Os irmãos Renato da Silva, terceiro-sargento do Corpo de Bombeiros Militar, e Reginaldo da Silva, terceiro-sargento da Polícia Militar Ambiental, salvaram as vidas de seu Manoel, de 58 anos, e seu filho Israel, de 36 anos, na manhã de quarta-feira (25), em um arriscado resgate no mar, a aproximadamente oito milhas da costa.
Nascidos e criados na Guarda do Embaú, Reginaldo e Renato conhecem como poucos os segredos da navegação no entorno das ilhas Moleques do Sul, na ponta Sul da Ilha de Santa Catarina. Estavam pescando nas imediações de um local conhecido como Berço do Tio, onde fica uma pedra chamada de Cabeça de Índio. Perto dali, há uma formação de pedras que fica submersa, longe da vista dos navegadores. Em intervalos periódicos, quando o mar se aproxima daquelas pedras, é formada uma série de ondas. Manoel e Israel, que moram na Praia do Campeche, em Florianópolis, pescavam ali em uma lancha de fibra de 16 pés, que recebeu o nome de Barba Negra, e haviam fisgado um peixe. Eles não perceberam a série chegando. “Estávamos pescando, eu e meu filho, e o mar estava aparentemente calmo, quando formou-se uma onda enorme e ia nos jogar no paredão de pedra. Nesse momento, meu filho deu a ré na lancha, para tentar uma saída. Veio a segunda onda e levou a lancha e nós pra debaixo d’água, nos arremessando numa fenda debaixo das pedras”, conta seu Manoel.
Os irmãos palhocenses pescavam a aproximadamente 150 metros dali, em outra lancha, uma Fly Fischer de 17 pés, a Embaú Mar I, registrada na Marinha do Brasil. Renato, que estava na condução da lancha, avistou o outro barco e chamou o irmão, que presenciou o momento em que a onda atirou a lancha em direção às rochas. “Se ele não vê, eu não tinha visto. Quando ele falou, a lancha estava no lip da onda, ainda”, lembra Reginaldo. “A lancha foi na direção do costão em uma velocidade incrível, parecia que eles estavam acelerando”, descreve Renato.
Imediatamente, os irmãos recolheram suas linhas de pesca da água, pegaram a boia de salvatagem e se aproximaram da perigosa fenda no costão. “Chegando lá, não vimos nada, só espuma. Falei pro meu irmão: cadê os caras? Morreram”, diz Renato. “Foi cena de cinema, a lancha afundou com eles”, emenda o irmão.
De repente, a uma distância de dois metros do costão, os irmãos avistaram o filho emergindo na espuma do mar, com a cabeça coberta de sangue, com cortes profundos na cabeça e várias escoriações pelo corpo. Eles aproximaram a lancha de ré (por uma questão de segurança, diante do mar agitado; um vacilo poderia provocar outro acidente trágico), jogaram a boia, seguraram o rapaz e puxaram para dentro do barco. Ele estava desesperado e só perguntava pelo pai. Para dificultar ainda mais o resgate, o pé de Israel estava enrolado em uma linha de pesca, forçando o corpo dele para baixo.
Seu Manoel só foi avistado cerca de dois minutos depois. “O mar jogou ele aqui, ele vinha descendo e parou bem na boca da fenda”, narra o policial militar ambiental. Os irmãos, então, refizeram a manobra de ré, jogaram a boia novamente e seguraram seu Manoel, que, a exemplo do filho, vestia uma capa, mas não usava colete salva-vidas. “O pai dele falava: ‘Não me solta que eu não volto mais’. Estava bem fraco. Imagina a porrada que ele levou na fenda. E ele tentava sair, e o mar não deixava, jogava ele de volta lá dentro da fenda”, relembra Reginaldo, que resgatou os dois homens, enquanto Renato manobrava o barco.
Imediatamente após resgatarem o segundo homem do mar, os irmãos entraram em contato com o serviço de emergência dos Bombeiros (193), solicitando apoio da equipe do helicóptero Arcanjo, mas a aeronave estava em manutenção; outro helicóptero utilizado em resgates, o Águia 01, estava em operação. Assim, os irmãos decidiram levar os dois feridos até a orla da praia da Ponta do Papagaio, navegando por mais de meia hora, em um trecho de cerca de 14 quilômetros. Na praia, pai e filho foram socorridos pela equipe do Corpo de Bombeiros. Além das escoriações, eles apresentaram sinais de afogamento (grau um, mais leve) e foram encaminhados para o Hospital Regional de São José. Israel precisou levar 30 pontos para suturar os cortes na cabeça; seu Manoel teve ferimentos na cabeça e na lombar. Os dois se recuperam bem. “Se a gente não estivesse ali, seriam dois óbitos”, avalia Reginaldo. “Felizmente, conseguimos resgatar os dois”, comemora o irmão.
As duas famílias unidas por um resgate heroico estabeleceram laços de amizade e, neste domingo (6),vão se reunir para um almoço de agradecimento no Campeche. “Os caras nasceram de novo”, define Renato. “A nossa sorte é que dois anjos de guarda estavam pescando ao lado, o senhor Renato e o senhor Reginaldo. Com certeza, renascemos pelo ato de grande bravura desses irmãos”, agradece seu Manoel.