Para marcar a passagem do Dia do Índio, celebrado em 19 de abril, alunos do Ensino Médio Integral em Tempo Integral (Emiti) da EEB Ivo Silveira, no Centro de Palhoça, recebem representantes da comunidade indígena da aldeia guarani do Morro dos Cavalos na última terça-feira (15).
A iniciativa foi fruto da disciplina de Arte e Cultura, ministrada no programa Emiti no contraturno escolar. Na última sexta-feira (12), as turmas de 1º, 2º e 3º Anos visitaram a aldeia para conhecer a realidade do povo indígena, e nesta terça-feira (16) aconteceu a visita dos índios à escola palhocense.
Na primeira atividade do dia, um grupo de coral indígena, com reforço de instrumentos musicais como violão e violino, fez sua apresentação com canções sagradas para os guaranis. Em seguida, a liderança da Terra Indígena Morro dos Cavalos Elizete Antunes (cacique da Tekoá Yakã Porã), uma das coordenadoras da escola Itaty, conversou com os estudantes. “Gostaria de agradecer pelo convite. A gente vem de uma luta de muitos e muitos anos com nosso Território Indígena Morro dos Cavalos, e é a primeira vez que nosso coral, nossas lideranças e professores, recebem o convite para participar de um evento numa escola, junto com os alunos, no município de Palhoça”, expressou a cacique.
A cacique falou da característica de miscigenação do povo brasileiro, com sua mistura de culturas e das apropriações culturais decorrentes dessa miscigenação. E pediu atenção à visão histórica do povo indígena. “Hoje a visão do indígena é bem diferente da nossa visão, porque os livros da história do Brasil não foram escritos pelo povo indígena, foram escritos pelo homem branco, na visão que ele vê o indígena. Se nós, indígenas, começarmos a contar a história do Brasil, a história do povo originário, é bem diferente da história contada nos livros”, observou.
Elizete também falou da tramitação legal do processo de demarcação da Terra Indígena Morro dos Cavalos e falou da campanha que a comunidade tem feito para buscar o reconhecimento não somente junto à Justiça, mas junto à população brasileira. “A gente quer o reconhecimento do povo, da Palhoça, do estado de Santa Catarina, de que o Morro dos Cavalos é uma terra tradicional guarani. Então, onde eu passo, eu sempre peço para a gente fazer o nosso grito de guerra: Morro dos Cavalos é terra guarani”, finalizou - o grito foi repetido pelos estudantes presentes no evento.
O professor de Arte e Cultura Arilson Daniel Soares Costa agradeceu a presença da liderança indígena no evento da escola. “Conhecendo nosso passado, nós compreendemos um pouco melhor o nosso presente e almejaremos um futuro melhor. Espero que essa atitude de hoje vá além dos muros do colégio, que toque suas mentes e seus corações, que ao olhar para o outro você veja ali a figura de um ser humano, que tem as mesmas necessidades que você, precisa de respeito, precisa ser reconhecido, e é gente igual a gente”, refletiu o professor.
Em seguida, alunos do Ivo Silveira apresentaram uma peça de teatro aos colegas e aos visitantes. “Esta peça se organiza nas técnicas do teatro do oprimido, que discute questões de opressões sociais, de uma forma geral”, explicou a professora de Artes Débora Fernandes Medeiros. A professora declarou que a intenção era a de propor uma reflexão a respeito da demarcação das terras indígenas.
A peça teve como primeiro ato uma encenação feita em cima do poema Toada do Pai-do-Mato, de Mário de Andrade. O segundo ato apresentou um fragmento da canção “Curumim Chama Cunhantã”, de Jorge Ben Jor: “Antes que os homens aqui pisassem / Nas ricas e férteis terraes brazilis / Que eram povoadas e amadas por milhões de índios / Reais donos felizes / Da terra do pau-brasil / Pois todo dia, toda hora, era dia de índio”. O terceiro ato foi uma cena organizada pelos próprios alunos. A ideia central era mostrar que o território original do Brasil era ocupado livremente pelos indígenas, que perderam suas terras com a ocupação europeia e seu sistema de delimitação territorial. “Este ato discute a questão do território brasileiro, que era povoado pelos indígenas e chega o homem branco e em um ato de muita crueldade vai tomando esse território”, diz a professora Débora. “Foi difícil construir esta cena porque é muito difícil construir algo novo em uma sociedade como a nossa, que é muito conversadora e tem um visão muito fechada de índio, de que índio só veste pena e vive no meio do mato. Nós tentamos representar algo mais contemporâneo, mais condizente com a realidade”, comenta o aluno Jean Fábio Oliveira Stefanes, que participou da direção da peça.
Outras atividades se seguiram durante a celebração. O evento marcou a realização da Semana Indígena, que também contou com a colaboração da professora de Artes Ana Paula Lopes na organização.