O professor de História (de inspiração freireana) Paulo Valério Mendonça da Silva (Pevê), morador da barra do Aririú, decidiu escrever um novo capítulo na sua própria história este ano. Músico autodidata, ele compilou suas composições em um CD com 10 faixas puramente autorais - ele assina todas as letras, arranjos, melodias e harmonias; e gravou todos os instrumentos ouvidos no disco, à exceção da bateria.
“Quem tem asas pra voar sempre busca uma resposta”, ensina a canção gaivota. Ele entendeu o próprio recado. “No ano em que completei 40 anos, senti a necessidade de gravar e lançar algumas das composições que eu acumulava há pelo menos uma década. A vontade de produzir, de tocar e gravar minhas músicas crescia cada vez mais forte dentro de mim. Compor é uma forma que encontrei para me comunicar com as pessoas - e de certa forma, comigo, pois as canções brotam do íntimo do artista, a partir das experiências vividas e da observação das coisas do mundo. Somos como ‘antenas’, captamos fatos, sentimentos, histórias, e transformamos em música. Quando o criador se dá conta disso, criar passa a ser uma atividade essencial a sua sobrevivência”, reflete Pevê, que vem alimentando o relicário autoral há 10 anos.
O disco de estreia, intitulado “Pevê”, é apenas uma amostragem das composições desta década de criação musical. Uma amostragem bem eclética, aliás: “Gaivota”, com seu baixo marcante a Secos&Molhados (ele não sabia tocar baixo, aprendeu justamente para a gravação do disco), é uma canção que versa sobre a liberdade e a busca por “respostas”; “Na Cidade” tem o ritmo da correria urbana, “que encanta e oprime ao mesmo tempo”, com frases de guitarra slide dialogando com a letra; “Taça de veneno” foi feita ao piano, com forte influência do genial Arnaldo Baptista, e se transformou numa balada de cunho filosófico; “Meu coração quer te ver” virou um blues psicodélico de inspiração setentista e fala sobre relacionamentos afetivos; “Estrada sem fim” é um blues acústico sobre relacionamentos que despencam, com o toque peculiar de uma recém adquirida craviola Giannini de seis cordas, ano 1979; “Vem comigo” fala de um momento mágico experimentado durante uma caminhada na Guarda do Embaú; “Querem tua cabeça” tem relação com os tempos atuais, de perseguição aos pensamentos políticos que fogem ao senso comum; “Insônia” mostra que o silêncio e a solidão podem ser inspiradores; “Coisas simples” nasceu em um réveillon em Paulo Lopes, ao som de uma convidativa “guitarra havaiana”; e “Chegada”, a única canção totalmente instrumental do disco, tem uma melodia que “ronda minha cabeça desde sempre”.
Historiador e mestre em Educação (UFSC), Pevê atua há 15 anos na rede municipal de ensino de Palhoça, em diversas esferas da educação: como professor do Ensino Fundamental, como professor da Faculdade Municipal de Palhoça e como capacitador de professores, entre outros. Sua ligação com o município vem de longa data: a primeira vez que subiu em um palco foi aos 18 anos, no antigo Festival Snoopy, organizado pelo colunista do Palhocense João José da Silva, no Alto Aririú. Outra ligação importante é que seu trabalho de conclusão do curso de História (formou-se pela UFSC em 2002) foi uma extensa pesquisa sobre o festival Palhostock, que agitou o cotidiano da então pacata Palhoça de 1974. Hoje nem tão pacata, mas ainda acessível ao bom e velho rock’n roll. “Este disco foi produzido com carinho, ao longo de dois anos de muito trabalho e superação, e é meu primeiro trabalho autoral. Espero que vocês curtam tanto quanto eu”, finaliza.