o atendimento presencial é essencial para uma boa conversa entre cliente e advogado. No estabelecimento, todas as recepções estão sendo individuais, levando em consideração o limite máximo de 50% da ocupação total do espaço, e o distanciamento de, pelo menos, 1,5 metro entre as pessoas.
Setor automotivo
E nesta quarta-feira (8), voltou à ativa a cadeia automotiva, náutica e de implementos agrícolas, que inclui estabelecimentos como oficinas mecânicas, autoelétricas, borracharias, comércio de veículos e autopeças, locação, despachantes, autoescolas, serviços de inspeção veicular e lavações. A liberação das lavanderias também se aplica a tinturarias e lavanderias de auto-serviço. "São setores em que havia necessidade de complementação da liberação, uma vez que o transporte de cargas, o delivery e o transporte individual de passageiros estão funcionando. Os carros, motocicletas e maquinário agrícola precisam desse respaldo para funcionar. A gente entende que complementa uma cadeia que já estava funcionando de fato", detalhou o governador, justificando a liberação, anunciada ainda na terça-feira (7).
O Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes) editou duas portarias, números 230 e 231, com as regras para a atuação segura desses segmentos, com o objetivo de prevenir o contágio por coronavírus. Entre as normas estabelecidas, estão a necessidade de um sistema de agendamento para a prestação do serviço sempre que cabível; distanciamento mínimo de 1,5 metro entre todas as pessoas presentes nos locais, como clientes e funcionários; disponibilização de álcool em gel 70%; e atendimento preferencial e especial a idosos, hipertensos, diabéticos e gestantes, garantindo um fluxo ágil de maneira que estas pessoas permaneçam o mínimo possível no estabelecimento.
A notícia foi recebida com alívio pelo setor em Palhoça. “Nós, da Globo Renault, estávamos muito ansiosos para esse momento de abertura das concessionarias novamente. Nós trabalhamos com realizações de sonhos, e estávamos sentindo muito falta disso para nosso negócio. Agora, voltamos com força total, esperando o cliente para fazer o melhor negócio, e sempre tomando todas as medidas necessárias para garantir total segurança dos nossos clientes e colaboradores”, comenta Gustavo Fritzen, gerente de Marketing da Globo Renault.
Longe do ideal
Para o vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Palhoça, Anderson Silveira Souza, ainda falta muita coisa para que a situação volte ao normal. “Mesmo que essas atividades tenham sido retomadas, ainda é muito baixa a movimentação de pessoas e consequentemente o volume de vendas. Não dá para mensurar se esse retorno gradativo realmente tem eficácia”, comenta o dirigente, que também é lojista. Anderson relata o caso de um empresário do ramo da construção civil que faturou apenas 6% de um dia normal assim que voltou a abrir as portas. “Acho que abrir as portas hoje é prejuízo, porque o mercado se retraiu, as pessoas não sabem o que vai acontecer daqui a 30 dias. É algo novo para nós e para os governantes e empresários do mundo inteiro”, reflete.
Anderson afirma que a CDL e a Associação Empresarial de Palhoça (Acip) procuraram as autoridades, logo no início da crise, para solicitar que a classe empresarial fosse ouvida na tomada de decisões, e diz que as duas entidades têm batalhado para arquitetar ações e articular a criação de medidas governamentais para aliviar a pressão sobre os ombros do empresariado.
Pressão que está gigantesca, principalmente para quem ainda não conseguiu abrir as portas. “A situação dos comerciantes está apavorante, as demissões são inevitáveis, só ontem foram duas na minha empresa e certo que vai ocorrer mais. Mesmo com o retorno ocorrendo na próxima semana, os prejuízos já são incalculáveis, vai levar tempo para o comerciante respirar, se conseguir passar essa fase sem decretar a falência já é lucro! Torcer para essa doença não se agravar e o governo liberar o quanto antes as atividades”, argumenta Ednesio Arthur Padilha, das Lojas Psycho, no setor de vestuário, um dos mais afetados pelas restrições de atividades econômicas. “Torcer para as medidas do governo saírem o quanto antes. A única esperança para o estrago não ser maior ainda. Claro que não deixa de ser uma dívida (eventuais empréstimos tomados junto a linhas de crédito oferecidas pelo governo, a juros baixos), mas, no momento, seria a única saída”, projeta o empresário.
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