Por: Sofia Mayer*
A crise causada pela expansão do novo coronavírus (Covid-19) está afetando significativamente prestadores de serviços que, sem vínculo empregatício, acabam tendo o trabalho comprometido em função de restaurantes e casas de shows estarem fechados. De olho nessas mudanças, e com doses de criatividade e incertezas, alguns músicos de Palhoça estão buscando alternativas para contornar a situação e trabalhar remotamente, produzindo aulas online e shows, que devem ser transmitidos ao vivo pelas redes sociais.
Faz 20 anos que o músico Renato Pinho, morador de Palhoça, leva seu som a restaurantes e casas de entretenimento da região. Com os estabelecimentos fechados, em combate à disseminação do Covid-19, porém, a rotina agitada do cantor e instrumentista tem se transformado, e exigido criatividade e calma para pensar em novas alternativas. Foi a partir de conversas em um grupo no WhatsApp, que reúne mais de 270 artistas do estado, que surgiu a ideia de transmitir apresentações de casa, ao vivo, com contribuições espontâneas. “Já que todos os bares e casas de shows estão fechados por tempo indeterminado, é uma forma de eu conseguir um pouco da renda mensal que eu tinha”, conclui o artista.
O projeto “Meu Show Na Minha Casa” terá equipamento de som completo e jogo de luzes para que o internauta sinta, de fato, que está presenciando um espetáculo musical. O evento online ainda contará com um “web couvert”, uma espécie de pagamento eletrônico, para contribuição espontânea dos espectadores. Na dinâmica do show, entre uma música e outra, o músico divulgará sua conta bancária para a colaboração financeira. Os primeiros shows estão marcados para esta sexta (20), sábado (21) e domingo (22). A transmissão acontece pelo Instagram e Facebook do músico, às 21h.
No grupo do WhatsApp “Artistas de Santa Catarina”, de que Pinho participa, músicos, atores e dançarinos buscam formas de conseguir recursos para passar pelas próximas semanas, que prometem ser difíceis. “(Estamos) mobilizando uma forma de conseguir recursos do governo, se possível, para ajudar a classe artística”, conta. Uma das propostas do grupo é garantir um limite de crédito com juros reduzidos.
Aulas online
Em uma das escolas das música da cidade, localizada no Passa Vinte, a alternativa para contornar a situação também está ligada ao âmbito digital. Com mais de 15 cursos e 100 estudantes, as aulas seguem sendo realizadas por transmissões ao vivo, em vídeo.
Mesmo com as limitações e incertezas causadas pelas medidas de contenção da pandemia do coronavírus, o proprietário Tiago Silveira admite que a situação está rendendo bons aprendizados. “Está sendo bem bacana, uma experiência nova bem legal. Um negócio para se pensar em investir futuramente”, acredita. A dinâmica interna da escola também está sendo totalmente virtual. Toda a equipe, de cerca de 20 professores, foi dispensada para trabalhar em casa, e as reuniões estão sendo realizadas online.
Preocupações pelo incerto
São minoria os músicos que têm uma carta na manga para a pandemia viral, que obrigou a população a se isolar em casa. Filipe Teixeira faz voz e violão em restaurantes e barzinhos da cidade e, depois que se deparou com a agenda de shows cancelada, está sem alternativas de remuneração no momento. “Por enquanto, não tenho nenhuma perspectiva do que fazer, porque estou passando por essa situação e tô assustado, ainda. É muito recente”, avalia. O músico gaúcho, que vive em Palhoça, lembra de colegas que estão dando aulas online para manter a receita mensal. “A questão é que, pra mim, que sou músico de bar, é um pouco diferente”, compara.
Em situações regulares, Teixeira chegava a tocar de seis a sete vezes por semana, ganhando uma média de 1.500 a 1.800 reais pelo conjunto de apresentações. “Esta semana, eu tenho um milhão de coisas para pagar, e deixei de ganhar dois mil reais”, desabafa.
Levando em conta a aglomeração em bares e casas de shows, o músico Renato Pinho, que também faz voz e violão pela cidade, não tem boas perspectivas quanto ao futuro próximo: “É muita notícia correndo, muita coisa acontecendo. Então, eu acredito que os últimos lugares que vão ser liberados serão os espaços para entretenimento público”.
* Sob a supervisão de Luciano Smanioto