O “mundo virtual” da sociedade moderna não existia nem nos sonhos mais visionários de futuro, quando dona Olga Hoffmann Zunino nasceu, em 17 de fevereiro de 1920. Se houvesse, dona Olga seria uma “influencer”, pela capacidade de influenciar as pessoas, com carisma e com a sabedoria da palavra certa no momento certo.
No aniversário de 100 anos, celebrados no mês passado, os oito filhos se reuniram para paparicar a mãe: Alda, Aldo, Avanda, Altina, Arnaldo, Norma, Arlindo e Anilda. Dona Olga merece toda a reverência. Casou-se aos 21 anos de idade com Alberto José Zunino, de Tijucas. Já tinha as cinco meninas (a mais velha, com 13 anos; a mais nova, com nove meses) e os três meninos quando seu Alberto faleceu, em função de complicações de uma úlcera.
A doença do marido acabou consumindo bens e economias da família. Quando ele faleceu, dona Olga assumiu a casa, aos 36 anos de idade. Precisava cuidar dos oito filhos e sustentar a família. Moravam em Ituporanga. Nascida e criada no campo, conhecia os meandros da lida na roça, subia morro com carro de boi, criava animais, fazia queijo. E os filhos vinham em primeiro lugar. “Se tivesse apenas quatro ovos, ela repartia em oito, dava metade para cada filho e ela ficava sem”, relembra o dentista Arnaldo Zunino, o quinto filho do casal.
“A gente aprendeu muito com ela”, lembra a filha Avanda. “Ela não era de falar, mas falava pouco e falava o certo”, descreve a filha Norma. Norma diz que um dos grandes aprendizados foi o pensamento coletivo: “Nunca era ‘eu’ fiz isso ou aquilo; era sempre nós. A nossa casa, nós vamos fazer isso ou aquilo”. E mesmo já idosa, tinha o costume de falar dos filhos como “nossas crianças” – e a mais nova, Anilda, tem 65 anos!
Outra virtude da mãe foi o estímulo que sempre deu para que os filhos tivessem, cada um, sua profissão. “Todo mundo amadureceu cedo, porque tinha a responsabilidade de tomar conta da própria vida”, relembra Avanda. E dona Olga foi até “profeta”, porque pensava: “Ah, quem tivesse um filho dentista...”, com um orgulho que viria, de fato, a ter: três dos filhos e quatro netos são dentistas – ao todo, são 26 netos e 24 bisnetos.
Dona Olga era rígida, mas não tinha o hábito de “bater” nos filhos, como muitos pais daquela época faziam. Aliás, muitos dos ensinamentos que ela passava aos filhos, aprendera com o marido. Ou seja, mesmo depois de morrer, seu Alberto continuava educando os filhos. “A mãe dizia, sempre, que o pai falou que ela precisava criar os filhos para serem trabalhadores, honestos e caprichosos, para fazer tudo bem feito e, assim, nunca precisar se curvar ao passar por alguém. Para a gente, era uma ordem”, relata Arnaldo. Ele conta que a mãe nunca foi contra que os filhos fossem a festas, fumassem ou bebessem, mas dizia: “Nunca vou dar dinheiro para cigarro ou bebida”. “Ela pensava em tudo, sempre foi muito inteligente para criar os filhos”, emenda Arnaldo. “Tudo só foi possível por ser uma pessoa de muita fé, que andou nos caminhos de Deus”, destaca Norma.
Hoje, os filhos a cuidam e repartem a tarefa com cuidadoras, que são elogiadas pela matriarca. “Cuidam muito bem de mim, são muito caprichosas”, diz dona Olga, que mora na Ponte do Imaruim – chegou em Palhoça no início dos anos 1990 –, onde costuma receber a visita frequente dos filhos e está sempre cercada de muito amor. O mesmo amor que passou a vida distribuindo.