A passagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por Florianópolis, no último sábado (24), foi acompanhada de perto por inúmeros palhocenses. Não pelo mesmo motivo. Enquanto uns estiveram nos arredores da Praça XV de Novembro para celebrar o líder petista, outros foram protestar contra o ex-sindicalista, em função dos escândalos de corrupção em que ele e seu governo estão envolvidos, segundo a Justiça.
De acordo com lideranças petistas, cerca de 10 mil pessoas estiveram prestigiando a passagem da Caravana Lula, que chegava a Santa Catarina depois de percorrer o interior do Rio Grande do Sul. Antes das 10h, cerca de 50 palhocenses mobilizados pelo Comitê em Defesa da Democracia e do Direito de Lula ser Candidato se concentraram próximo ao túnel do Passa Vinte e saíram em carreata rumo a Florianópolis, portando bandeiras do PT e com a imagem de Lula. No Largo da Catedral, onde o ato aconteceu, o grupo de palhocenses juntou-se a outros militantes de Palhoça e de vários municípios do estado que já se aglomeravam para ouvir lideranças locais, apresentações de poesia, músicas de protesto e conteúdo popular na expectativa da chegada de Lula.
Antes do ato, Lula esteve reunido com reitores de unidades universitárias do estado e do Instituto Federal de Santa Catarina, fazendo uma avaliação do seu legado enquanto presidente da República e ouvindo propostas para o futuro do ensino em Santa Catarina. Ele chegou por volta de 13h30 e foi ovacionado pela multidão, que cantava emocionada o famoso jingle da campanha eleitoral de 1989, “Lula-lá, brilha uma estrela, Lula-lá, cresce a esperança”. “Eles não suportam o fato de nós termos feito pela primeira vez a ascensão social do povo. E agora eu quero fazer mais! Quero ser candidato pra fazer mais por esse país. Eu não baixo a minha cabeça porque eu levei muito tempo pra aprender a andar de cabeça erguida”, discursou Lula.
O ex-presidente ainda recebeu uma condecoração de Cidadão Honorário Catarinense, aprovada pela Assembleia Legislativa em 2008.
“Por que fui no ato da carreata de Lula? Porque o Brasil antes do governo do PT sempre foi um país de terceiro mundo; porque a maioria de nossos pais e irmãos mais velhos nunca tiveram acesso ao ensino superior público; porque não existiam políticas públicas tão eficazes para as minorias”, comenta o professor Robson Fernandes, que leciona História no colégio Escola de Educação Básica Maria do Carmo de Souza Pacheco, em Palhoça. O professor defende que “Lula é o grito de muita gente que ficou sufocada e não teve espaço na política da história desse país” e questiona a ação da Justiça, que o condenou. “Quatro anos de Lava Jato, muitas provas concretas e com assinaturas de alguns políticos que almejaram o golpe e nada é feito. Que tipo de Justiça aplicam? Se um juiz tem o poder de condenar sem provas e inocentar com provas, então a justiça não existe, é apenas uma forma de legalizar a corrupção da burguesia. Existe um tribunal arbitrário, ilegítimo e que tem o objetivo de perseguir alguém: Lula”, sustenta. “Luto e resisto pela democracia e pelo povo”, finaliza Robson.
Protesto
No local do ato pró-Lula, um grupo de manifestantes contrários à atividade perfilou-se ao longo da Praça XV de Novembro, gritando frases provocativas. Palhocenses integrantes do Grupo Ação Patriótica Catarinense (GrAPC), que acredita na intervenção militar como solução para a crise moral em que o país mergulhou com os frequentes escândalos de corrupção, estiveram presentes na manifestação para protestar contra o ex-presidente. “Estivemos lá e é uma pena que o povo de Florianópolis parece que está esperando uma guerra civil para acordar”, lamentou a aposentada Judith Koerich da Silva. “Mas o povo aqui da Palhoça realmente é valente”, emendou.
O grupo levou bandeiras do Brasil e protestou contra o ex-presidente. “Nos afrontaram com um título que este homem não merece e vandalizaram a a frente da catedral metropolitana, que é um templo sagrado cristão”, expressou a moradora de Palhoça.
O título de Cidadão Honorário Catarinense concedido a Lula foi muito contestado pelos manifestantes, encorpando o coro de diversas entidades locais, que redigiram um manifesto em contrariedade à honraria. “Condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro, o que por si só deveria ser motivação suficiente para a revogação da homenagem, o ex-presidente mais uma vez dá mostras da disposição de usar manobras políticas em prol unicamente de projetos pessoais – no caso, insuflar manifestações que geram instabilidade no cenário político nacional”, traz uma nota de repúdio assinada pelo CDL de Florianópolis e outras 10 entidades.
O movimento intervencionista fará nova manifestação, no sábado (31), um dia de mobilização nacional. “A gente vai fazer um ato muito expressivo na Beira-Mar de Florianópolis”, projeta Judith.