Quem passou pelo quartel do Corpo de Bombeiros Militar (CBM), na rua Coronel Bernardino Machado, na tarde da última sexta-feira (24), pôde dar uma espiada na emocionante solenidade de formatura do primeiro Curso de Formação de Bombeiros Comunitários de Palhoça (é a primeira turma com a nova nomenclatura; o curso, em si, já existia). A cerimônia também contou com a promoção de bombeiros e a entrega de medalhas.
O programa Bombeiro Comunitário tem por objetivo a formação de pessoas da comunidade para auxiliarem, de forma voluntária, as guarnições de serviço dos Bombeiros. Além disso, prepara pessoas da comunidade para um primeira resposta em caso de acidentes ou sinistros, disseminando uma política de prevenção.
Para se tornar um Bombeiro Comunitário, a pessoa deve passar por duas formações - curso Básico e Avançado de Atendimento a Emergências (CBAE e CAAE) e depois por um estágio operacional supervisionado. Os dois cursos somam carga horária de 340 horas/aula, e preveem aulas teóricas e práticas de primeiros socorros, noções de salvamento e prevenção de acidentes. Somente depois de formados, os bombeiros comunitários podem atuar como voluntários nas viaturas do CBM/SC, com base na Lei 9.608/98 (Lei do Voluntariado), auxiliando o efetivo militar. “Eles já tiram estágio nas nossas viaturas, já para irem aprendendo, que depois de formados eles vão realmente trabalhar”, informa o comandante da 2ª Companhia do 10° Batalhão de Bombeiros Militar, sediada em Palhoça, o capitão Marcelo Della Giustina. “Eles atuam nos auxiliando, mas pegam no pesado também”, acrescenta.
Os editais para ingresso nos cursos são oferecidos de acordo com a agenda de cada batalhão. Em todas as organizações de bombeiros militares há uma padronização de disciplinas e de carga horária que deve ser seguida; as aulas também são ministradas pelos bombeiros militares de cada cidade que oferece os cursos.
A atuação dos comunitários é voluntária, de acordo com o tempo disponível de cada pessoa para se dedicar à função. Apesar disso, um decreto prevê uma indenização aos bombeiros comunitários por dia atuado. O valor repassado é para custear despesas com transporte, alimentação e fardamento.
Quem tem o curso de formação no currículo também está capacitado para ser brigadista particular em empresas, festas e eventos. “Para o empresário, é muito importante contratar esses profissionais que trabalham conosco, porque além de trabalhar lá, eles vão ter a experiência a mais que é trabalhar aqui conosco”, aconselha o capitão.
Na formatura de sexta-feira (24), em Palhoça, 37 bombeiros comunitários se formaram. Um deles é a moradora do Furadinho Tamires da Rosa Rodrigues. Tamires conta que, primeiro, fez o CBAE, que tem duração de 40 horas, e por sugestão de um primo, o sargento Vilson, resolveu seguir em frente e fazer o Curso de Formação de Bombeiros Comunitários. “Sempre gostei de poder ajudar o próximo e trabalhar em equipe. Isso me cativa, me alegra e me faz ser melhor”, observa Tamires.
Ela conta que percorreu a longa jornada de 340 horas, entre aulas teóricas e práticas, “superando medos e obstáculos” e se “desafiando todos os dias” para se tornar bombeira comunitária. “Todos tivemos que abdicar do conforto de nossas famílias e amigos para poder ter mais conhecimento para ajudar o próximo. O curso nos trouxe treinamento em equipe, foi espetacular. Mesmo cada um tendo suas diferenças, na hora do trabalho, somos todos iguais, somos um só corpo! Pois o intuito sempre foi o mesmo, que é servir ao lema: ‘Vidas alheias e riqueza a salvar’”, conta a nova bombeira comunitária.
Um dos períodos mais difíceis do processo de formação foi o temido treinamento de resistência operacional (TRO). Foram quase 27 horas de provas no dia mais frio registrado no estado no ano, com média de 3°C e “sensação térmica quase indescritível”, passando por diversas provas e obstáculos de resistência, força e concentração. “O conforto veio através da união da equipe, com abraços, chá de limão, alho e cravo e não esquecendo da sopa especial e outras iguarias que ficarão guardadas para sempre em nossa memória. Como disse um instrutor: a dor será passageira, mas a honra será eterna", relata.
Depois de tanto trabalho, a cerimônia de formatura era um dos momentos mais aguardados por todos. “A formatura foi um sonho, pois estávamos todos esperando por isso. Foram oito ensaios, duas vezes na semana, à noite, para que saísse tudo perfeito. E tudo isso aconteceu devido à garra e à competência do nosso coordenador do curso, cabo Jeferson da Silva. Nós, formandos, damos, em homenagem a ele, o nome da turma. Também não poderia deixar de falar da minha colega BC Leonel, foram dois meses de muito empenho e dedicação para fazer essa formatura ser incrível. Somos gratas às empresas que nos ajudaram e às rifas que cada aluno vendeu, pois, sem isso, talvez não pudéssemos fazer nosso baile de formatura. Eu e Leonel passamos noites sem dormir, correndo atrás de tudo para fazer uma formatura inesquecível, pois foi o primeiro Curso de Formação de Bombeiros Comunitários de Palhoça. E como nosso grito de guerra diz, os BCs de Palhoça vieram fazer história", destaca.
Agora, Tamires espera vestir a farda e carregar o emblema respeitado do Corpo de Bombeiros, ajudando a equipe de militares e a comunidade, e aprendendo a cada plantão. “Trabalhar com cada guarnição nos inspira todos os dias, é gratificante. Pois cada um passa sua experiência e seu conhecimento, a cada dia uma experiência nova. Ajudar ao próximo não tem preço”, finaliza.