Na noite da última terça-feira (24), o jornal Palavra Palhocense lançou a primeira edição do programa de entrevistas “Palavra do Palhocense”, que passa a ir ao ar nas terças-feiras, quinzenalmente, intercalando com outro programa criado este ano, o “Memória Palhocense”. Em virtude da pandemia do novo coronavírus, o programa teve um formato especial, com convidados participando por telefone. O assunto, obviamente, foi o Covid-19.
O programa foi comandado pelo editor-chefe do Palhocense, Alexandre João Bonfim da Silva, e teve a colaboração do jornalista Luciano Smanioto. O primeiro convidado foi o prefeito de Palhoça, Camilo Martins. “É uma situação inusitada, surpreendente e assustadora para todos nós, uma pandemia. A última vez que aconteceu um fato desses foi em 1918, e pegou todo mundo de surpresa, estamos aprendendo a lidar com essa situação”, refletiu o prefeito, abrindo sua participação no programa.
Camilo garantiu que a Prefeitura está atuando com transparência nas informações e reforçou a necessidade de a população respeitar as medidas restritivas de afastamento social - que a Prefeitura antecipou, em relação a outras prefeituras, com um “fechamento” precoce das escolas. “Muitos nos chamaram de loucos e irresponsáveis, e hoje as pessoas estão muito assustadas e viram que a decisão que tomamos foi uma decisão acertada”, relembra.
O prefeito disse que a Prefeitura está preocupada com a situação econômica do município, mas destacou que a preocupação principal é com a saúde das pessoas, especialmente neste momento, em que foi confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Palhoça. “Não precisamos nos assustar, sabemos que teremos outros casos”, projetou o prefeito.
Questionado pelo colunista do Palhocense João José da Silva, em participação remota por vídeo, sobre verbas oriundas dos governos estadual e federal, o prefeito disse que não recebeu nenhum apoio, ainda, e tudo que está sendo feito é com recursos próprios da Prefeitura - e também com a ajuda de R$ 300 mil repassados pela Câmara de Vereadores.
Camilo falou também sobre a possibilidade de estabelecer uma estrutura de atendimento no Centro de Formação e Treinamento do Figueirense, no Pachecos, e também lembrou da luta do município pela construção de um hospital em Palhoça. “Palhoça tem a melhor localização geográfica na Grande Florianópolis. O governo do estado tem que ter esse compromisso com o município de Palhoça”, refletiu o prefeito.
Saúde
O secretário de Saúde de Palhoça, Rosiney Horácio, foi outro participante do programa. Rosiney falou sobre o caso de Covid-19 confirmado em Palhoça (e que vem sendo computado como paciente de Florianópolis pelas estatísticas oficiais), uma moça de 32 anos, e confirmou que existem outros 11 casos suspeitos. Rosiney revelou que o município faz apenas a coleta de exames nos pacientes suspeitos, e quem realiza o processo de testagem para o Covid-19 é o Laboratório Central (Lacen), vinculado ao governo do estado.
Rosiney destacou que a organização de uma central de atendimento telefônico no município foi uma das medidas importantes para o enfrentamento da crise. Através do número 3220-0290, das 7h às 19h, a população pode tirar suas dúvidas antes de sair de casa para procurar um posto de saúde. Os casos mais graves são repassados à Vigilância Epidemiológica do município, que hoje monitora outros 22 casos suspeitos.
O secretário também relatou que todos os servidores municipais da área da saúde foram capacitados para orientar a população e realizar os encaminhamentos necessários em caso de suspeita de contágio pelo Covid-19. “Fizemos tudo o que está dando certo em um primeiro momento para não contágio em massa da população, com a restrição a vários serviços”, refletiu o secretário, que elogiou o trabalho de todas as equipes envolvidas no enfrentamento ao novo coronavírus.
Um dos trabalhos mais importantes nessa linha de frente é o dos médicos infectologistas, como a doutora Fernanda Scapinelo, lotada na Secretaria de Saúde de Palhoça desde 2019. Fernanda revelou que, desde a “entrada” do vírus no país, as prefeituras estão trabalhando em planos de contingência. “Talvez essa seja a maior dificuldade enfrentada pela saúde pública na nossa geração”, sublinha a médica.
A infectologista comentou sobre o primeiro caso oficial de paciente com Covid-19 notificado no município e disse que a Secretaria já está preparada para a identificação de novos contágios. Porém, avalia que o caso confirmado configura uma transmissão “local”, e não “comunitária”, ou seja, as autoridades de saúde conseguem rastrear onde a paciente foi infectada. “Deixo mais um apelo para que todas as medidas, principalmente de higiene de mãos, de afastamento social, sejam mantidas, porque são essas medidas que impedem a transmissão do vírus”, sublinhou.
Economia
O empresário Ivan Cadore, presidente da Associação Empresarial de Palhoça (Acip); o professor Baltazar Guerra, da Unisul; e o empresário Joel Aterino de Souza, fundador da empresa palhocense Extratos da Terra comentaram sobre os reflexos que este afastamento social imposto pelas autoridades para conter a propagação do Covid-19 pode ter na economia palhocense (e global), a curto e a longo prazo.
Cadore elogiou a atuação do governador Carlos Moisés neste momento de crise e projetou que o empresariado palhocense espera a contribuição do poder público, com medidas eficientes, para minimizar as sequelas que serão sentidas pelo setor produtivo, parcialmente parado neste momento, à exceção de setores considerados essenciais. “Vejo com muito bons olhos (o que o poder público tem feito), mas acho que é muito pouco. A crise que a gente está passando vai ter um reflexo muito grande. O que se tem disponibilizado hoje de linha de crédito e valores pelo governo do estado ainda é muito pouco. Acredito que deve haver uma ampliação da liberação de valores, tanto do governo federal quanto do governo estadual”, refletiu Cadore.
É a encruzilhada que todos os governos do mundo precisam enfrentar nessa crise: tomar medidas drásticas para minimizar o número de mortos e evitar o colapso do sistema de saúde e, assim, correr o risco de enfrentar, no futuro, uma situação de caos econômico e social; ou manter o setor produtivo em plena atividade e correr o risco da escalada do contágio. O professor Baltazar Guerra comentou que não havia um “meio termo” alternativo. “Não havia alternativa, até porque não tínhamos nenhum precedente em que pudéssemos nos inspirar e tirar as melhores práticas para esse momento”, ponderou o professor. Baltazar Guerra observou que as medidas restritivas terão consequências graves no sistema econômico, teme que venhamos a viver um período de recessão e sentencia que precisaremos tomar medidas contundentes para evitar um cenário de depressão. “O risco hoje é o de termos uma recessão sincronizada das grandes economias do mundo”, projeta o professor, argumentando que, a este ponto, já é possível dizer que o mundo inteiro “não será mais o mesmo” após essa pandemia.
Na Extratos da Terra, Joel Aterino de Souza decidiu dar férias de 15 dias para os funcionários. Joel, que também é diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Palhoça, pede calma ao empresariado. “O que a gente pede, e eu tenho conversado com alguns empresários, é calma, paciência. Embora seja um momento terrível. Eu vejo empresários desesperados, procurando demitir funcionários, tomando ações ainda muito nebulosas. Tem que ter calma”, receitou Joel, que gravou um vídeo, nos primeiros momentos da crise, com uma leitura sensata da situação. “Não se pode pensar neste momento só no faturamento, temos que fazer nossa parte. O governo também precisa fazer a parte dele. Os anúncios que têm vindo para apoio à cadeia de produção ainda são tímidos. Os empresários têm respeitado, mas não se sabe até quando vai acontecer isso, porque todo mundo tem seus compromissos e isso cria uma tensão muito grande”, analisa.
Turismo
Um dos setores econômicos mais afetados é o setor do Turismo, que apresenta toda uma cadeia de atividades econômicas praticamente inativas neste momento. “A economia mundial vai passar por problemas? Evidente. O Brasil terá problemas econômicos? Sim, mas não igual, vários setores são diferentes. O turismo será um dos setores mais afetados”, afirma Marcos Souza, coordenador do curso de Turismo da Faculdade Municipal de Palhoça, que também participou do programa de terça-feira.
Marcos observa que o turismo está enquadrado dentro do setor de serviço, que é muito diferente da indústria, que pode estocar seus produtos para serem vendidos posteriormente e tem margem para recuperar nos meses seguintes. “No turismo, não. A partir do momento em que você não usou aquele quarto do hotel, não jantou naquela noite, não voou naquele voo, isso está perdido e você não recupera”, pondera, observando que o turismo perdeu o mês de março em Palhoça, que teve um outono de tempo bom e agradável, e deve perder também a Páscoa. Porém, quando passarem os efeitos da pandemia, com a valorização do dólar diante do real, é possível que o turismo interno seja reaquecido mais rapidamente do que o turismo internacional.
Próxima edição
“Em momentos como este da pandemia, nossa missão de informar com responsabilidade fica ainda mais clara. O programa que estreamos na última terça é mais uma prova disso. O Palhocense mostrou o respaldo que tem junto a autoridades e especialistas de várias áreas e o carinho do público que carece de informações precisas e de fontes fidedignas. Não há tempo para comemorar o sucesso do primeiro programa. Já estamos trabalhando no da próxima terça”, afirma o editor-chefe do jornal Palhocense, Alexandre João Bonfim da Silva. Em função da crise do Covid-19, o “Palavra do Palhocense” deve voltar ao ar já nesta terça-feira (31), excepcionalmente.
Confira o vídeo do programa “Palavra do Palhocense” nas redes sociais do Palhocense: Facebook (facebook.com/palhocense) e YouTube!