Você reconhece um virtuoso pela evidência do talento, e também, pela atitude. Nem precisa entender muito de música para perceber que o jovem Hasaff Cardoso Pereira, de apenas nove anos de idade, morador do Madri, é uma dessas exceções que a arte nos apresenta em raras ocasiões para ajudar a colorir, entre acordes bem executados, o cinza da rotina cotidiana. Bastam alguns minutos de conversa para observar que a inquietude do menino de olhos inteligentes é uma companhia inseparável da virtuosidade. Hasaff nasceu no seio de uma família de artistas e certamente vai levar a vocação musical adiante - até limites, hoje, imensuráveis.
A família inteira tem a arte no sangue: a mãe, Joelma, e o irmão, Augusto, têm o talento das artes plásticas; e o pai, Fabrício da Silva Pereira, é músico. Fabrício conta que entrou em uma banda musical com apenas nove anos, a mesma idade que o filho tem hoje. “Meu ouvido é muito aguçado, também, sempre tive facilidade de pegar instrumento de sopro e hoje vivo disso”, diz o sargento músico do Exército, lotado no 63º Batalhão de Infantaria, localizado no Estreito, em Florianópolis. Fabrício é multi-instrumentista e toca saxofone na banda do batalhão. Já tocou na noite e já integrou a Camerata Florianópolis e a Orquestra Sinfônica de Santa Catarina - o que não é para qualquer músico!
O que também não é para qualquer músico é um talento como o do jovem aprendiz. Aliás, autodidata. “Ainda bem que eu aprendo sozinho, prefiro aprender tudo sozinho”, celebra Hasaff. Sentado no sofá de casa, no Madri, parece inquieto, ansioso. Era visível que não via a hora de mostrar por que tem arrancado elogios de músicos experientes. Quando os pais trazem o teclado, uma de suas paixões, não perde tempo e logo se põe a tocar. Seus ritmos preferidos são o funk norte-americano e o jazz. Elogia o talento de pianistas como o norte-americano Brian Culbertson e o colombiano Jesús Molina. “A única coisa que eu queria muito ver na minha vida é um piano de cauda”, conta.
Não é a “única coisa”. Tem outros sonhos também, como o de comprar uma bateria acústica para substituir a bateria elétrica que ganhou de Natal. Ah, sim: além de piano, ele também toca bateria. “Estou guardando meu dinheiro para trocar logo a minha bateria por uma acústica, não aguento mais”, conta Hasaff, com os olhos brilhando, como se estivesse vendo a “bateria dos sonhos” bem ali, na sua frente. Enquanto a bateria sonhada não chega, ele “batuca” onde pode e como pode. Foi assim desde sempre, desde os três anos de idade. “Como a gente é evangélico, na igreja sempre tem conjunto. Aí, ele via os rapazes tocando bateria nos conjuntos da igreja, e meu irmão é baterista, então ele foi pegando o gosto, e a criançada gosta de bateria, de barulho, bater e tal. Era assim: terminava o culto, pensa num trabalho para tirar ele da bateria”, relembra o pai.
Quando estava em casa, batia no sofá. “A primeira bateria do Hasaff foi o nosso sofá. Ele acabou com sofá, cadeira, banqueta. Aí resolvemos dar uma bateria de presente”, descreve Joelma. Nas mãos de um artista, talheres viram baquetas. “Quando não tinha colher, eu usava garfo; quando não tinha garfo, eu usava faca”, diverte-se Hasaff. E quando ele não tem bateria, usa emprestada mesmo. Foi assim que ele foi “descoberto”, durante uma orquestra de baterias, na Pedra Branca, no ano passado. O evento reúne diversos bateristas, que tocam juntos a mesma música, acompanhados por uma banda. Hasaff se encantou pela bateria do consagrado músico palhocense Chico Santos. “Ele tava com o pai dele ali e pediu pra fazer uma música no final, e eu fiquei pensando por que o pai dele não trouxe o moleque no evento, aí ele falou que estava em trabalho, estava em missão, e não ficou sabendo, e acabou que eles não levaram ele. Aí, no final, eu deixei ele tocar a última música com a galera e este ano ele foi na orquestra de bateria de Florianópolis”, conta Chico, que é só elogios para o talento do garoto. “Este menino é um prodígio, ele tem um talento excepcional. Tem ritmo pra caramba, um moleque bem disciplinado, a própria postura dele tocando bateria, tu vê que é uma postura quase de um profissional. Fiquei de bobeira com esse moleque”, elogia Chico Santos.
Fabrício também destaca o virtuosismo do filho. “Ele tem muita noção de ritmo, de tempo, e é absurda a coordenação que ele tem. E eu acho que ele tem o ouvido absoluto, porque ele consegue pegar os sons de uma forma muito precisa, ele identifica quando está errado rapidinho”, declara o pai. “Tu vê ele tocar, parece que é simples demais, fácil demais, e ele não quer nem saber se tem gente olhando, ele não se intimida. Aliás, quanto mais gente olhando, melhor”, brinca o sargento músico. Hasaff agradece: “Ainda bem que Jesus me criou com essa habilidade. A música está no meu sangue”.
Está no sangue e em breve deve estar também na televisão. Nesta quarta-feira (4), já apareceu em um quadro da programação local do canal SBT. A família o inscreveu em programas de auditório que têm audição para talentos infantis, como os dos apresentadores Raul Gil, Eliana, Sílvio Santos e Ratinho. Não vai demorar muito para ganhar as telinhas.