A investigação ainda está em andamento, mas a Polícia Civil já reuniu informações suficientes para confirmar que o jovem de 20 anos espancado e morto em um posto de gasolina no Aririú, no dia 17 de setembro, de fato havia participado do assalto ao motorista do Uber na noite de 16 de setembro. O jovem foi reconhecido como um dos autores do assalto e agredido até a morte. Três homens (incluindo o motorista de aplicativo assaltado) foram denunciados pelo Ministério Público de Santa Catarina (MP/SC) no dia 30 de setembro pelo crime de homicídio qualificado.
O promotor de Justiça Alexandre Carrinho Muniz relata, na denúncia, que os três homens agiram “com o firme propósito de ceifar a vida de outrem, utilizando-se de capacetes e objetos diversos que portavam para brutalmente agredir a vítima” e “desferiram vários golpes”, atingindo órgãos vitais (o laudo aponta traumatismo craniano como causa da morte). O promotor expressa que os denunciados “agiram por motivo torpe” porque desconfiavam que a vítima fosse o autor do crime de roubo cometido na noite anterior à agressão e “praticaram o linchamento como forma de vingança”. “Além disso, o crime de homicídio ocorreu mediante recurso que impossibilitou a defesa do ofendido”, pois a vítima “foi brutalmente rendida e atacada pelos denunciados”, que estavam “em expressiva vantagem numérica, o que anulou qualquer atitude da vítima no sentido de preservar sua vida”.
A juíza Cintia Werlang, da 1ª Vara Criminal da Comarca de Palhoça, recebeu a denúncia na quarta-feira (2). O advogado dos três acusados, Osvaldo José Duncke, diz que a defesa vai tentar mudar a tipificação do crime para “lesão corporal seguida de morte”, considerado de menor gravidade. “A gente vai entrar com um habeas corpus e vamos encaminhar a defesa, que é uma resposta à acusação. Nós respeitamos a decisão judicial, mas não concordamos e vamos rebater os argumentos na defesa, requerendo o pedido de revogação da prisão preventiva e requerendo a liberdade provisória. Acredito que até sexta-feira nós protocolizamos tudo”, diz o advogado.
Participação no assalto
A Divisão de Investigação Criminal (DIC) de Palhoça segue as investigações para elucidar o crime que motivou o linchamento. O assalto aconteceu por volta de 21h30 de 16 de setembro. De acordo com os fatos registrados no boletim de ocorrência, o motorista foi acionado via aplicativo de transporte Uber para atender uma corrida nas proximidades da farmácia Schutz, no Aririú, com destino à Praia de Fora. Dois indivíduos entraram no carro do Uber, um Chevrolet/Prisma, de cor prata.
No caminho, após passarem pela ponte de arame da Guarda do Cubatão, o homem que estava no banco de trás do carro sacou um revólver e anunciou o assalto. A vítima foi abandonada em um sítio no Pontal e o carro foi levado pelos criminosos. O motorista disse que sofreu ameaça de morte e recebeu alguns chutes.
Os agentes da DIC que investigam o crime coletaram informações, especialmente junto ao aplicativo de transporte, e analisaram imagens nas proximidades do local onde a corrida se iniciou e nas imediações do trajeto de deslocamento do Uber. Com base em todas as informações coletadas, concluíram que o rapaz linchado, de fato, havia participado do crime. Como ele não tinha antecedentes criminais e vem de boa família, filho de um trabalhador honesto e respeitado na comunidade, houve rumores de que poderia não estar envolvido no assalto. “Alguns detalhes foram importantes para que a gente pudesse chegar à conclusão de que sim, a vítima desse crime de homicídio era um dos autores envolvidos nesse roubo ao Uber. Hoje, nós temos condições de afirmar isso em razão das investigações em andamento”, atesta a delegada Raquel de Souza Freire, que coordena a DIC de Palhoça. O rapaz era um dos dois homens que estavam dentro do carro do Uber no momento do assalto, segundo a Polícia. “A vítima, antes do óbito, teria indicado onde o veículo da vítima se encontrava”, relata a delegada.
As investigações ainda estão em andamento. “As investigações ainda correm no sentido de identificar o segundo indivíduo, bem como no sentido de identificar a participação de outras pessoas nessa empreitada criminosa”, finaliza a delegada.