Por: Vinicius Lummertz*
É muito vista na internet uma entrevista do ex-presidente da Embraer, Osires Silva, ao programa Roda Viva, em que ele revela o motivo de o Brasil não ter um Prêmio Nobel. Silva lembra aos seus entrevistadores que países como Argentina, Venezuela, Colômbia e Chile já foram agraciados com o Prêmio Nobel e os Estados Unidos têm mais de 300. Então, ele conta a história de um jantar em Estocolmo, na Suécia, sede da academia que concede o Nobel, quando sentaram à sua frente três membros do comitê que decide sobre as indicações. “Perguntei a eles por que o Brasil até hoje não foi premiado e, apesar de constrangidos, eles responderam que ‘vocês, brasileiros, são destruidores de heróis’”. Contaram ainda que os indicados brasileiros foram criticados pelos compatriotas e que constataram que eles não tinham sequer o apoio da população.
Utilizo essa - triste - cena para ilustrar o que quero dizer neste artigo: estamos lutando contra nós mesmos e, assim, destruindo o país. Infelizmente, os membros do comitê do Nobel têm razão quando afirmam que somos destruidores de heróis. Tomo outro exemplo no exterior para fundamentar essa afirmativa: Thomas Jefferson, terceiro presidente norte-americano, é o principal autor da Declaração da Independência e um dos pais da democracia. Apesar de publicamente contrário à escravatura, mantinha 600 escravos em uma de suas plantações e, quando ficou viúvo, passou a ter como amante a escrava Sally Hemings, com quem teve pelo menos um filho. Hoje, os norte-americanos homenageiam Sally, inclusive com um memorial, mas em nenhum momento eles perderam a percepção de que Jefferson é um herói nacional.
Ao contrário, nós no Brasil de hoje estamos destruindo tudo o que vemos pela frente. Há uma disputa insana pelo poder em todos os setores. Grandes bancos, empresas “campeãs nacionais” ajudadas por uma relação favorecida com o governo (e depois abalroadas pela Lava Jato), lideranças políticas e próprios poderes da República. Porém, esquecemos que somos um país ineficaz e ineficiente, que não celebra o talento, o mérito. Aceleramos o nosso senso crítico, mas acabamos fazendo disso uma arma contra nós mesmos, contra os nossos valores.
Precisamos de uma mudança cultural, para destacar valores que não são apenas o da honestidade, da probidade e da eficiência com o gasto público, mas que afaste a inveja que temos do empreendedor ou daquele que faz sucesso. Temos que ter orgulho do patrimônios que erguemos com muito talento, esforço e inteligência, como a Embraer de Ozires Silva. Este é um “herói nacional”, que deveríamos cultuar como exemplo. Seria um bom começo para deixarmos de sermos “destruidores de heróis”, como acusaram os membros do comitê do Nobel, para passarmos a ser construtores de heróis.
* Ministro do Turismo