Por: Sofia Mayer*
Com aulas presenciais suspensas nas escolas, o desafio de boa parte dos professores tem sido adaptar suas metodologias à prática do ensino remoto. O Núcleo de Atendimento Especializado da Rede Municipal de Ensino de Palhoça (Naep), levando em conta as dificuldades da categoria, está lançando um projeto que prevê auxílio a docentes a partir de orientações especializadas em psicologia, fonoaudiologia, psicopedagogia e pedagogia. O núcleo é subordinado à Secretaria Municipal de Educação e, em condições normais, se dedica a prestar serviços educacionais e atendimento especializado a alunos da rede municipal que apresentam queixas de dificuldades de aprendizagem.
As conferências online começam na próxima quarta-feira (17), e vão propor a troca de experiências e informações entre os profissionais da rede municipal, a fim de traçar estratégias concretas para o enfrentamento das dificuldades atuais. “Pensamos nos encontros justamente porque tem sido frequente as ligações de docentes solicitando ajuda para lidar com a angústia e a pressão que esse momento vem lhes causando”, comenta a coordenadora do Naep, Sara Ávila Rosa.
Ela lembra que as mulheres, que são maioria na profissão, acabam sendo as profissionais mais sobrecarregadas com a obrigatoriedade das atividades remotas: “Mesmo com a busca de igualdade social entre ambos os sexos, ainda são elas que, na maioria das vezes, cuidam dos filhos e dos afazeres domésticos". Além de serem educadoras nas suas turmas habituais, Sara ressalta que as profissionais passaram a ser professoras dos próprios filhos, que também estão estudando em casa durante a pandemia do novo coronavírus.
Muitas vezes sem domínio das plataformas digitais, o tempo de planejamento e execução das tarefas também aumenta. “Há a necessidade de uma prática de ensino diferente daquela que estavam habituados, que exige um domínio de tecnologias e didática, totalmente atípicas no ambiente escolar de antes”, afirma Sara. A coordenadora lembra que conteúdos destinados às famílias dos estudantes também estão sendo elaborados: “Estamos engajadas em minimizar o prejuízo que, com certeza, será inevitável para discentes e docentes”.
Gabriela Góes, que faz parte do quadro de psicólogos do projeto, explica que a pandemia exigiu uma reação imediata das escolas, aumentando os relatos de angústia e sobrecarga dos profissionais da categoria: “Há uma grande preocupação com a manutenção da saúde mental dos professores neste momento, uma vez que, sem um norte predefinido, precisam conseguir essa reinvenção de si próprios e do seu trabalho”. Além da modificação não planejada de rotina, a psicóloga lembra que os docentes seguem carregando a missão de serem agentes da educação de crianças e jovens: “Isso pode gerar diversos efeitos emocionais não positivos quando há excesso de pressão por soluções, resultados imediatos e sobrecarga de trabalho”.
A partir dos encontros online, uma das buscas da equipe de psicologia é ampliar os espaços de reflexão e acolhimento ao corpo docente da rede municipal, visto que o cenário de crise reverbera de formas variadas em cada indivíduo. “Para continuarem sendo estas peças fundamentais no desenvolvimento humano, os professores precisam ser acolhidos na nova missão e na nova forma de atuar”, explica Gabriela.
Rotina alterada
Desde o dia 20 de abril, quando as escolas foram mobilizadas para a implementação de um modelo de ensino à distância, o cotidiano da pedagoga Denize Saturnino mudou por inteiro. Lecionando remotamente desde o dia seis de maio, a professora comenta que precisa fazer malabarismos para encontrar momentos de descanso: “Mesmo tentando fazer nosso horário de trabalho, muitas são as vezes em que nos pegamos atendendo pais, escola e alunos durante o período noturno e nos finais de semana”. A rotina da docente, hoje, inclui planejamento de aulas, correções das atividades impressas e do portal, preenchimento de relatórios, escrita de bilhetes e participação em reuniões com a gestão e a coordenação da Secretaria Municipal de Educação.
Denize diz que está ansiosa para o retorno das atividades presenciais, mas admite que sente a equipe pedagógica mais unida durante a pandemia, mesmo com a distância física: “Demos as mãos e estamos caminhando e aprendendo juntos. Todos nós sairemos desse desafio melhores e com uma bagagem enorme de aprendizado”.
O suporte online aos professores será realizado às quartas-feiras, a partir do dia 17 de junho, através da plataforma Google Meet, sempre nos horários de 10h e 15h. Cada encontro será conduzido a partir do panorama de uma área de interesse específica (psicologia, fonoaudiologia ou pedagogia e psicopedagogia). As inscrições devem ser solicitadas aos diretores e coordenadores das unidades de ensino e Centros de Educação Infantil.
Teleassistência às famílias
Durante a pandemia, as ações voltadas às famílias atendidas pelo Naep estão acontecendo a partir de ligações telefônicas semanais, feitas por fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos e psicopedagogos. “Eles entram em contato com as famílias dos usuários, cujo atendimento é de responsabilidade daquela especialidade”, afirma Sara Ávila Rosa, coordenadora do núcleo.
A ideia da dinâmica é acompanhar e orientar sobre as dificuldades na realização das atividades pedagógicas não presenciais, ofertadas pelas escolas da rede municipal. Sara, todavia, conta que a teleassistência tem funcionado de forma parcial, pois muitos não atendem ou o número para contato já não é mais o que consta no registro da instituição. “Temos algumas publicações em nossas páginas, no Facebook e Instagram, que objetivam auxiliar os docentes e discentes neste período crítico que estamos vivenciando”, complementa.
* Sob a supervisão de Luciano Smanioto
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02/12/2024
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