Por: Sofia Mayer*
Há cerca de oito anos, o assoreamento do canal da Barra do Aririú vem trazendo desafios diários aos pescadores da região, que precisam atravessar o rio para chegar ao mar. Segundo a comunidade, o fenômeno tem se intensificado, desde o ano passado. Os trabalhadores precisam esperar a maré encher, no início da manhã, para conseguir sair com o barco; quando a pesca acaba, muitas vezes só conseguem retornar aos ranchos na madrugada, quando a maré volta a encher.
A gravidade do cenário chamou a atenção do vereador Luciano Pereira (Avante), que assinou uma indicação solicitando ao secretário de Maricultura, Pesca e Agricultura, Flávio Martins, a dragagem e limpeza de toda a extensão do rio Aririú. Em sessão da Câmara do dia 7 de julho, o vereador reforçou as manifestações e pediu que, ao menos, soluções paliativas sejam feitas “para que esses pescadores possam entrar e sair de seus ranchos para pescar, para tirar seu sustento”.
Como agosto é considerado um mês de maré baixa, uma solução cogitada para minimizar os prejuízos seria a compra de uma balsa para apoiar uma retroescavadeira, que faria um canal em frente ao rancho, facilitando a entrada e saída dos barcos. “A máquina, a Prefeitura tem”, assegura o vereador.
O presidente da Associação Beneficente dos Pescadores da Baía Sul (Abepebas), Gilliard Isac Martins, conta que os serviços de dragagem já são solicitados há cerca de oito anos. Ele afirma ainda que, desde meados de 2019, os pescadores se reuniram três vezes com o prefeito Camilo Martins. “Ele explicou que tinha processo de licitação em andamento, porque também foi um pedido da Defesa Civil”, relembra. Segundo ele, além de prejudicar os pescadores, o assoreamento aumenta as chances de enchentes durante os períodos de chuva.
De acordo com o vereador Luciano Pereira, a dragagem deve ajudar também na contenção das cheias no município. “Eu não sei que dificuldade é essa de contratar esses serviços”, manifestou, durante a sessão da Câmara. O assoreamento estaria prejudicando outros rios do município, como nas regiões do Aririú da Formiga, Pachecos e na Passagem do Maciambu.
Segundo informações da Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Saneamento, o trabalho de dragagem ainda não aconteceu pois, mesmo após a realização de duas licitações, não houve empresa interessada nos serviços.
Cenário caótico
Martins relata que, às vezes, os pescadores que terminam o trabalho às 20h só conseguem embarcar de volta às duas horas da manhã. “Tem que ficar lá fora, no canal, aguardando também a maré encher para poder entrar”, explica.
A situação desanima a comunidade, que, nos preparativos para a época de pescaria do camarão branco, que começa em agosto, teme não conseguir atravessar o rio e garantir uma boa safra. “A maré é ainda pior, porque fica mais seca nessa época de agosto a novembro. A dificuldade é enorme”, lamenta.
Cerca de 150 pescadores e mais de 200 embarcações compõem as atividades na Barra do Aririú, segundo o pescador Jorge da Silva, que esteve presente em uma sessão ordinária da Câmara de Vereadores, em dezembro de 2019. Na época, a comunidade já vinha solicitando medidas emergenciais que garantissem o deslocamento adequado dos trabalhadores. “Muitas vezes, com a seca da maré, eles têm que carregar seu peixe nas costas por 100, 200 metros até a peixaria. Isso já está sendo um pouco humilhante”, manifestou o munícipe.
Em meio à fala, o popular lembrou da importância econômica dos serviços pesqueiros para o município de Palhoça, bem como dos trabalhadores que dependem, direta ou indiretamente, das safras. “Se não formos nós, muitos ficarão desempregados. E os pescadores já estão desistindo. Tem pescador que não consegue mais dar sustento aos filhos”, relatou.
* Sob a supervisão de Luciano Smanioto
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