Por: Willian Schütz*
Nos últimos dois meses, o Haiti passou por duas grandes turbulências: uma catástrofe natural, com milhares de vítimas, e um atentado que mudou drasticamente seu clima político. Essas instabilidades no país mais vulnerável das Américas fazem com que os haitianos que escolheram Palhoça como refúgio se preocupem ainda mais com os familiares que lá permanecem. Além disso, ainda são muitas as dificuldades, tanto para quem lá ficou quanto para quem aqui está.
Estima-se que milhares de vítimas seguem desaparecidas após o terremoto de magnitude 7,2 na escala Richter, que devastou o sudoeste do Haiti no dia 14 de agosto. A catástrofe deixou mais de 2,2 mil mortos e 12 mil feridos.
Pai de seis filhos, o agricultor Dumont Avenor reside na comunidade de Camp-Perrin, no Haiti. No momento do terremoto ele trabalhava do lado de fora de casa, quando ouviu um som muito forte. “Pensei que era chuva, mas não. Minha esposa havia saído com dois de meus filhos. Quando as crianças ouviram o barulho, eu lhes disse que era um terremoto e que precisavam se juntar a mim no pátio”, relembra, atônito. Dumont ainda conta que, de repente, a casa começou a tremer. “Eu fiz as crianças se deitarem no chão”, narra.
O haitiano lembra do cenário assombroso que viveu. No caminho de volta para casa, encontrava pessoas e as colocava em uma quadra esportiva. “Muitas pessoas morreram, pessoas que conhecíamos. Isso nos abalou muito”, lamenta.
O desastre climático ocorreu em um cenário marcado por um clima de tensão política, visto que no dia 7 de julho houve o assassinato do presidente do país, Jovenel Moïse, e da primeira-dama, Martine Moïse.
Após esses acontecimentos, imigrantes que moram na Grande Florianópolis relatam que reforçaram o contato com seus familiares, que revelam o agravamento da situação no país.
É o caso Prisca Saul, estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária no campus da Unisul na Pedra Branca. Com os pais e irmãos morando numa cidade no norte do Haiti, Prisca tem usado o telefone para conversar com a família.
Prisca acredita que a ajuda externa em momentos como epidemias e terremotos é importante. “Mas chega um momento em que as forças desses países vão embora, e a situação continua”, enfatiza. Ela também diz lamentar o assassinato do presidente Moïse e conta que se preocupa com a situação política do país.
Assistência em Palhoça
A imigração de cidadãos haitianos para o Brasil tem sido volumosa desde o terremoto que ocorreu por lá, em janeiro de 2010, matando mais de 300 mil pessoas e deixando 1,5 milhão de desabrigados. A nação brasileira possui leis de Seguridade Social e do Imigrante, que asseguram legalmente proteção social aos imigrantes.
O Centro de Referência da Assistência Social (Cras), situado no Jardim Eldorado, contribui para as questões sociais, envolvendo essas pessoas que chegam ao município. O território de cobertura da instituição abrange os bairros Jardim Aquárius, Jardim Eldorado, Jardim das Palmeiras, Jardim Eucalipto, Passa Vinte, Pedra Branca e Ponte do Imaruim. Sendo assim, é o órgão palhocense que mais atende pessoas que chegam do Haiti.
Entretanto, um documento elaborado pelo Cras em 2020 aponta que a comunicação entre os profissionais e os usuários haitianos é um dos principais desafios enfrentados na chegada e no atendimento desses novos munícipes.
Em Palhoça, também situa-se a Associação dos Haitianos de Santa Catarina (Ahsc), que atua realizando apoio e incentivo cultural a esse grupo de imigrantes, facilitando sua inserção na sociedade catarinense. A sede da instituição fica no Aririú, e informações podem ser obtidas pelo telefone (48) 3342-3071.
Já a Faculdade Municipal de Palhoça (FMP) também contribui, desde 2015, com projetos que envolvem ensino da Língua Portuguesa para estrangeiros, que vêm sendo muito procurados nos últimos anos.
Ajuda Organizada
Nesse momento delicado, há diversas organizações não-governamentais (ONGs) ajudando a levantar fundos para os haitianos. Uma delas é a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra) Internacional, que definiu a meta de atender a população local com tendas, lonas, kits de abrigo, comida e água em St'Louis du Sud, Les Cayes e em Camp-Perrin.
Para lograr seu objetivo, a agência está liderando uma mobilização mundial para angariar recursos. No Brasil, a campanha #JuntosPeloHaiti começou no dia 16 de agosto.
Presente na ilha há mais de 30 anos, a Adra trabalha em parceria com o Hospital Adventista do Haiti (HIH), situado em Diquini, a cerca de 120 quilômetros do epicentro.
Para apoiar o trabalho no atendimento à população do país, é possível fazer uma doação via PIX, com a chave: juntospelohaiti@adra.org.br. A chave é um e-mail que também pode ser utilizado para contato.
* Sob a supervisão de Alexandre Bonfim
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