Por: Vinicius Lummertz*
Santa Catarina é um estado sem grandes metrópoles. A maioria das cidades são pequenas e médias, compostas por imigrantes vindos da Europa no final do século 19. Gente que trabalha duro, que leva uma vida frugal e tem a modéstia como marca registrada.
É um estado que não fala alto - mas fala sério. Não aceita tutelas nem censuras, como ultimamente algumas instituições de controle vêm tentando fazer.
Se fôssemos interpretar o que seria uma ideologia catarinense, eu diria que ela é, basicamente, conservadora nos costumes, voltada para a família e o trabalho sob uma forte herança de comunitarismo europeu. De onde deriva um alto “capital social”, na definição de Robert Putnam.
Acima de tudo, a mentalidade catarinense ainda reflete a forte herança da saga colonial. A fuga da Europa para cá tem origem na mesma motivação das famílias que foram em busca de liberdade e oportunidade nos Estados Unidos.
O modelo de ocupação do Sul do Brasil pelo Império é o mais aproximado da formação dos primeiros estados norte-americanos. Portanto, esse conservadorismo é libertário - buscava escapar dos poderes feudais e eclesiásticos. Trata-se de um conservadorismo liberal, principalmente na economia.
Na mala europeia – sobretudo, no baú das igrejas – vieram alguns elementos dissonantes da visão majoritária. Estavam dentro da Igreja Católica e foram “ativados” pela encíclica Rerum Novarum, de João XXIII - na chamada opção pelos pobres. Um padrão estético fácil se olharmos pelas lentes de Bertolucci no filme “Novecento”.
É basicamente a esquerda do bispo Dom José Gomes, de Chapecó, berço do Movimento dos Sem-terra no Brasil - sob o paradoxo de ter origem no estado de melhor distribuição de terras do Brasil.
A vitoriosa e marcante experiência da industrialização catarinense teve a marca do estado com base em Florianópolis, com a criação de um modelo institucional que funcionou como plataforma para o empreendedorismo de origem colonial-conservador-liberal.
Santa Catarina também foi berço do movimento nacional das micros e pequenas empresas, com base em Blumenau e Joinville. E hoje se projeta como a terra das startups - uma cara nova da ideologia catarinense.
A ideologia catarinense assim se desenha. Fala pouco de si. Explica-se por fatos e ações. Somos um estado pragmático. E o que quer a ideologia catarinense? Um estado que funcione como plataforma e que interfira pouco na economia. Rechaça tutelas e, com respeito e educação, diz não à interferência do ativismo judicial com base nos palácios de vidro de Brasília.
A ideologia catarinense quer liberdade para trabalhar, produzir e crescer - e sabe socializar os frutos do seu trabalho.
* A partir desta semana, o presidente da Embratur, o catarinense Vinicius Lummertz, publicará artigos periodicamente no Palavra Palhocense, com foco em turismo e desenvolvimento sustentável em Santa Catarina. Lummertz é formado em Ciências Políticas pela Universidade Americana de Paris; fez pós-graduação na Kennedy School, da Harvard University, e no IMD, de Lausanne, Suíça; e fez MBA-Executivo na Amana Key, em São Paulo. Antes da Embratur, foi secretário Nacional de Políticas de Turismo, no Ministério do Turismo. Lummertz teve papel relevante durante os governos de Luiz Henrique da Silveira. Foi secretário de Articulação Internacional de janeiro de 2007 a dezembro de 2010, e também secretário de Planejamento (acumulando) durante o ano de 2010. Na Capital, foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif) e foi secretário de Turismo, Esporte e Cultura de Florianópolis.