Por: Sofia Mayer*
A passagem do “ciclone bomba”, na última terça-feira (30), causou uma série de contratempos que seguem repercutindo em parte do município. Além da destruição causada pelas fortes rajadas de vento, que chegaram perto dos 100km/h em algumas localidades, muitos palhocenses questionaram a demora no restabelecimento da energia elétrica, que afetou pelo menos 1.500 unidades consumidoras de Palhoça. Manifestações foram verificadas em pontos do Madri, São Sebastião, Passagem do Maciambu e Frei Damião neste final de semana. Às 17h desta segunda-feira (6), 150 casas continuavam sem luz.
Após ficarem sem energia elétrica por cinco dias, cerca de 80 moradores e comerciantes do Madri organizaram um protesto e saíram às ruas, no domingo (5), pedindo agilidade nos trabalhos da Celesc, empresa responsável pelo serviço em Santa Catarina. De acordo com a comunidade, a falta de luz seguia afetando aproximadamente 50 famílias no final de semana, que estavam continuamente solicitando os serviços de reparo. “Após a manifestação, apareceu rapidinho com o novo transformador. Às vezes, temos que nos unir para que as coisas aconteçam”, relata um munícipe. Manifestantes contam que, em cerca de meia hora, a equipe apareceu para prestar os ajustes. “Foi uma manifestação pacífica, com apoio da Polícia Militar do município”, explica.
O popular afirma que a falta de luz prolongada também prejudicou o comércio local, que depende da energia para a realização dos serviços. Segundo a Celesc, o “ciclone bomba” provocou o maior dano da história na rede elétrica do estado, com mais de 1,5 milhão de imóveis sem luz.
Na Passagem do Maciambu, a situação foi parecida. A professora Jeruza Puppe, moradora do bairro, comenta que a luz só foi restabelecida na comunidade às 16h do domingo (5), após munícipes fecharem a via principal do bairro. “Aqui, o transformador queimou, só algumas casas tinham luz, outras estavam em meia fase. Mas aí, eu acho que foi na sexta feira (3) de manhã, faltou para todo mundo, e a gente não teve nenhuma posição”, conta. As manifestações começaram no sábado (5), mas foi só no dia seguinte, com o bloqueio da avenida, que a equipe da Celesc apareceu para resolver a situação.
Puppe conta que, desde a passagem do “ciclone bomba”, ela e a família viveram dias de drama e readaptação: “Banho era de caneco, e os alimentos mais perecíveis eu levei na geladeira de uma amiga”. Segundo a munícipe, três ruas próximas ficaram nessas condições. “Casas que têm crianças, bebês, idosos, gestantes, tudo isso. Aqui, a gente ainda tinha bateria com uma luz que meu marido improvisou, tinha dinheiro para vela, mas sei que outras famílias não tinham condição mesmo”, relata.
Outro morador revela que, para tomar banho, era necessário comprar água e esquentá-la no fogão: “Nossa água é de ponteira, precisa de motor, que precisa de luz”, explica Marcelo Luan. Ele lamenta ainda que, com a inatividade, todos os alimentos da geladeira estragaram: “Prejuízo enorme”.
Luan explica que falhas no sistema de energia elétrica são recorrentes na comunidade, principalmente durante a temporada de verão, quando a lotação das casas aumenta. Para ele, o ciclone apenas intensificou o cenário que já exigia melhorias: ”É uma luta da comunidade para que a Celesc melhore a qualidade da rede”.
O outro lado
Quem convive com profissionais que fazem a reparação das redes de energia também tem aproveitado para se manifestar. É o caso de uma leitora do Palhocense, que relata o cotidiano profissional do marido depois dos estragos provocados pelo vendaval: “Os funcionários são pessoas iguais a todos nós. Eles não estão descansando, estão virando dias para arrumar o estrago do ciclone”. Segundo ela, em certas ocorrências, os empregados são “cercados” enquanto realizam os serviços: “Só pode sair de lá se arrumar o que estragou”.
Embora não minimize o contratempo enfrentado pelos palhocenses, a leitora lembra que o estrago causado na cidade foi grande, e que, às vezes, chega a faltar material para as equipes. ”Eu sofro junto com todos. Vários familiares sem luz, meu marido chegando em casa exausto, trabalhando para trazer de volta um dos bens mais essenciais a todos”, completa.
Das 96.437 unidades consumidoras de Palhoça, 150 permaneciam sem energia no final da tarde desta segunda-feira, segundo dados oficiais levantados, em tempo real, pela Celesc. As ocorrências estão localizadas nos bairros Albardão, Alto Aririú, Morro do Gato, Passa Vinte e Praia de Fora.
Caos no Frei Damião
A luz na comunidade do Frei Damião também só voltou após protestos de moradores no final de semana. Mas, na região, o que tem preocupado mesmo são os estragos causados pelos fortes ventos da última terça-feira (30). “Foram praticamente 70 residências atingidas. Tivemos uma queda de árvore em cima de uma residência, e algumas ficaram totalmente destruídas. Telhados foram arrancados inteiros, foram arremessados em outras casas”, relata o presidente da Associação de Moradores do Frei Damião, Vladimir Borges Ribeiro. No momento, algumas famílias estão alojadas na escola do bairro.
Ele conta que a própria comunidade, com o apoio de instituições, mobilizou uma campanha para adquirir utensílios para a reconstrução da área. Pelo menos 20 colchões, 50 cobertores, agasalhos, móveis e materiais de construção foram arrecadados. “A gente correu atrás de parceiros para fazer esse trabalho, nenhum órgão público esteve na comunidade”, comenta o presidente.
A onda de destruição também chamou a atenção de instituições que já apoiavam o Frei Damião com distribuição de cestas básicas e produtos de higiene. É o caso do Fundo de Apoio às Famílias da Frei Damião, uma iniciativa do Grupo Pedra Branca, Associação de Moradores da Pedra Branca (AMO) e Associação Empresarial de Palhoça (Acip), em parceria com o Instituto Comunitário Grande Florianópolis (Icom). Com a passagem do “ciclone bomba”, a campanha #JuntosPelaFreiDamião, que ajudou 700 famílias em três meses, foi prorrogada para levantar materiais construção, a partir de repasse financeiro à Associação de Moradores da Frei Damião.
Além da associação, as outras cinco organizações que já recebiam apoio da campanha para a compra de alimentos terão a possibilidade de remanejar os recursos para comprar materiais para a reconstrução dos lares atingidos e destinar às famílias atendidas.
Novo ciclone
A expectativa de um novo ciclone, nesta terça (7) e quarta-feira (8), recolocam o município em alerta. De acordo com informações meteorológicas divulgadas pelas Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), no entanto, o fenômeno deve ser mais brando do que os ventos registrados na semana passada, com rajadas entre 50km/h e 60km/h. O mar ficará agitado e há possibilidade de ressaca.
Ainda de acordo com a empresa, que é vinculada ao governo do estado de Santa Catarina, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, o fenômeno é comum na região Sul do país, sobretudo no período de inverno.
A Defesa Civil tranquiliza a comunidade em relação aos efeitos do novo ciclone. “Ele não vai atingir aqui, é mais para o Oeste e o Rio Grande do Sul. Também é de menor intensidade”, informa o agente Julio Marcelino.
Questionada sobre o atual cenário do município, a Defesa Civil informou que estão trabalhando para a recuperação do território, e afirma que começou, na tarde desta segunda-feira (6), a entrega de telhas de fibrocimento (Brasilit) a munícipes comprovadamente afetados pelo vendaval.
* Sob a supervisão de Luciano Smanioto
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