Por: Willian Schütz
Uma operação policial ocorrida na noite da última quinta-feira (18), em que um jovem foi baleado por um PM, repercutiu entre a comunidade do Caminho Novo. Na tarde de sexta-feira (19), moradores foram às ruas para protestar. Eles só querem “menos violência”. Eles só pedem “paz”.
A manifestação começou por volta das 16h40. Cartazes com pedidos de paz foram erguidos. Apitos soaram e moradores locais gritaram, revoltados com o ocorrido.
Segundo participantes do protesto, o rapaz baleado era suspeito de ter envolvimento com o tráfico de drogas. No entanto, apesar das suspeitas, a maioria dos presentes no local descreveu o rapaz como um vendedor de salgados, que não representava ameaça à vizinhança. “Os guris daqui, eles têm as ‘coisas’ deles, mas nunca fizeram nenhum mal para nós. O bairro aqui é tranquilo, nunca tivemos esse tipo de violência. E de dia, ele vendia empadinha”, disse uma moça que participou do ato de protesto.
Não demorou muito para a população protestante interditar algumas vias, impedindo a passagem de veículos. Também não demorou para a polícia chegar.
Inicialmente, os policiais compareceram para evitar que a manifestação provocasse desordem. No entanto, as pessoas que residem nas proximidades do local onde o jovem fora baleado estavam “revoltadas com a polícia” - conforme dito por um dos entrevistados.
Com esse cenário, o que começou com uma manifestação, logo se transformou em uma cena caótica. Primeiro, alguns jovens atiraram pedras contra os agentes da Polícia Militar presentes. Gradualmente, mais ruas começaram a ser interditadas. Rojões, foguetes e bombas caseiras foram disparados com frequência entre as 18h e as 19h.
Em resposta, os policiais lançaram bombas de efeito moral diversas vezes. Também foram ouvidos tiros de borracha. Logo, chegaram agentes da força tática, que controlaram a situação.
Outros disparos também foram feitos, para o alto. No entanto, não foi possível identificar se eram de armas de fogo.
Já por volta das 19h20, populares atearam fogo em portas e móveis antigos descartados em um terreno baldio. A densa nuvem de fumaça foi um dos motivos para a situação ter se acalmado.
A movimentação seguiu intensa até por volta das 20h.
O fato que motivou a manifestação
No local da manifestação, a reportagem do jornal Palavra Palhocense encontrou um morador que relatou ser testemunha ocular do ocorrido na noite de quinta-feira (18). “Foi no telhado da minha casa”, alegou o homem.
A testemunha levou a equipe até o local da ocorrência. Quatro pessoas estavam na residência e todas contaram o que viram e ouviram.
Segundo os membros da família, era por volta de 22h30. A esposa do entrevistado estava deitada em sua cama, quando ouviu uma movimentação pelas redondezas, que soava como uma fuga.
Logo, a perseguição invadiu as casas daquela rua. O perseguidor e o perseguido logo chegaram ao telhado da casa da família entrevistada. Foi quando, segundo duas das pessoas presentes, o rapaz (que tinha por volta de 18 anos) gritou, desesperado: “Já parei, senhor”.
Entretanto, o policial disparou três vezes.
Dois dos tiros atravessaram o telhado e perfuraram as paredes da residência - sendo que um deles quase atingiu a moradora que estava deitada. A mulher ficou em estado de choque e, também assustados, o pai e o marido dela subiram ao telhado - a fim de conferir de perto o que se passava. Foram os dois moradores quem prestaram socorro ao adolescente.
Os familiares que tiveram a casa perfurada pelos disparos guardaram dois dos projéteis. “Meu filho, que é ‘especial’, ficou muito assustado. Minha filha quase foi atingida. É a primeira vez que uma coisa assim acontece aqui. Isso nunca foi desse jeito”, relatou o dono da residência.
Posição da PM
A equipe de reportagem entrou em contato com o comandante do 16º Batalhão de Polícia Militar, o tenente-coronel Rodrigo Dutra, para ouvir a posição da polícia.
Com relação à ocorrência, o comandante relatou que uma guarnição do batalhão estava realizando patrulhamento no Caminho Novo e foi agredida com disparos de arma de fogo por dois homens. Os policiais, então, revidaram as agressões, mas os suspeitos conseguiram fugir, pulando telhados e muros nas redondezas do local da abordagem.
“Minutos após, fomos informados da entrada de um masculino alvejado no hospital. Nosso pessoal voltou ao Caminho Novo e localizou estojos de munição deflagrados, drogas e um celular”, detalhou o tenente-coronel.
O comandante do batalhão garantiu que todos os fatos serão apurados através de um inquérito policial militar, que irá realizar perícias, colher provas e ouvir testemunhas para definir com maior precisão o que aconteceu durante a ação policial. “Qualquer versão agora será precipitada”, define Dutra.
* Sob a supervisão de Alexandre Bonfim