Exatos 10 anos depois de entregar sua dissertação de mestrado, Débora Regina Ouriques, professora da Faculdade Municipal de Palhoça (FMP), resolveu revisitar a obra. A releitura provocou inquietação. Da inquietação, brotou a vontade de adaptar o texto para uma versão impressa. A adaptação acaba de sair do forno: “Literatura e Experiência em Sartre e Merleau-Ponty”, com 140 páginas, foi impresso pela Conceito Editorial.
“Esta obra foi um desafio. Dei um tempo para publicar, e quando fez exatos 10 anos da minha dissertação, eu resolvi adaptar para fazer a edição impressa”, relata a professora. Débora é formada em Letras (Francês e Português) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde atualmente cursa o doutorado em Literatura. A mesma área que abordou no mestrado, também realizado na UFSC. Na dissertação, Débora analisa textos dos filósofos franceses Jean-Paul Sartre (“Que é a Literatura?”) e Maurice Merleau-Ponty (“A Prosa do Mundo”) que abordam o tema “literatura”. A obra é dividida em três partes: a teoria de Sartre, a teoria de Merleau-Ponty e a crítica.
O livro apresenta as noções de linguagem, de consciência, de liberdade e do engajamento da literatura, ressaltadas e discutidas à luz da filosofia sartreana. “A escolha pelos autores é por uma coisa muito louca, porque o Sartre, em particular, tem muito a ver com a minha identidade no papel de escritor engajado. Gosto de trabalhar com esta temática, então é um autor com quem eu me identifico muito”, conta a professora, que estuda as duas obras para fazer uma comparação de conceitos do que é “escrever”, do que é “ler”, do que é “engajamento”.
Ponty dizia que nem todo escritor precisa se engajar, que o livro tem vida própria, e quando a obra é finalizada, não pertence mais ao autor; é de livre domínio do mundo, entregue ao prazer do leitor. Sartre dizia que o escritor e o leitor têm que ter um compromisso com a obra; o leitor é livre para fazer o que quiser, mas quando opta por ler o texto, precisa se comprometer com esta escolha; para ele, escrever é um exercício de liberdade e o leitor vai dar a interpretação e desenvolver a crítica; o escritor convida o leitor a se engajar. “Se tu me perguntar o que eu penso, posso dizer que, pelo momento atual que a gente está vivendo, é muito difícil tu não te envolver, tu não te posicionar. Defendo que a gente não pode ter a crítica pela crítica: se tu estás disposto a entrar numa leitura, tu tens que te comprometer a isso, dependendo do papel social. Mas quem garante que a interpretação vai ser a mesma que a minha? O que eu quero com isso é que as pessoas leiam e reflitam”, argumenta a professora.
Débora avisa que está se posicionando como uma escritora engajada e justifica a decisão de publicar a dissertação neste momento em função dos rumos que tomou na carreira, com intenso envolvimento com a questão dos imigrantes no Brasil. “Não sou de levantar bandeira, rasgar sutiã, não, nada disso. O que eu almejo é construir leitores críticos”, destaca.
As últimas sentenças do livro destacam bem esse posicionamento: “Não há primado entre leitor e escritor. O texto é um universo, independente, único. Cabe ao escritor e o leitor optar ou não ser envolvido por ele, e a partir dele defrontarem com suas emoções, com suas experiências e interrogações, continuamente, em cada nova leitura”.