Por: Sofia Mayer*
As máscaras faciais de pano se tornaram verdadeiras protagonistas no combate ao novo coronavírus. O que muita gente talvez não saiba é que o acessório, em sua configuração tradicional, pode acabar prejudicando a comunicação de pessoas com deficiência auditiva, que costumam se apoiar na leitura labial para compreender o que é dito pelos outros. Pensando nisso, o Instituto dos Advogados de Santa Catarina (Iasc) confeccionou e entregou mais de 50 máscaras com transparência à Associação de Surdos de Palhoça (Aspa). A ideia é a de que o acesso ao equipamento de proteção individual (EPI) seja estendido a pessoas que fazem parte do convívio diário dos associados.
A presidente da Aspa, Juliana Lara, tem deficiência auditiva congênita, e foi uma das beneficiadas com a doação. “Como a maioria das pessoas não sabe a língua de sinais, nós usamos de todos os recursos possíveis para tentar compreender o que falam, sem ouvir”, explica. Desde que a associação recebeu os acessórios com transparência, a comunicação no trabalho de Lara ficou mais fácil, visto que os colegas mais próximos também passaram a utilizar as máscaras especiais: “Está muito mais fácil compreendê-los. Eles também ficaram felizes, pois antes falavam muito alto e, mesmo assim, eu não conseguia compreender”. Antes, com os EPIs tradicionais, o diálogo era feito a partir de escritas em um quadro branco.
Lara nasceu com um déficit auditivo, que se agravou na adolescência. Hoje, ela apresenta surdez profunda no ouvido direito e severa no esquerdo. “Consigo ouvir um pouco com o uso dos aparelhos auditivos, mas a leitura orofacial me auxilia bastante”, conta.
A entrega dos acessórios foi realizada na última quinta (14), pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Iasc. De acordo com Márcia Lamego, presidente da comissão, a ação é importante, pois "beneficia não só o usuário, mas também aqueles que convivem (com ele)".
A história de Rosemary Barbosa Ventura, vice-presidente da Aspa, também é prova disso. Com as peças transparentes, ela pode se comunicar melhor com o filho, deficiente auditivo, sem deixar de se proteger contra o novo coronavírus. Ela afirma que, antes das adaptações, máscaras convencionais já haviam sido distribuídas entre os membros da associação, mas não tiveram resultado positivo. “O surdo precisa ver os lábios, por causa da leitura labial. Devido a essa dificuldade, muitos não estavam usando máscaras”, revela. Desde o dia 17 de abril, a utilização do artefato é obrigatória em todo o território catarinense.
Depois de acompanhar o filho em uma consulta médica, utilizando o novo EPI, Ventura ressaltou a importância da iniciativa inclusiva. “Seria impossível interpretar a consulta para ele de máscara tradicional”, explica. De acordo com a vice-presidente, diversas pessoas já procuraram a Aspa para garantir unidades do equipamento. “Vamos distribuir também para chefes de empresas onde tem surdos trabalhando, porque os surdos estavam muito agoniados por não conseguir ler os lábios”, revela.
O professor Fábio Silva, do Instituto Federal de Santa Catarina (Ifsc), no campus bilíngue, em Palhoça, afirma que as máscaras com transparência ajudam pessoas com deficiência auditiva, mas que, ainda assim, apresentam limitações. “Elas embaçam e é mais difícil de respirar. Ainda é preciso pensar em outras soluções”, afirma.
Além das 50 máscaras entregues na última semana, 14 unidades infantis foram distribuídas, no domingo (17), a membros da Aspa.
* Sob a supervisão de Luciano Smanioto
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02/12/2024
02/12/2024