Meninas de uma escola de Palhoça se uniram nas redes sociais, no último final de semana, para expor casos de assédio que teriam sofrido por parte de alguns professores da instituição. A thread, como é chamada a sequência de tuítes, reuniu mais de 30 relatos de alunas e ex-alunas, sobretudo menores de idade. De acordo com as jovens, os casos acontecem há algum tempo, e envolvem dois docentes do colégio. A Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCami) de Palhoça informa que ainda não houve ocorrências oficializadas.
A campanha foi inspirada na hashtag #ExposedFloripa, que viralizou na rede social na última sexta-feira (22), chegando ao sétimo lugar entre os assuntos mais comentados no Twitter, com mais de 10 mil publicações – na Capital, sim: boletins de ocorrência foram registrados e uma investigação está em andamento, por parte da Polícia Civil, para apurar os fatos. “Decidimos expor por ser algo que aconteceu com diversas meninas durante alguns anos” explica uma das jovens.
Os relatos são compostos de prints, com respostas de um professor a publicações de alunas nas redes sociais, e até denúncias de constrangimentos dentro das salas. Uma das adolescentes conta que presenciou casos do tipo duas vezes. “Eu estava no primeiro ano do Ensino Médio, já não era mais aluna dele, mas ele sempre vinha puxar assunto nos corredores. Um dia, ele me parou e falou: ‘Virasse (sic) modelo?’. Eu olhei confusa para ele, e ele disse: ‘É que aquelas tuas fotos de biquíni ficaram tão lindas que parecem de modelo’. Fiquei muito sem graça na hora”, descreve, sobre uma das ocasiões. Na época, a estudante tinha 15 anos.
As jovens afirmam que outro professor chegou a constrangê-las na frente de toda a turma: “Teve uma vez que escreveram um monte de besteira no quadro e colocaram a culpa em mim. Como ele (professor) não gostava de mim, se aproveitou da situação para me humilhar na frente de todo mundo na sala, e depois ficar jogando piadinhas para cima de mim”, conta uma das alunas. Segundo a publicação, o docente chegou a tirar pontos da jovem em provas e trabalhos sem justificativas.
Denúncias formais não foram registradas por temor às possíveis consequências, segundo uma das estudantes: “Muitas meninas ficaram com medo do colégio tomar alguma providência que prejudicasse elas”. A DPCami confirma que não houve boletins de ocorrência repassados sobre os casos.
Os relatos se estendem a jovens que já se formaram, e mostram que os efeitos dos assédios não acabam quando as meninas deixam de frequentar as aulas: “Ele sempre me direcionou com um olhar malicioso, fazia carinho na mão, massagem enquanto rondava a sala, alisava as costas, mexia no cabelo, e continuava com os elogios. Tudo isso sem nosso consentimento, e sempre nos deixando muito desconfortáveis. Hoje não estudo mais lá, mas sempre que lembro tenho uma sensação ruim, o coração acelera. É horrível”, revela. A jovem conta que o quadro de ansiedade, que trata há 15 anos, se intensificava em todas as aulas do professor, se transformando em crises: “Me trancava no banheiro, não queria mais ir à aula”.
O delegado titular da DPCami de Palhoça, Rodrigo Mayer, ressalta que é importante as vítimas registrarem as ocorrências formalmente, a fim de que sejam bem orientadas: “Não consigo vislumbrar algum risco, (mas) a única possibilidade seria elas responderem por calúnia ou denunciação caluniosa, caso não sejam comprovadas as denúncias”.
Posição da escola
A direção do colégio informa que, assim que tomou conhecimento das denúncias, na madrugada da última sexta-feira (22), acionou o setor jurídico e, orientada pela Polícia Civil, informou a situação à DPCami, através do registro online de um BO. “Lançamos a nota de pronunciamento da escola, a fim de que nosso corpo escolar tomasse conhecimento de que as ações administrativas e jurídicas estavam em andamento, ainda na sexta-feira pela manhã”, garante a escola. Segundo os diretores, um boletim de ocorrência por difamação também foi formalizado: “Houve também uma difamação da instituição por omissão, fato que não corresponde à verdade”.
A escola comunica que os professores mencionados foram ouvidos no mesmo dia e medidas administrativas foram tomadas. A direção esclarece ainda que está disponível para receber qualquer estudante que queira se manifestar pessoalmente. “Na sexta-feira mesmo, entramos em contato com a ex-aluna e sua mãe, e nos colocamos à disposição, tendo em vista que não houve denúncia do fato no colégio, e sim, nas redes sociais. Soubemos da mesma maneira que a mãe da ex-aluna”, informa a diretoria.
Em nota de pronunciamento, o colégio lembra que, durante os 22 anos em que presta serviços educacionais, sempre prezou pelos “valores morais e cristãos” e está disposto contribuir nas investigações. “Diante de qualquer situação que represente ameaça a esses valores, aos seus alunos, e colaboradores, é determinado em apurar os fatos e tomar as medidas cabíveis à solução que contemple a mais ampla justiça, com fundamento no ordenamento jurídico e em cooperação com as autoridades competentes, tudo com total transparência”, traz a nota oficial emitida pela escola.
Apelo do DPCami
Como o boletim de ocorrência feito pela escola foi registrado na Delegacia Virtual, a DPCami de Palhoça justifica que não consegue identificar a natureza do documento: “Provavelmente ela (a escola) não tenha feito o registro especificamente das questões relacionadas às alunas, porque daí viria para nós”, explica o delegado Rodrigo Mayer. Ele reforça a necessidade de que as vítimas registram os casos formalmente: “Se não, fica difícil apurar essa situação”.
Denúncias podem ser feitas na DPCami de Palhoça, na rua Monza, 484, no Pagani, ou pelo telefone (48) 3286-5551. O boletim de ocorrência também pode ser realizado através da delegacia virtual da Delegacia de Polícia Virtual de Santa Catarina (delegaciavirtual.sc.gov.br).
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