Outra proposta que está sendo estudada pela Câmara de Vereadores é a construção de um abrigo para receber mulheres em situação de violência doméstica. Hoje, o município paga, esporadicamente, por vagas em instalações externas. “Esta mulher que sofreu violência, ela não pode voltar para casa. A gente quer fazer algo mais humanizado, porque ela chega num hotel, por exemplo, e olha para as paredes brancas, para a TV... Então, queremos que ela tenha um acompanhamento e suporte pela nossa própria rede”, afirma a vereadora Mariah Terezinha do Nascimento Pereira (PSB).
Enquanto não constrói um abrigo próprio, uma opção seria estabelecer um convênio com entidades que ofereçam esse tipo de serviço. Representantes de uma dessas instituições, a Für Gott Arbeit (FGA), estiveram na Câmara de Vereadores no dia 26 de setembro do ano passado para mostrar aos parlamentares palhocenses o trabalho que realizam e os números da violência contra a mulher em Palhoça. Números que são preocupantes. Em 2017, a Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCami) de Palhoça divulgou um balanço revelando que a violência doméstica contra a mulher liderava as estatísticas entre os 5.359 Boletins de Ocorrência registrados na delegacia.
Os dados de 2018 devem ser divulgados em março e não devem ser muito diferentes. Os casos de violência contra a mulher se multiplicam nos noticiários do país inteiro. E além de combater a situação na esfera criminal, é preciso, também, trabalhar o aspecto social. Enquanto a Justiça não determina as medidas protetivas que a lei dispõe, a mulher precisa ficar sob o mesmo teto do agressor? Como fazer se não há parentes por perto? É nesses casos que a FGA pode atuar. “Nós somos uma instituição sem fins lucrativos, pioneira nesse atendimento aqui. Começamos em São José, porque a violência era um dos focos maiores e decidimos montar um serviço que acolhesse essas mulheres”, explica Oclides Rodrigues, diretor institucional da FGA. “A gente detectou, na cadeia dessa violência, que a mulher vinha à delegacia registrar o B.O e não sabia o que fazer: como voltar para casa ou levar o filho de volta para casa se o agressor está lá? Boa parte tenta fugir para longe, eram orientados a buscar parentes ou então ficar na casa enquanto a Justiça não determinasse uma medida protetiva. Foi onde surgiu o serviço de acolhimento”, detalha.
O acolhimento é feito em um complexo amplo, em um lugar com ambiente acolhedor, equipado com lavanderia, refeitório, dormitórios e sala para o contato com visitas. Tem até piscina e um espaço de brinquedoteca para os filhos das mulheres acolhidas – aliás, as próprias crianças podem, também, permanecer na casa de passagem. Ali, as mulheres também recebem assistência social, jurídica e psicológica. O atendimento é personalizado. É desenvolvido um plano individual de atendimento, onde são trabalhadas as potencialidades e as fragilidades de cada mulher acolhida.
A instituição também se preocupa com a reinserção dessas mulheres na sociedade, especialmente no mercado de trabalho. Por isso, questão de capacitação profissional e empregabilidade também são trabalhadas. “Já atendemos aproximadamente 500 mulheres nesse período todo, e todas estão no mercado de trabalho. Isso que os dá esse ânimo de todos os dias ter essa batalha, porque é uma política eficiente”, garante o diretor institucional. Além de conseguir um emprego, através da sua rede de parceiros a FGA consegue a doação de móveis e até o pagamento do primeiro mês de aluguel para este momento de recomeço na vida dessas mulheres.
A casa de acolhimento, hoje, tem capacidade para até 60 pessoas; há um convênio com o município de São José, desde 2011, para o atendimento de até 30 acolhidos; 10 mulheres moram, atualmente, no local. Como há vagas disponíveis, a instituição começou a procurar outras Prefeituras para oferecer o serviço, e uma dessas Prefeituras procuradas foi a de Palhoça. A FGA já atendeu uma família palhocense. “Teve uma mulher em Palhoça que o ex-marido era integrante de um grupo criminoso que atua no tráfico de drogas. Ela ficou acolhida durante um mês. Foi em 2017, o caso envolvia a questão de abuso sexual da filha do casal. Foi um caso bem grave, que abalou bastante Palhoça, e como não existia o convênio, nós nos sensibilizamos com a história e bancamos essa mulher aqui durante um mês”, recorda Oclides.
Saiba mais
A organização da sociedade civil Für Gott Arbeit (FGA) existe desde 2003. Apesar do nome, é uma instituição brasileira - havia muitos alemães entre os fundadores, por isso o nome em alemão, que significa, em uma tradução livre “Para o trabalho de Deus”
A FGA atua no assessoramento de instituições públicas e privadas, contribuindo para a captação, elaboração, execução, planejamento, prestação de contas, monitoramento e avaliação de projetos, programas ou serviços
Sua atuação é reconhecida e já lhe concedeu importantes certificações tais como: Cadastro Nacional de Entidades Beneficentes de Assistência Social concedido através da Portaria nº 82 de 30/05/2017, item 12, do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário; declarada de Utilidade Pública Estadual, através da Lei nº 16.639/2015.
Possui atuação em conselhos de políticas públicas, tais como assistência social e criança e adolescente