A Pedra Branca recebe, neste domingo (8), a partir das 9h, a segunda etapa da Copa Free Force de Mountain Bike. A competição faz parte da programação de comemoração pelos 124 anos de emancipação política de Palhoça.
A competição não vai se limitar ao bairro. A saída e a chegada serão no Passeio Pedra Branca, mas nos percursos definidos para as provas de 25km (amadores), 55km (sport) e 70km (pro), os participantes vão pedalar por vários rincões do interior do município.
O evento reúne tipos diferentes de praticantes, desde iniciantes até os mais experientes, como a multicampeã blumenauense Ana Luísa Panini. São esperados cerca de 600 ciclistas (até o fechamento desta edição, já havia superado a marca de 500 inscritos), divididos em categorias por idade e nível técnico.
A primeira etapa foi realizada em fevereiro, em Camboriú, e contou com cerca de 400 participantes. Palhoça recebe a segunda etapa neste domingo. No total, o circuito terá cinco etapas durante todo o ano. “Já realizo eventos há mais de cinco anos, e o público da Grande Florianópolis está sempre em grande número nos eventos que realizo, e há alguns anos vinham me pedindo um evento na região. Tem um grande público de Palhoça inscrito na prova”, comenta o organizador da prova, Flávio Borges.
Uma categoria especial
Além de garantir a própria inscrição no evento, a ciclista Adriana Machado também está mobilizando a galera do pedal em Palhoça a participar da corrida. Adry disputou a primeira etapa da Copa Free Force de Mountain Bike em uma categoria muito especial, a PNE (para portadores de necessidades especiais). “Estou dando uma força grande, chamando o pessoal daqui. Nosso município tem muito ciclista”, avalia Adry.
E foi justamente para oferecer um calendário de competição para esse pessoal que ela batalhou, junto com o organizador Flávio Borges, para trazer um evento desse porte para o município, que ficou órfão de uma prova ciclística desde a extinção da Maratona Márcio May. “A gente sente falta, a gente tem que viajar para competir fora, porque nunca tem nada aqui”, lamenta. Para a sorte dos ciclistas palhocenses, as tratativas evoluíram e a competição foi confirmada em Palhoça neste final de semana.
A parceria entre os dois vem de longa data. Foi o próprio Borges um dos grandes incentivadores da “carreira ciclística” da Adriana, que é moradora da Ponte do Imaruim. Ela tinha uma vida sedentária e estressante, que acabou provocando um acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, perdeu a visão no olho direito, tem quatro aneurismas e um tumor cerebral. Um caso raríssimo, que chegou a ser notícia no programa “Fantástico”, da Rede Globo. “Geralmente é fatal. Eu tinha 1% de chance de sobreviver e ainda podia ficar vegetando”, recorda. O ciclismo ajuda a superar a condição clínica. Mas não é só isso. Aos 50 anos, Adry também descobre o prazer de competir. “Quando eu vou competir, eu não penso em ganhar pódio, eu penso em superação. Essa é a palavra. Gratidão, conseguir completar a prova. O resto, se eu pegar pódio é uma alegria”, reflete.
Tudo começou com uma brincadeira, para ajudar a tratar uma depressão, três anos atrás. Alguém sugeriu que começasse a pedalar. No primeiro pedal, mal sabia mudar as marchas. No segundo, já subiu a serra rumo a Angelina. Aos poucos, foi tomando gosto pela coisa e percebendo que tinha aptidão física para o esporte. Com três meses, participou de uma competição e ficou em segundo lugar. Logo de cara, o primeiro pódio. “Fiquei feliz da vida, foi uma superação mesmo, a alegria estava estampada na cara”, relembra. E não tinha categoria especial, ela competiu com atletas de rendimento sem limitações; a PNE viria muito tempo depois. “O Borges criou isso para dar oportunidade para nós competirmos. Agora, outras equipes de esporte estão seguindo o exemplo com a categoria PNE”, observa.
Adry gostaria que mais para-atletas seguissem seu exemplo e se aventurassem nas competições, especialmente as mulheres. Na primeira etapa da Copa Free Force de Mountain Bike, ela não teve adversárias na categoria PNE, e para não compor um pódio solitário, recebeu a premiação junto com os vencedores do masculino. “Eu sou um exemplo pra galera. Se ela já passou por tudo isso, é uma ‘coroa’ e faz tudo isso, para a molecada sedentária, isso é altos incentivos. E pedala uma molecada comigo, tá”, brinca.
E se ela pedalar “valendo”, é difícil acompanhar o ritmo. Adry se dedica muito ao ciclismo. Treina de sábado a quinta-feira (só descansa na sexta-feira). No final de semana, chega a treinar cerca de 180km. Já foi até Curitiba (300km) pedalando! A meta para 2018 é pedalar 18 mil quilômetros (rodou 12 mil no primeiro ano como atleta e no ano passado foram mais 15 mil). Ou seja, Adry respira este esporte, que pra ela, vai muito além das duas rodas: “Ciclismo é qualidade de vida. Isso aqui é minha vida, o ciclismo é a minha vida”.