Nesta edição especial do Palhocense, em que celebramos os 124 anos de emancipação política do município, não poderíamos deixar de reverenciar um dos ícones da natureza local: o exuberante Morro do Cambirela. Morro que é tão famoso que vai virar livro, nas mãos do ex-militar Silvio Adriano Cardoso, de 49 anos.
Silvio serviu no Esquadrão Fênix, de 1988 a 1991. Atualmente, é profissional de Educação Física e atua no hotel Plaza, de Santo Amaro da Imperatriz. Uma das atividades que costuma fazer é guiar grupos de curiosos aventureiros ao cume do Cambirela. Cume que ele atingiu pela primeira vez em 1989. Foi amor à primeira vista. Um amor aquecido por uma coincidência histórica: o ano em que ele foi seduzido pela montanha marcava também quatro décadas da maior tragédia que o Cambirela testemunhou, a queda do avião da Força Aérea Brasileira (FAB), em 1949. "Eu descobri que esse avião tinha caído exatos 40 anos antes da minha subida ao Cambirela. Fiquei impressionado com aquilo. Me marcou. Me apaixonei pelo Cambirela e pelo montanhismo", relembra Silvio. Com o passar do tempo, ele passou a se interessar por montanhismo. Escalou na Patagônia, no Rio de Janeiro, em São Paulo. "O montanhismo se tornou minha paixão", revela.
Durante o serviço militar, Silvio fez parte do 2º Esquadrão do 7ª Grupo de Aviação, um esquadrão de patrulhamento marítimo. Nos voos que fazia pela região, sempre ficava olhando para a montanha e imaginando qual havia sido o avião que tinha caído no Cambirela. Mais tarde, ele descobriria. "O avião que caiu no Cambirela foi fabricado para a Segunda Guerra Mundial para a Força Aérea do Exército dos Estados Unidos da América. Um Douglas DC3, na versão militar C47", detalha. O avião foi vendido para a FAB, e era usado a serviço do Correio Nacional.
O interesse pelas circunstâncias do acidente ficou ainda mais contundente quando leu uma matéria de duas páginas escrita pelo jornalista Celso Martins, quando tomou conhecimento de alguns detalhes da queda do DC3. Há cerca de três anos, o interesse se transformou em engajamento e a pesquisa passou a tomar corpo. Silvio começou a escrever o livro em 2016, e a meta é lançar a obra em 2019, quando se completam 70 anos do acidente. "Não sei se consigo, mas estou fazendo todos os esforços", garante. "Estou muito feliz em estar escrevendo. Me trouxe coisas muito boas. Tive acesso a fotos inéditas. Recebi vários relatos interessantíssimos. Procurei muitas fontes. Estou fazendo uma homenagem aos que fizeram o resgate dessas vítimas. Em um capítulo, coloco o nome das pessoas que ajudaram nas buscas e no resgate dos corpos", revela.
O livro está fundamentado em relatos, documentos históricos, jornais de época (quase 30) do Brasil e do mundo, já que foi falado no mundo inteiro. Até porque era, até então, o maior acidente aéreo no Brasil. O título é "O Último Voo do C47 2023 - O Desastre Aéreo do Cambirela, 70 Anos Depois". Com um vasto material nas mãos, o obstáculo a ser superado, neste momento, é separar o joio do trigo e juntar o quebra-cabeças. "São muitos documentos e divergências. Você lê um jornal de 1949 que diz que eram 26 mortos. Outros diziam 28. Um jornal dizia que caiu no mar, outros diziam que caiu no Cambirela. À medida que você vai se aprofundando, vai desenvolvendo uma linha de pensamento, com fundamentação em documentos", explica o autor, que contou com uma ajuda fundamental do colunista do Palhocense João José da Silva. "Engraçado que muitas pessoas acreditam que trata-se de uma lenda, uma invenção. Mas esse livro é um relato de fatos verídicos", assegura o autor.
Se alguém tiver alguma informação interessante sobre esse acidente, pode procurar o autor pelo WhatsApp: 98408-1135.