Será que um dia vamos começar a aprender com nossos erros? Será que um dia vamos entender que nossos erros podem ter reflexos devastadores para a coletividade? Será que um dia teremos uma sociedade onde o coletivo seja prioridade diante da individualidade? Será que um dia vamos entender que o meio ambiente é a nossa casa? Talvez, nesse dia, não tenhamos notícias como a que, mais uma vez, entristeceu os palhocenses e trouxe preocupação a toda a comunidade da Baixada do Maciambu: um incêndio de grandes proporções consumiu, em dois dias, cerca de mil hectares de vegetação (o que equivale a 1.400 campos de futebol) do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro.
“Com certeza, a origem foi decorrente do fator humano”, sentenciou o coronel Marcelo Pontes, comandante da Polícia Militar Ambiental de SC, em entrevista à rádio CBN/Diário. O fator humano! Mesmo diante de tantos alertas quanto aos riscos de atear fogo em ambiente não controlado, especialmente neste momento, em que a vegetação é castigada pela estiagem. Mais uma vez, o castigo veio em forma de chamas.
O fogo começou no final da manhã de terça-feira (10). Equipes do Corpo de Bombeiros Militar (CBM/SC) trabalharam até as 4h30 da madrugada de quarta (11), com cerca de 35 bombeiros militares e comunitários, utilizando abafadores e bombas costais. Também foram empregadas cinco viaturas de combate a incêndio, dois caminhões-pipa da Secretaria Executiva de Saneamento de Palhoça (Samae), três auto-resgates, dois auto-socorros de urgência (ASU) e duas viaturas para transporte de pessoal. Foram gastos 153 mil litros de água entre água salgada trazida pelo helicóptero Arcanjo e água dos caminhões. “Foi complicado. Ficamos até as 4h30min lá. Seguramos tudo o que estava perto das residências. Foi bem difícil, muito vento”, revelou o tenente Marcelo Pereira, que está respondendo pela 2ª Companhia do 10º Batalhão de Bombeiros Militar, sediada em Palhoça - o comandante, o capitão Fernando Ireno, está fazendo um curso em Florianópolis.
Não há registro de casas atingidas, mas moradores chegaram a ser retirados de residências que estavam na linha do fogo. “Chegou perto. Na verdade, chegou quase a queimar o beirado de uma casa, mas foi revertido, sem vítimas, só o estrago ambiental”, observou.
A situação estava tão crítica que o prefeito de Palhoça, Camilo Martins (PSD), decretou, na noite de terça-feira (10), situação de emergência na cidade, por conta do incêndio que atingia o Parque Estadual Serra do Tabuleiro. A Defesa Civil municipal auxiliou os bombeiros no combate às chamas desde a manhã de terça.
Os trabalhos foram reiniciados na quarta-feira (11), às 7h30, com um sobrevoo do Arcanjo, além do deslocamento de equipes por solo, porque novos focos foram identificados. Foram montadas quatro frentes para o combate direto aos focos de incêndio, com batedor, abafador e bomba costal, junto à aeronave Arcanjo, que usa um cesto acoplado na aeronave com capacidade de 540 litros de água em cada arremesso.
Os dois focos principais se intensificaram e a prioridade para os bombeiros era o combate no local mais próximo das residências. No período da tarde, até as 16h, já haviam sido lançados 44 mil litros de água pelo helicóptero Arcanjo 01 e aproximadamente 80 mil litros pelos caminhões de combate a incêndio. O trabalho continuou à noite, com 50 bombeiros militares e comunitários. Homens das forças-tarefas dos batalhões de Balneário Camboriú e Criciúma se deslocaram com equipamentos e viaturas próprios para o combate.
Por volta das 20h, o vento havia diminuído, facilitando o trabalho dos combatentes, e a situação parecia praticamente controlada. “Faltam alguns pequenos focos para corrigir agora à noite e amanhã de manhã que eles vão retomar o trabalho, porque a volta, com o amanhecer, o dia nascendo, o calor, o sol, algum foco que tenha sido mal combatido pode voltar a ter uma reignição e começar todo o processo de novo. Então, hoje (quarta) foi um dia bem árduo, bem trabalhoso, mas conseguiram combater. Até agora, umas oito horas da noite, estava quase tudo controlado, só pequenos focos. Esperamos que nesta madrugada consigamos resolver 100% para amanhã estar tudo sob controle”, projetava o capitão Ireno, na noite desta quarta-feira (11).
Mesmo com o fogo controlado, o estrago está feito e é difícil mensurar as consequências desse incêndio para o ecossistema local. “É bem difícil mensurar o impacto em uma queimada como essa, porque são muitos hectares, então é perda de hábitat. E mesmo os animais que sobrevivem, como a área foi destruída, os animais que conseguem se deslocar para outras áreas que ainda têm condição de vida, que ainda têm recurso, costumam pressionar essas áreas, aí começa uma competição entre eles nesses fragmentos que restaram. É sistêmico, o impacto”, afirma a geógrafa Haliskarla Moreira de Sá