A empreendedora Scheyla Claudiano, que comanda uma marcenaria no Jardim Eldorado, está em São Paulo, onde representa Palhoça na final do concurso nacional "Hora de Brilhar", patrocinado pela Unilever. Depois de passar pela etapas eliminatórias do concurso, a jovem empresária se reúne a outras nove finalistas para um treinamento presencial exclusivo oferecido pela marca Brilhante e pela Aliança Empreendedora. As duas finalistas que mais se destacarem nos desafios propostos dentro dessa imersão recebem um prêmio no valor de R$ 5 mil para investirem em seu negócio ou na sua ideia de negócio.
O concurso é destinado a alunas e ex-alunas do curso "Escola Brilhante", plataforma online gratuita para pessoas que querem abrir ou aperfeiçoar o próprio negócio. Por isso, há duas categorias: atuantes (que já empreendem) e iniciantes (que estão planejando empreender). Depois das etapas classificatórias, cada região do país teve uma finalista escolhida em cada categoria. Scheyla foi a finalista da região Sul na categoria atuante. Isso porque ela já toca o próprio negócio há dois anos.
Começou em um galpão alugado no São Sebastião. Em dois anos, a Schreiber Marcenaria já tinha local próprio. Não era exatamente a “infraestrutura dos sonhos”. O galpão comprado no Jardim Eldorado estava em péssimo estado, cheio de goteiras, e a empreendedora precisou ralar muito para reformar o espaço. “Isso aqui era a casa dos horrores”, diverte-se. “O primeiro roupeiro que eu montei, tive que colocar um balde em cima para não molhar”, relembra. Hoje, está tudo em ordem: o espaço físico, a equipe de trabalho, a prospecção de clientes e até a preocupação em estabelecer um processo produtivo ecologicamente sustentável, com reciclagem de materiais. Não é por acaso que a perspectiva de futuro é animadora. “A gente está indo bem, estamos indo a passos de formiguinha, sem pressa. Mas na verdade as coisas aconteceram muito rápido para a empresa”, comenta.
É a colheita dos frutos de quase 14 anos de um trabalho árduo. Scheyla trabalha na construção civil desde a época em que era estudante de Direito. Fez curso de elétrica em um centro comunitário, fez curso de pedreiro pelo Pronatec, fez curso de cerâmica e porcelanato pelo Senai, e foi construindo uma clientela fiel. Aprender a mexer com elétrica, hidráulica, rebocos, pisos, etc. talvez não tenha sido tão complicado quanto lidar com o preconceito. “Há 14 anos, não tinha Google, não era tão fácil para uma mulher fazer este tipo de trabalho. Enfrentei alguns problemas com o preconceito”, relembra.
Enfrentou com a coragem dos bravos e a inteligência dos sábios, e não só sobreviveu como prosperou na construção civil. “Vi que isso me dava mais renda e mais satisfação do que a universidade”, compara. Hoje, ainda convive com a desconfiança alheia, mas garante que as dificuldades são bem menores neste ponto. “Ainda tem preconceito, mas é um pouco diferente. Quando eu comecei na construção civil, eles não aceitavam as mulheres. Já teve um processo evolutivo nesses 14 anos, apesar de ainda ter diferença de salário entre homens e mulheres”, atesta. “Para vender, eu ainda sinto preconceito. Quando eu vou nas casas, as mulheres adoram a ideia de ser uma mulher, mas tem uns homens que ainda são preconceituosos. Nós mulheres temos que saber lidar com isso, temos que ter empoderamento e nos fazer respeitar”, acrescenta.
Por falar em empoderamento, Scheyla também batalha para empoderar a população de baixa renda. É nesta “pegada” que dirige a marcenaria. “A visão da marcenaria é fabricar para pessoas de baixa renda, porque eu acho que todo mundo tem o direito de mobiliar a casa”, explica a empreendedora. A ideia surgiu quando a mãe foi morar em um condomínio popular em Biguaçu e ela percebeu que havia a oportunidade de oferecer um serviço de marcenaria competente para a população de baixa renda que estava se instalando naquele condomínio. Assim nasceu a Schreiber Marcenaria, com o apoio da mãe, Alice; da irmã, Schirley; e da esposa e sócia, Mônica.
Apesar de ter os pés no chão e projetar a evolução da empresa a “passos de formiguinha”, em dois anos, o crescimento veio rápido. A empreendedora garante que o trabalho é feito com carinho, o precinho é camarada e os móveis são instalados na data combinada. Certa vez, Scheyla chegou a trabalhar 48 horas seguidas - e com a mão machucada - para cumprir um prazo de entrega. A maior recompensa pela dedicação é a gratidão das pessoas, que recebem móveis de qualidade, mesmo com orçamento limitado. “Tu vê no olhar das pessoas a gratidão”, comemora.
Agora, em São Paulo, a recompensa pode vir, também, na forma de um prêmio. É a semana final do concurso, que começou com 2 mil inscrições selecionadas em todo o território nacional; 400 em cada região. A partir daí, um novo processo de triagem selecionou 50 mulheres, que passaram a cumprir três horas de aula online às terças e quintas. No final das aulas, as candidatas foram orientadas a produzir um vídeo, e então, foram escolhidas as 10 finalistas (as melhores de cada região, nas categorias atuante e não atuante). Scheyla viajou na segunda-feira (6) para São Paulo, e antes de embarcar garantiu que estava tranquila para encarar os desafios e os sete jurados do concurso (cinco do grupo Unilever e outros dois da escola Aliança Empreendedora). “Quando a gente domina o assunto, a gente não tem medo. Claro que não subestimo as pessoas, mas estou tranquila”, garantiu Scheyla. O anúncio das duas “campeãs” sai nesta sexta-feira (10). Seja qual for o resultado, não há dúvidas de que a marceneira empreendedora já é uma vencedora!