Por: Willian Schütz*
Portador da síndrome de Marfan e da deformidade torácica pectus excavatum, um palhocense de 27 anos sofreu por muito tempo com problemas cardiovasculares, deformidades ósseas e constantes dores de cabeça. Após anos buscando alternativas, o tratamento com óleo extraído da planta cannabis sativa demonstrou resultados inigualáveis. Por conta disso, o jovem conseguiu, no final da última semana, autorização para plantio da erva para fins medicinais.
Conhecido na internet como Igor Seco, o palhocense é uma personalidade que defende e fala do uso da cannabis através do podcast THShow. No programa, convidados e especialistas abordam o uso da planta para fins medicinais. A cannabis sativa tem utilização milenar na medicina oriental, mas no ocidente ficou mais conhecida porque é a base da produção de duas drogas ilícitas, a maconha e o haxixe.
Atualmente, o podcaster tem liberdade legal para cultivar até cinco plantas de cannabis sativa em sua residência. Delas, ele faz, artesanalmente, a extração do óleo que serve para o tratamento. “Há mais de 10 anos sentindo dores diárias e tendo crises de dor de cabeça semanais, que cessaram quase que completamente a partir do início desse tratamento”, conta Igor.
Entretanto, para conseguir esse amparo da lei, o palhocense teve que passar por uma série de processos, que levou cerca de um ano. O processo começou após Igor retornar a Palhoça. Em 2019, ele morava em Portugal, onde conheceu e iniciou o tratamento com o óleo, obtendo uma melhora significativa nas dores de cabeça e no corpo. Com a pandemia, o jovem voltou ao Brasil e, para continuar a prática dentro da legalidade, recorreu à Justiça Federal.
Contudo, para além das causas defendidas por Seco, a insistência nesse tratamento tem como motivo a eficácia. “Não consigo lembrar quando foi minha última crise de dor de cabeça e agora até consigo fazer fisioterapia com mais facilidade, o que era praticamente impossível sem o remédio para relaxar minha musculatura e aliviar as dores”, relata o jovem.
Inicialmente, ele obteve autorização para importação do medicamento junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mas o custo mensal para a importação, sem considerar eventuais taxas, alcançaria em torno de R$ 1.367 mensais. Para tornar mais acessível, a saída encontrada foi procurar formas legalizadas de plantar a cannabis em casa.
Pela Anvisa, o uso da cannabis medicinal no Brasil é permitido desde dezembro de 2019. Mas as vias legais ainda tramitam no Supremo Tribunal Federal.
Entretanto, os catarinenses que precisam do óleo medicinal à base da cannabis podem ser auxiliados pela organização não-governamental (ONG) Santa Cannabis. Foi o caso de Igor. Com a ajuda de especialistas e profissionais que colaboram com a ONG, ele buscou conhecimento sobre o cultivo da planta e a preparação do óleo, bem como procurou maneiras de ir à Justiça pedir este direito. “A própria Santa Cannabis começou a oferecer cursos de cultivo e extração. Como era da minha pretensão fazer um cultivo dentro da lei, optei por me matricular em uma das turmas abertas pela associação. Assim, garanti o certificado assinado e carimbado por eles”, conta Igor.
Com o cultivo viabilizado, Igor importou sementes para iniciar o plantio. “Estou fazendo a importação de sementes vindas da Holanda, da Espanha e do Uruguai, de bancos especializados, com as quais consigo definir a quantidade exata de canabinol necessária para o meu tratamento”, destaca.
Livre das dores e com a situação de cultivo legalizada, Igor Seco também fala que, além de aprender a fazer o próprio medicamento, ganhou um novo hobby.
* Sob a supervisão de Alexandre Bonfim