Até 1985, o Campeonato Palhocense de Futebol era disputado esporadicamente. A partir dali, passou a ser organizado todos os anos. Até 2018. Foi uma divergência sobre a necessidade de registrar jogadores junto à Federação Catarinense de Futebol (FCF) que interrompeu essa trajetória. “Fiquei muito triste com tudo isso que aconteceu”, comenta o presidente da Liga Palhocense de Futebol, Laurino José de Souza.
O presidente explica que os clubes decidiram, no primeiro conselho arbitral, que o campeonato adulto da primeira divisão seria disputado por jogadores “federados”, ou seja, registrados junto à FCF pelo clube que iriam defender na competição. No segundo conselho arbitral, a direção do Paraíso informou que não gostaria que o campeonato fosse federado. Foi marcada, então, a realização de uma terceira reunião (o que é incomum) para definir como seria a competição. Os clubes concordaram em manter a exigência de “federar” os atletas. O Palhocense teve acesso à ata dessa reunião. Apenas dois clubes não assinaram: o Paraíso e o Cerâmica Silveira; Eldorado, Atlântico, Cascalho, Liverpool, Paissandu e Rio Grande assinaram; Bela Vista e Cruzeiro haviam se licenciado. “Mas o representante do Cerâmica também concordou com o campeonato federado, ele só não pôde assinar porque não era o presidente e não tinha procuração”, explica Laurino.
Definida a forma de disputa e o regulamento, a tabela de jogos foi formatada e os clubes iniciaram as tratativas para a formação das equipes e o registro de atletas. Cascalho e Cerâmica fariam o jogo de abertura do campeonato, em um sábado, 11 de agosto. No final da tarde da terça-feira (7 de agosto) daquela semana, representantes de cinco times procuraram a direção da Liga para informar que não queriam mais o campeonato federado: Paraíso, Cerâmica, Paissandu, Eldorado e Rio Grande. Eles entregaram um ofício ao presidente da Liga, onde informavam: “Devido à grande dificuldade de juntar os documentos exigidos pelo sistema CBF, que só participarão do Campeonato Amador 2018, se o mesmo não for federado, e que as inscrições de atletas seja a mesma utilizada na Liga dos Campeões, ficha coletiva com apresentação de cópia da RG ou CNH”. “O Eldorado, na primeira reunião da Liga, aceitou ser federado o campeonato, depois, vendo as dificuldades em inscrever atletas e os custos, resolveu optar por não federado”, justifica a direção do Eldorado.
Imediatamente, na presença dos representantes desses clubes, Laurino consultou, por telefone, o procurador jurídico da FCF, o advogado Rodrigo Capella, sumidade em Direito Desportivo. Capella informou que a mudança só seria possível se todos os clubes aceitassem. O problema é que os outros clubes já haviam se organizado e feito gastos com a papelada necessária para a inscrição de atletas e ameaçaram recorrer à Justiça para serem ressarcidos dos custos caso o campeonato não fosse federado. “Com a tabela pronta, os clubes tinham prazo para inscrição, regularizar com a CBF e a Federação, pagar as taxas, porque a gente estava há dois anos sem fazer campeonato federado, então tinha que regularizar tudo. Era um custo considerável colocar tudo isso em dia. A gente foi fazendo tudo normalmente, porque tem um prazo de inscrição, pegamos transferência de atletas nas outras ligas, e cada transferência é cem reais. Foi um investimento bem alto”, lembra Maicon Vieira, do Cascalho.
O verdadeiro motivo
A dificuldade em cumprir com o protocolo de inscrição de jogadores em um campeonato federado não seria o verdadeiro motivo do “motim”. Até porque a Liga se propôs a ajudar os clubes, inclusive colocando uma funcionária à disposição para realizar os registros junto à FCF. O problema é que um jogador federado fica vinculado ao clube que o registrou, e não pode atuar em outro campeonato chancelado pela Federação Catarinense. E no cenário do futebol amador, é muito comum o mesmo jogador defender vários clubes em ligas municipais diferentes.
“Quando chegou em cima da hora, cinco clubes se reuniram porque não queriam mais que fosse federado, porque se for federado, o atleta tem que escolher se joga em Palhoça, São José ou Santo Amaro, e aí eles tinham atletas para trazer e queriam, por interesse, que não fosse mais federado”, afirma Maicon. “Eles queriam derrubar o regulamento que havia sido assinado por todos os clubes. Aí, os dois clubes, por último, nós e o Atlântico, não aceitamos, porque estávamos com os atletas praticamente todos inscritos. E a liga também não aceitou, porque o regulamento estava pronto, e aí, com dois clubes só, não teve campeonato, porque só Cascalho e Atlântico queriam cumprir o regulamento já aprovado”, finaliza o dirigente do Cascalho.
Diante do impasse, os clubes “amotinados” queriam o dinheiro que seria repassado pela Prefeitura para realizar um campeonato paralelo. A Liga não aceitou. “Não posso dar o dinheiro para eles fazerem um campeonato paralelo, porque quem tem que prestar contas é a Liga”, explica Laurino. O presidente informa que redigiu um documento abrindo mão do dinheiro que a Prefeitura iria repassar para a disputa da primeira divisão, R$ 25 mil. “Se eu pegar o dinheiro, tenho que fazer o campeonato, porque vai súmula do jogo, vai assinatura dos árbitros, o dinheiro é depositado na conta dos árbitros, então não posso fazer o campeonato”, justifica.
Sem a realização de um campeonato federado, a Liga Palhocense correu o risco de sofrer sanção por parte da FCF. “Tens que fazer um campeonato federado por ano, por uma questão estatutária”, diz Laurino. A punição só não aconteceu porque Guarani de Palhoça e Pedra Branca EC disputam campeonatos da federação, mantendo a licença da Liga em dia, explica o presidente. Na verdade, há uma “punição”: na última reunião das 57 ligas vinculadas à FCF, Laurino teve que ficar “só olhando”, porque como não teve campeonato federado, a Liga Palhocense não teve voz na reunião.
Eleições
Na próxima quinta-feira (27), às 19h30, será realizada a eleição para presidente, vice-presidente e membros efetivos e suplentes do Conselho Fiscal da Liga Palhocense de Futebol. Laurino diz que não tem intenção de concorrer à reeleição. Ele está à frente da entidade em boa parte da sua existência: são 23 anos de presidência - a Liga foi criada em 1991. “Não quero mais, eu quero parar. São 23 anos da minha vida, é um terço da minha vida. Quando peguei a Liga, era num contrapiso ali no Bar do Neo, não tinha nem uma caneta pra escrever. Hoje tem esta sede, temos toda esta estrutura”, observa.
A inscrição das chapas concorrentes deverá ser protocolada na Liga até cinco dias antes da realização da assembleia geral ordinária eletiva. Já existem articulações nos bastidores para a composição de chapas. Têm direito a voto os filiados “em pleno gozo de seus direitos estatutários”. O estatuto da entidade diz que estão aptos a votar os clubes que: possuírem licença de funcionamento em vigor, expedida pela Federação Catarinense de Futebol; tiverem seus débitos com a Liga quitados com antecedência mínima de cinco dias antes da assembleia, desde que intimados; tiverem participação no ano anterior do campeonato promovido pela Liga e estarem inscritos ou terem participado do atual; tiverem atendido às demais exigências da legislação vigente.