Por: Willian Schütz
Muita coisa muda ao longo de 20 anos. As pessoas vêm e vão. A tecnologia se aperfeiçoa e os costumes se reconfiguram. Mas existem exceções à regra da passagem do tempo. Em Palhoça, o jornal Palavra Palhocense continua circulando há quase duas décadas. São quase mil edições. De lá para cá, muitas coisas passaram, mas o hábito de ler o semanário segue presente no cotidiano da cidade. Quem também continua desde a primeira edição do jornal é o colunista Clésio “Margarida”, um palhocense com popularidade que ultrapassa os limites do município.
Em clima de contagem regressiva, o Palavra Palhocense traz detalhes da trajetória de Clésio Moreira dos Santos. Muita gente não o conhece por esse nome, mas o reconhece de imediato ao vê-lo sorridente e trajado com roupas cor de rosa: é o famoso Margarida, árbitro show.
Ele é famoso por atuações descontraídas nos gramados de futebol, apitando jogos sempre com um tom humorístico. E foi assim que Clésio ganhou notoriedade nacional, chegando a conhecer astros como Ronaldinho Gaúcho, Zico e muitos outros.
Mas na cidade onde mora, ele também é famoso pelo colunismo no Palavra Palhocense. Chamada “Cartão Rosa”, a coluna é destaque no semanário desde a primeira edição, em 2005. Quase mil semanas depois, os textos do Margarida seguem em publicação no veículo.
A história de Margarida
Clésio Moreira dos Santos mora em Palhoça desde que tinha três anos. Inicialmente, ele morava na Barra do Aririú, mas se mudou para a Ponte do Imaruim, em 1969. Até hoje, ele vive no mesmo bairro, onde tem muitas amizades na vizinhança.
De origem modesta, Clésio já foi engraxate, vendeu picolés e salgadinhos nas ruas, foi auxiliar de padeiro, comerciário, ator de teatro amador, gerente financeiro e representante comercial, até se tornar árbitro de futebol.
Apaixonado pelo esporte, ainda jovem ele se formou na escola de arbitragem da Federação Catarinense de Futebol. Por isso, comandou centenas de jogos e decisões do Campeonato Catarinense. Margarida também pertenceu ao quadro de árbitros da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) de 1995 a 2002, trabalhando em jogos nacionais.
Dono de uma forma irreverente de correr, apitar e gesticular em campo, Margarida foi precursor em usar o material totalmente cor-de-rosa — uma cor tida como feminina dentro do futebol, um esporte considerado machista. Assim, ele passou a realizar verdadeiros espetáculos em campo, atuando principalmente em jogos amistosos e partidas especiais.
Um árbitro no jornal
Bastante ativo no cotidiano da cidade, Clésio também ganhou gosto pelos jornais da região. Como gostava de escrever, logo aceitou a empreitada de atuar também como colunista de jornal.
Apesar de outras experiências, foi no Palavra Palhocense que ele encontrou um espaço cativo, estreando a coluna na primeira edição do veículo, que foi refundado a partir do jornal “O Palhocense”, em julho de 2005. “Sei que já estou há cerca de duas décadas escrevendo para esse maravilhoso jornal”, descreve. “Mas essa não foi minha primeira experiência como colunista, pois antes eu já tinha uma coluna no jornal ‘Folha do Vale’, de Braço do Norte, no sul de Santa Catarina. Sempre levei informação séria e verdadeira, baseada em fontes confiáveis”, relembra Clésio.
Ainda segundo ele, o formato da coluna “Cartão Rosa”, marcante no Palavra Palhocense, surgiu de maneira espontânea, em alusão à atuação como árbitro. “A ideia de criar o ‘Cartão Rosa’ e o ‘Cartão Vermelho’ surgiu naturalmente. O Cartão Rosa serve como símbolo para reconhecer pessoas ou empresas que prestam bons serviços para a comunidade. Já o Cartão Vermelho é uma crítica a algo negativo, seja um político, um jogador, uma empresa ou qualquer situação que prejudique a sociedade. Sempre escrevi dessa forma, procurando informar os meus leitores”, argumenta.
Repercussão
Margarida relembra um episódio recente que demonstra a popularidade da sua coluna. “Outro dia, eu estava no supermercado aqui em Palhoça, e um cidadão veio até mim para dizer o quanto gosta de ler minha coluna. Ele disse que adora futebol e acompanha o ‘Pensamento do Bambi’, o ‘Cartão Rosa’ e o ‘Cartão Vermelho’ assiduamente”, destaca o colunista do jornal.
Mas também há uma outra realidade por trás da popularidade. “Por outro lado, há pessoas que já foram mencionadas na minha coluna de forma crítica e reagiram mal, chegando a me atacar nas redes sociais. Mas faz parte: a gente fala a verdade e, enquanto somos amados por uns, incomodamos outros”, pondera.
Quase mil edições depois
Nesses quase 20 anos, Margarida acompanhou muitas transformações ao lado da equipe do Palavra Palhocense.
“A transformação do jornal é impressionante. Estou escrevendo para este glorioso jornal há duas décadas e vejo o quanto ele cresceu e se consolidou. Na Grande Florianópolis, são poucos os jornais impressos que ainda circulam. Hoje, a maioria dos periódicos migrou para a internet. Graças a Deus, o Palavra Palhocense continua sendo impresso e a procura por ele segue grande. Isso mostra o quanto o jornalismo local ainda é valorizado pela comunidade”, celebra Margarida, que segue semanalmente como um destaque do colunismo palhocense. Ele mantém a mesma essência e a linguagem depois de quase mil edições, tal como faz o semanário mais longevo de Palhoça.