A candidata a deputada federal pelo PSol Eunice Antunes “Kerexu” (seu nome indígena) é natural de Chapecó, mas mora na comunidade indígena do Morro dos Cavalos, onde foi cacique e professora por muitos anos. Solteira, aos 39 anos, Eunice conta ter aceito o desafio da comunidade para lutar, principalmente, pelos direitos indígenas na Câmara dos Deputados.
Jornal Palavra Palhocense - Qual a importância de Palhoça ter uma representante na Câmara Federal?
Eunice Antunes - Eu aceitei o desafio porque há muito tempo moro aqui e percebi, durante a minha trajetória na política, que Palhoça não tem representante, e por isso vive a reboque dos demais representantes, por exemplo, os de Florianópolis. Palhoça é uma cidade que já cresceu muito e acredito que está na hora de colocar um representante dentro da Câmara Federal. Dentro da questão da defesa dos direitos humanos, sociais, de todos que moram em Palhoça, não só no Centro, mas principalmente no interior também. A representação tem que fazer esse círculo completo, desde o município, o estado até a Câmara Federal.
JPP - Qual a principal bandeira que pretende defender na Câmara Federal?
Eunice - Acredito que todos os candidatos que se elegem e chegam até a Câmara têm como objetivo trazer recurso para seu município. Eu não sou diferente, mas tenho como prioridade a questão ambiental, que eu vejo que Palhoça é rica nisso. Temos a Serra do Tabuleiro, por exemplo, e precisamos investir nos bairros em volta, que necessitam desse acompanhamento, de saneamento básico, a questão da saúde, e pensando nessa questão ambiental já traz junto a questão dos direitos humanos e ambientais.
JPP - Mesmo não sendo da atual sigla do prefeito de Palhoça, como se daria a relação da sua legislatura com a administração municipal?
Eunice - Eu acredito que não teria nenhuma dificuldade. As siglas passam todo ano, em todas as eleições elas passam. Acredito que o prefeito de Palhoça, mesmo sendo de outra sigla, também é um cidadão palhocense e está preocupado com a questão política do município. Por isso, acredito que ele não vai ter essa preocupação, que dificulte essa relação política para Palhoça. Eu acredito que vai ser mais uma força que estará sendo ligada do município com o Congresso Nacional.
JPP - Como tem sido a receptividade da sua candidatura junto ao eleitorado?
Eunice - Eu vejo como excelente. É a primeira vez que me candidato e me surpreende cada dia. Desde o lançamento da minha pré-candidatura, que foi lançada na aldeia, até agora, já fizemos atividades na praça de Palhoça, e vem me surpreendendo a cada dia.
JPP - A segurança pública tem sido um problema constante em Palhoça. Como deputada federal, como pretende ajudar a combater a criminalidade?
Eunice - Eu vejo como experiência nesta questão de segurança a falta de orientação e investimento político nessa área de segurança. Tanta na área dos policiais, que estão nas suas sedes para fazer esse trabalho de segurança, quanto nos bairros e comunidades. Não chega essa política de segurança, principalmente nas escolas públicas dos bairros, e falta também emprego para esses alunos. Quando a gente tem uma educação de qualidade e forma o nosso jovem para uma área de trabalho, eu acredito que eles não vão para esse lado da criminalidade. Vejo muita falta de opção para os jovens, principalmente para os que estão na periferia, nos morros, nas aldeias, essa falta de segurança por falta de opção. Chegando em Brasília, uma das coisas que eu quero trazer para Palhoça é a questão da segurança na parte da educação, fazendo com que ela chegue principalmente nos bairros que hoje não são atendidos pelo município. Essa é uma pauta muito forte que a gente vem trazendo nessa campanha, principalmente a juventude, que por incrível que pareça, quando a gente fala dessa questão da segurança e quando dá opção para o jovem, eles também veem e acredito nisso. Por isso, a maioria das pessoas na minha candidatura são jovens, porque acreditam que a gente pode mudar isso.
JPP - Há duas situações preocupantes em Palhoça ligadas diretamente a essa questão da segurança: as drogas e os moradores de rua. Como enfrentar esses problemas?
Eunice - É um problema bem crescente. Em todos os lugares por onde passamos, percebemos isso. Palhoça tem uma faculdade e um instituto federal público, em que não existem muitas opções de cursos. Sobre a droga, eu vejo também que depende da maneira que a gente vê essa questão. Quando o pobre usa droga para se livrar de alguma pressão que está na cabeça dele, ele é o bandido da história; agora, quando o rico usa essa mesma droga para tirar a pressão que está na sua cabeça, pois hoje vivemos num mundo de pressão, é considerado como uma depressão, onde precisa de um tratamento médico e de acompanhamento próximo de familiares e especialistas. Pobre não é diferente, tem as mesmas necessidades e pressões, e pior ainda, não tem onde comer e nem onde dormir. Com isso, começa a crescer esse movimento de moradores de rua. No meu mandato, eu penso em criar escolas técnicas onde forme e receba jovens, que forme pessoas específicas para cada área e que possa interagir com as famílias e que eles recebam esse atendimento, assim como o drogado rico recebe. Que a gente seja igual e os direitos iguais para todos.
JPP - Palhoça não tem uma estrutura complexa na área de saúde, como um hospital. Como você poderia ajudar a mudar esta realidade, se eleita?
Eunice - Pensamos muito nessa questão da saúde, e vejo que Palhoça tem uma estrutura muito boa para receber tanto uma equipe formada e adaptada num posto de saúde, como num hospital. Vejo que já passou da hora da construção de um hospital em Palhoça. Também penso que chegando em Brasília quero criar projetos de lei que a gente consiga recursos para Palhoça, para conseguir construir um hospital, e não só isso, mas a gente valorizar principalmente as pessoas que se formam na área da saúde em Palhoça. Acredito que temos várias pessoas formadas em várias áreas da saúde e que saem daqui para trabalhar fora do nosso município. Palhoça tem estrutura sim para criar um hospital e vamos batalhar para que isso seja concretizado.
JPP - A Educação é um dos grandes desafios para transformar o país em uma nação desenvolvida. Quais suas propostas para a educação?
Eunice - Eu vejo que o sistema nacional de educação é ultrapassado, falido, que parou de funcionar. Hoje a opção da sociedade é principalmente as escolas alternativas, que pagam caro por essa educação, mas dentro da lei garante que a educação tem que ser de qualidade para todos, independente dos que têm condições de pagar. Nesse tempo atual em que estamos vivendo, numa era tão moderna, da tecnologia, que as informações chegam muito rápido e a gente consegue informações e várias outras coisas usando a tecnologia como ferramenta para fortalecer principalmente nesse meio da educação, a escola pública não dá isso, ela faz de conta que dá mas não dá. É por isso também que a escola hoje é uma das principais instituições que não atendem diretamente os anseios das famílias na área da educação. Que criam as crianças e os jovens quando saem, principalmente do Ensino Médio, com uma cabeça cheia de preconceito, discriminação com o que é diferente, isso também o sistema nacional de educação não atualizou. Uma das minhas propostas é atualizar esse sistema. O MEC tem que atualizar, liberar recursos para que as escolas tenham todo esse amparo, essa máquina que forma esses alunos, mas que forme aluno atualizado. Os alunos hoje estão muito desatualizados, tanto que hoje a gente não consegue dialogar com um aluno da rede púbica da mesma forma que com um aluno da rede particular, por falta dessa atualização do sistema, que está muito atrasado. Então, uma das minhas defesas e prioridades na área da educação é atualizar o sistema.
JPP - Muito se tem falado no problema da corrupção na política brasileira e na “politicagem”, no uso da máquina pública como cabide de empregos para cabos eleitorais. Como enfrentar esse problema?
Eunice - Minha candidatura traz como proposta um mandato coletivo, que é a democracia. A democracia foi criada para que todos tivessem voz, vez e seus direitos. O Brasil foi numa linha que conforme as coisas foram sendo conquistadas, os políticos, principalmente, que chegaram a ocupar esses cargos, acreditaram que essas conquistas todas, principalmente de recurso, eram conquistas só deles, que não eram de uma sociedade, de uma população, dos povos que colocaram esses políticos lá. Então, no mandato coletivo a gente convida as pessoas para ocupar junto com a gente, inclusive a gente chama para que as pessoas tragam suas propostas. Embora tenha muitas informações, acaba que muitas demandas não chegam aos deputados. Então, nesse ocupar o Congresso Nacional no coletivo é onde as pessoas terão voz. Também penso em fazer essa prestação de contas, ser transparente para o povo, a cada projeto de lei, cada projeto aprovado, que vai ser destinado para alguma entidade ou algum lado, tem que ser feita a prestação de contas. Tem que ser transparente, que o povo veja o que está sendo feito, o que sobrou.
JPP - O trânsito é um dos principais problemas de Palhoça e região hoje. Como parlamentar, como poderá ajudar a aliviar o problema do trânsito? Que proposta teria nesta área?
Eunice - Eu vejo que o problema no trânsito, começando pela BR-101 e outras rodovias, são as obras inacabadas. Temos há muito tempo a questão da BR-101, que é um gerador de problemas, tanto de conflitos, de mortes, acidentes e perdas de materiais que a gente vê ao longo da BR-101. Tudo isso por falta de concluir essas obras, elas iniciam, inclusive de um projeto que eu participei sobre a duplicação da BR-101 que não deu em nada. Enquanto isso fica parado, a população começa a cobrar do prefeito, do governador, da sociedade que está ali morando, sendo que os projetos estão prontos, só falta serem executados. Então, uma das questões que eu também vou fazer é sobre a BR-101, que conclua essas obras e outras alternativas também, pois o trânsito vem crescendo dia após dia. A gente precisa criar alternativas de como a gente vai se locomover desde Palhoça, dos bairros mais interiores, quanto a capital, e temos alternativa, não só pelo solo, mas pelo mar.
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