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Micro e pequenas empresas relatam dificuldades

Mesmo com a divulgação de linhas de apoio emergenciais, empresários estão incertos em relação ao futuro

5275f5b0cffb41195de7408a3379bb06.jpg Foto: ARQUIVO JPP

Por: Sofia Mayer*


Uma reunião, de três horas de duração, com o prefeito Camilo Martins, junto a membros da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) e da Associação Empresarial de Palhoça (Acip), nesta segunda-feira (30), mostrou bem a preocupação de comerciantes de Palhoça quanto às contas vindouras. Com estabelecimentos fechados e folhas de pagamento chegando, muitos estão correndo atrás das medidas de apoio emergenciais anunciadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para se manter em atividade. Na prática, as linhas de crédito ainda não estão disponíveis aos empresários, que vivem na incerteza dos dias seguintes.

Os próximos pagamentos de aluguel, salários e impostos são uma das maiores preocupações dos micros e pequenos empreendedores de Palhoça. Embora o encontro dos dirigentes, no início da semana, tenha colocado a CDL e Acip na linha de frente das decisões referentes à retomada das atividades econômicas em Palhoça, empresários da cidade afirmam que alguns auxílios não podem esperar. Bianca Flores, dona de uma loja de roupas femininas na cidade, se preocupa com a situação. “É bem difícil, porque são muitas pessoas, são aluguéis altos, portas fechadas. As imobiliárias não quiseram dar nem um prazo a mais para podermos pagar o aluguel do próximo mês. Tem que pagar na data, senão, corre juros", explica.

A esperança para ações imediatas era o anúncio do presidente do BNDES, feito no último domingo (29), de uma linha emergencial de R$ 40 bilhões para micro, pequenas e médias empresas. Segundo comerciantes, no entanto, parece que as medidas ainda não estão em pleno funcionamento no município. Luiz Leal tem um comércio de doces, enquadrado pelo banco como uma microempresa, e afirma que visitou todas as agências que poderiam oferecer expansão no capital de giro do estabelecimento, segundo a lista divulgada no próprio site do BNDES. “Dos cinco bancos que eu visitei, já é preciso ser cliente. Caso contrário, não tem nem acesso ao formulário, digamos assim”, afirma. Para microempresas, o serviço deve ser oferecido pelo Bradesco, Cresol, Santander, Sicoob e Sicredi.  

Em alguns bancos, a solicitação pode ser feita de forma remota. É o caso da Badesc, um dos agentes financeiros do BNDES, que atende a pedidos de pequenas empresas em Santa Catarina. Leal afirma, no entanto, que a burocracia dificulta o processo, principalmente em tempos de quarentena, quando os serviços não essenciais estão fechados. “Em alguns casos, chegam a pedir documentos que nem seriam necessários para algumas empresas”, conta, ao mencionar projetos de impacto ambiental, por exemplo. “Você não tem como conseguir esse documento, e não há uma opção no formulário que você possa deixar em branco. Você fica travado ali”, explica. 

Leal encontrou outros empecilhos na busca pelos benefícios do BNDES: “Foi bem claro, nas conversas, que, em todos os bancos, a pessoa ou a empresa que tiver maior (grau de) relacionamento com o banco - mais tempo e mais produtos adquiridos, tipo seguro, capitalização, poupança e cheque especial - terá prioridade”. O comerciante afirma, ainda, que todas as agências foram unânimes ao dizer que ainda não receberam instruções suficientes para esse tipo de captação. 

A Caixa Econômica Federal também é um dos agentes que disponibiliza solicitações online para pequenas empresas. Bancários da agência do Centro de Palhoça, no entanto, contam que as linhas do BNDES e os juros subsidiados ainda não estão disponíveis nas unidades. Em funcionamento, está apenas a pauta de empréstimos que já existem. 

As burocracias envolvidas na obtenção dos auxílios - tanto de crédito para folhas de pagamento, como para aumento de capital de giro - também desanimaram um empreendedor da área da educação de Palhoça. “Conversando com minha contadora sobre isso, a gente percebeu que, na hora de ir lá, fazer toda essa documentação, conseguir esse dinheiro, é muito complicado”, explica. O empresário, por outro lado, explica que essas medidas podem ser perigosas em momentos de incertezas. “A gente vai estar adquirindo uma dívida, sendo que a empresa está em queda”, conta. 
Com oito unidades na região, o empreendedor precisou tomar a iniciativa de fechar o campus de Santo Amaro da Imperatriz. “É muito desafiador. Chorei, ontem, ao ter que demitir meus funcionários”, lamenta. Em Palhoça, a empresa deve permanecer aberta por, pelo menos, três meses. “Se nesse tempo a situação não normalizar, aí sim, a gente pretende fechar”, sentencia. Na tarde desta quarta-feira (1), o proprietário começou o processo de redução em 90% dos funcionários de todas as unidades.

Um restaurante da região central de Palhoça também não sobreviveu à quarentena de isolamento e anunciou o fechamento definitivo das portas. “Temos outras empresas e tínhamos que decidir rápido o que fazer para a situação não piorar. Seria mais caro manter do que fechar e, futuramente, abrir novamente em outro lugar”, afirma a proprietária. O comerciante Luiz Leal está igualmente pessimista em relação ao futuro da microempresa: “Está bem difícil, tele-entrega não supre a necessidade de receita. Acho que está (difícil) para todo mundo, mas as menores empresas vão sofrer”.

As três unidades da loja de Fernanda Hinckel - localizadas em Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz e São José - se mantêm, porém, as nove funcionárias tiveram que ser demitidas: “No momento, devido à situação em que se encontra nosso país, tivemos a difícil decisão de demitir todos. Ficamos só três, que somos proprietárias mesmo”, lamenta. Hickel admite, contudo, que não pretende solicitar as linhas emergenciais no momento. “Acho que linhas de crédito só jogarão o problema para a frente. Então, o momento é de cuidar e negociar com proprietários dos imóveis e fornecedores, pois estamos todos na mesma situação”, conta.

A empresária reclama, ainda, da falta de comprometimento das pessoas em relação às medidas de isolamento social. “Nós estamos presos dentro de casa e as estradas estão lotadas de carros. O comerciante está pedindo socorro e as pessoas, na grande maioria, que tem seu salário garantido, não estão levando a sério”, lamenta. 

Com ponderações dos empresários sobre os benefícios reais das linhas emergenciais, além das dificuldades burocráticas para garanti-las, a esperança do setor produtivo de Palhoça fica concentrada nas decisões municipais. Em nota sobre a reunião de segunda-feira (30) com o prefeito Camilo Martins, a CDL informou que o pedido para a Prefeitura criar um fundo de aval, a fim de garantir e facilitar a obtenção de recursos para pequenos e médios empresários, junto ao Badesc, foi bem aceita. “O prefeito se prontificou a conversar com aquela instituição bancária, para avaliar essa possibilidade, através de seu fundo de inovação, avaliando que há boas perspectivas de aprovação”, expõe a CDL. Porém, um dia depois do encontro com Camilo, os empresários desanimaram com um anúncio por parte do Badesc. A instituição informou que a verba de R$ 50 milhões alocada para a operação emergencial já estava previamente comprometida com os pedidos e financiamento em análise.

Nas reivindicações, CDL e Acip solicitaram, ainda, a postergação do recolhimento de tarifas municipais pelo prazo de 90 dias - incluindo IPTU, ITBI, taxa de lixo e alvarás de funcionamento. O presidente da Acip, Ivan Cadore, considerou o resultado do encontro muito produtivo. "Ficou bem clara a relevância das entidades empresariais no processo decisório desta fase de transição da crise do coronavírus, onde a prioridade à preservação de vidas é fundamental, mas que a preservação das empresas - e, consequentemente, dos negócios locais - tem o mesmo peso para o equilíbrio social no momento que advirá a passagem da pandemia.  A manutenção de empregos é fundamental neste momento, por isso, nossa atuação prioritária em garantir o mais rápido possível o acesso aos recursos emergenciais para quem precisa. O quinto dia útil do mês é na semana que vem e muitas empresas que já foram severamente impactadas pela paralisação, sem ajuda externa, não terão condições de honrar a folha. Precisamos ajudar estes empresários e o momento é agora", enfatiza Cadore.

* Sob a supervisão de Luciano Smanioto



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