Recentemente, o Palavra Palhocense registrou a inauguração das novas instalações da Estação Antártica Comandante Ferraz, que vai contar com um equipamento odontológico da empresa de Palhoça Olsen (relembre na nossa página online, no endereço: bit.ly/2uEZMrg). Não será a única tecnologia de ponta criada em solo palhocense a desembarcar no continente gelado. O mestre em Mecatrônica Gustavo Becker Ventura vai integrar uma expedição da Universidade Federal de Viçosa (MG) e vai aproveitar a oportunidade para mostrar que estamos na vanguarda, também, em equipamentos de monitoramento meteorológico. Gustavo embarca neste sábado (1), e deve chegar à Antártida na segunda-feira (3); ele só volta a Palhoça no dia 11 de março.
Tudo começou quando a universidade buscava um fornecedor de um equipamento que pudesse oferecer transmissão de dados em tempo real via satélite e encontrou a dualBASE, empresa instalada em uma área de 2 mil metros quadrados no Jardim Eldorado (curiosamente, ao lado da Olsen). “Numa das conversas técnicas, em que a gente estava em uma reunião virtual, eu falei: ‘então, beleza, me manda junto para instalar isso’, meio que brincando, e eles falaram que iriam ver se conseguiam a vaga. Duas semanas depois, disseram que tinham conseguido a vaga. Foi assim, uma brincadeira, veio do nada”, relembra Gustavo, que é o CTO (diretor técnico) da empresa, criada em 2009 e comandada pelo CEO (presidente) Felipe Alfredo Jahn.
Gustavo nunca esteve na Antártida. Como acontece com todo pesquisador brasileiro que pretenda visitar o continente, participou de um treinamento pré-antártico, que ocorre num formato de isolamento durante uma semana, na Ilha de Marambaia, no Rio de Janeiro. No treinamento, Gustavo foi submetido a testes físicos, aprendeu tudo sobre as regras internacionais do tratado antártico (como não poluir e não levar embora material que não seja autorizado) e sobre o uso adequado dos equipamentos fornecidos pelo Programa Antártico Brasileiro (Proantar) – até as roupas, especiais para um frio rigoroso, mesmo agora, no verão, são fornecidas.
A Antártica tem um papel essencial nos sistemas naturais globais. É o principal regulador térmico do Planeta, controla as circulações atmosféricas e oceânicas, influenciando o clima e as condições de vida na Terra. Além disso, é detentora das maiores reservas de gelo (90%) e água doce (70%) do planeta e de recursos minerais e energéticos incalculáveis. Ao longo das últimas décadas, importantes observações científicas (como a redução da camada protetora de ozônio da atmosfera, a poluição atmosférica e a desintegração parcial do gelo na periferia do continente) evidenciaram a sensibilidade da região às mudanças climáticas globais.
O Brasil tem se engajado nas pesquisas científicas no continente gelado desde o final do século XIX. O país aderiu ao Tratado da Antártida, em 1975, e deu início ao Proantar em 1982. Assim, nossos pesquisadores têm a oportunidade de participar de atividades que, juntamente com a pesquisa do espaço e do fundo oceânico, constituem as últimas grandes fronteiras da ciência internacional. Gustavo estará lá, vivendo esse momento histórico para Palhoça. “A participação do Brasil na Antártida é motivo de muito orgulho para todos nós brasileiros, nos coloca num mesmo patamar de domínio tecnológico das principais nações do mundo. Poder conhecer de perto o Proantar e poder fazer parte deste mundo é um marco na vida da nossa empresa e para mim, em particular. E sempre gosto de destacar: é tecnologia brasileira, é tecnologia de ponta. É catarinense, é de Palhoça”, comemora.
Gustavo vai aproveitar a presença na expedição mineira para instalar um equipamento de ponta fabricado em Palhoça. “Essa é minha principal função. Eu estou indo meio que de acompanhante convidado, para instalar o equipamento de transmissão deles, mas estou levando equipamento nosso, desenhado por nós, fabricado aqui, que vai ficar funcionando lá”, destaca. “Vamos ter uma estação completa, totalmente instalada por nós. Claro, com componentes fabricados fora, mas será a primeira estação meteorológica feita no Brasil a funcionar na Antártida”, celebra o palhocense.
A Estação Meteorológica Automática desenvolvida pela dualBASE faz o monitoramento das variáveis: temperatura do ar, umidade relativa do ar, pressão atmosférica e radiação solar. Transmite os dados de hora em hora via celular e via satélite. Nos arredores da nova Estação Antártica Comandante Ferraz, há cobertura de uma torre de sinal de celular que permite o uso dessa tecnologia para a comunicação pessoal e de equipamentos naquela área de cobertura. Por isso, o equipamento palhocense ficará bem próximo à estação nacional. Já Gustavo, vai precisar dormir em barracas em um acampamento. Isso acontece porque, por mais que tenha sido ampliada, a nova estação brasileira ainda não dá suporte para o volume de pesquisadores que estarão lá nesta época – cerca de 10%, apenas, fica alojado na estação. Menos mal que a área de estudos brasileira fica na península antártica, ao Norte do continente, que é bem menos gelado do que o Sul.
Até para os equipamentos isso é fundamental, já que respeitam as especificações de mercado, que preveem capacidade de atuação para temperaturas entre -40°C e 70°C; no lado Sul, o mais frio, as temperaturas podem cair abaixo de -40°C.
O frio intenso é certeza, mas nada que assuste o palhocense. Isso porque a estrutura, mesmo nos acampamentos, é muito boa, com barracas de convivência, de cozinha e de banheiro, por exemplo. “A estrutura é pesadíssima, é muito legal de ver. Eu sei disso por causa do treinamento”, observa o pesquisador, que vai ajudar a sedimentar a excelência palhocense na história do desenvolvimento científico no continente gelado.