Palhoça está representada na Mostra Curtas Catarinenses da 24ª edição do Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM). A produção Sanguíneo, de Débora Espit, e Ratoeira, de Carlos Adelino, que também filmou em São José e Florianópolis, fazem parte dos seis filmes selecionados para a categoria.
Outro filme identificado com Palhoça selecionado para a mostra é o documentário A Morte Branca do Feiticeiro Negro, do ex-aluno de Cinema da Unisul Rodrigo Ribeiro.
De acordo com a diretora de programação do FAM, Marilha Naccari, esta é uma das melhores seleções de todos os tempos.
Na Mostra Infantojuvenil, que recebeu 35 inscrições de diversos países, foram selecionadas seis produções para a mostra competitiva. O Brasil está presente com três filmes, sendo uma produção catarinense, Fermento, de Carlos Eduardo Ceccon, gravada em Palhoça – as outras duas são dos estados da Bahia e Alagoas. Da Argentina, vêm duas animações, e o filme colombiano El Congo de Oro faz sua estreia internacional.
Isso, claro, se o evento conseguir ser realizado. Cumprindo o compromisso com os 832 filmes inscritos no FAM2020, a produção está divulgando os selecionados, mas ainda não tem garantida a realização do festival. Para conseguir ser realizado, estão com a campanha de financiamento coletivo e o prazo para alcançar a meta 1 (R$ 200 mil) encerra nesta sexta-feira (21).
Quem adquirir os ingressos para as sessões colabora com a continuidade de um dos festivais de cinema mais antigos da América Latina. Este ano, em formato online, as pessoas poderão assistir a diversas produções audiovisuais do Mercosul sem sair de casa.
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Conheça mais sobre os filmes identificados com Palhoça
* Ratoeira
Brasil | 2020 | Ficção | 10’42’’
Roteiro e direção: Carlos Adelino
Assistência de direção: Carlos Eduardo Ceccon
Produtor executivo: Renan Rigon
Assistente de produção: Luiz Gustavo Laurindo
Produção: Carlos Adelino
Fotografia: Thiago Dias
Som direto: Gabrielly Viegas e Wictor P. Antunes
Direção de arte: Gau Cordeiro
Montagem: Carlos Adelino, Rodrigo Ribeiro
“Dentre os resíduos da sociedade de consumo, o técnico em eletrônica Macgyver (Neném Maravilha) descobre um mundo tão cheio de coisas e tão vazio de sentidos.” Assim informa a sinopse do curta roteirizado e dirigido por Carlos Adelino, cineasta do Ceará que chegou a Palhoça para cursar Cinema na Unisul e hoje mora na Pedra Branca. “Ratoeira nasce da necessidade de questionar o modelo econômico atual e a opressão que causa na sociedade e nos sujeitos. No microcosmo da oficina do técnico em eletrônica Macgyver, um personagem situado em meio à frieza do mundo, é possível reconhecer a selvageria da sociedade de consumo. Portanto, é um convite para discutir o nosso lugar numa realidade que se transforma com tal velocidade que parece destruir tudo que está no caminho. Ratoeira é uma história sobre as coisas que permeiam o nosso cotidiano. Uma investigação sobre o verdadeiro significado dessas relações”, acrescenta.
O filme teve como cenário uma oficina eletrônica real, situada em São José, cedida gentilmente pelo proprietário, Alexandre Heinz. “Embora seja um ótimo cenário, nossa diretora de arte, Gau Cordeiro, foi muito criativa de modo a aproveitar o espaço, os objetos já existentes e outros que reunimos entre a equipe, para criar a atmosfera própria da oficina do Macgyver”, revela o diretor.
Mas o filme não se passa apenas na oficina. Há um jogo entre o mundo interno da oficina e o mundo externo. As cenas externas são todas imagens documentais filmadas em Palhoça, nos bairros do Aririú, Brejaru e Pedra Branca. São imagens de lixo eletrônico nas ruas e de centros de coleta. “Talvez esse tenha sido o processo de maior aprendizado que o filme trouxe, pois nos deu uma melhor noção do estágio de obsolescência dos produtos eletrônicos. Cada vez mais se vê TVs, computadores e tablets de última geração sendo descartados, pois as oficinas não conseguem consertar esse tipo de produto pela falta de uma simples peça sobressalente que o fabricante não fornece”, destaca.
Além do FAM, Carlos inscreveu Ratoeira em alguns festivais fora do país, especialmente na América Latina. E os frutos internacionais já começam a ser colhidos: nesta semana, recebeu a notícia que o filme foi selecionado para o Festival Rec, na Argentina, promovido pela Faculdade de Belas Artes, da Universidade Nacional de La Plata. Contente com a repercussão, o diretor reforça a importância do FAM. “Fico muito contente de estar entre os representantes de Santa Catarina, junto com outras obras maravilhosas. Afinal, é um festival com 24 anos de história que reúne filmes de todo o Mercosul. Este ano, a importância de participar do FAM é ainda maior, pois devido à intensificação do sucateamento da cultura, o festival teve suas mostras reduzidas para apenas 6 curtas-metragens selecionados nesta categoria (Curtas Catarinenses)”, avalia. “Enfim, creio que a exibição no FAM também será mais um espaço para apreciação do trabalho de músicos e compositores da região, como o Diego Della Nina de Barros, que participa na trilha sonora. Além disso, é claro, o filme é protagonizado por um dos músicos mais celebrados aqui da Grande Florianópolis, o Neném Maravilha, e também conta com algumas de suas músicas autorais”, finaliza.
* Fermento
Brasil | 2020 |Ficção | 10'56''
Roteiro e direção: Carlos Eduardo Ceccon
Assistente de direção: Rodrigo Ribeiro
Produção: Carlos Adelino, Luiz Gustavo Laurindo
Direção de fotografia: Thiago Dias
Assistente de foto: Igor Bergmann
Câmera: Thiago Dias
Direção de arte: Luiza Medeiros
Assistente de arte: Gabriele Mendonça, Julia Bagnara, Julia Faraco e Wagner Gryzbowski
Som direto: Gabriel Turbiani
Assistente de som: Juliana Fantini
Continuidade: Julia Faraco
Iluminação e maquinaria: Igor Bergmann, Márcio Carvalho
Montagem: Carlos Eduardo Ceccon, Julia Faraco, Rodrigo Ribeiro
Edição e finalização: Carlos Eduardo Ceccon
ELENCO
Kauã Schmidt, como João Pedro
Gabriel Henrique Ceccon, como Gabriel
Thaylor Pereira de Jesus, como Mário
Jemerson Batista, como seu Moreira
Ana Miranda, como dona Léia
Cátia Andréia Dörr, como Cátia
Ivan Rodrigues, como Ivan
Carla Gurgacz, como dona Cláudia
Chico Santos, como Alceu
A sinopse traz: “1999, sul do Brasil. Restando poucos minutos para o início de uma partida de futebol, duas crianças partem numa jornada repleta de adversidades para conseguirem acompanhar ao jogo”. “Este filme nasceu do desejo de retratar as imbricações entre infância, futebol e o tempero que esse esporte proporciona à vida, principalmente quando se é uma criança. A maneira com que o futebol perpassa as relações do dia a dia é muito curiosa e influente sobre a sociabilidade das pessoas em grande parte do nosso país. Fermento é um curta que busca expressar de maneira singela o lugar que o futebol ocupa e as relações que ele constrói. O tempo e espaço em que esta história se passa – o fim dos anos noventa em algum lugar no interior do sul do país – é uma tentativa de rememorar algumas pequenas experiências que residem em um outro tempo não tão longevo, e que ressoam no nosso”, explica o diretor.
Fermento fala sobre futebol, “a maior invenção já feita pelo homem”. O filme conta a história de duas crianças que partem numa jornada repleta de adversidades para conseguirem acompanhar um jogo de futebol. O curta-metragem, que se passa na década de 1990, mostra a trajetória de dois irmãos ao longo de um dia. O filme convida a rememorar “outra época”, a jogar futebol com as crianças, a participar de um encontro entre amigos e a acompanhar as peripécias dos protagonistas em busca de formas para se assistir à partida. “Dizem que somente o futebol é capaz de fazer você sentir aos 60 o mesmo que sentia aos 6. Fermento é um filme que busca expressar tal sentimento, uma obra onde infância e paixão pelo futebol se encontram em outro tempo”, explica Carlos Eduardo Ceccon, que é gaúcho, mas mora em Palhoça há cinco anos, na Pedra Branca.
O filme foi o trabalho de conclusão de curso (TCC) do curso de Cinema, na Unisul. Fermento foi gravado quase inteiramente em Palhoça. Há cenas gravadas na Pedra Branca, no Aririú da Formiga e na Barra do Aririú - algumas cenas foram gravadas em Florianópolis. A estreia oficial acontece em outro festival para o qual foi selecionado, o Festival Internacional de Curta Metragens de São Paulo (Kinoforum), que começa nesta quinta-feira (20) e vai até 30 de agosto, mas o diretor já está contente com a repercussão. “Fico feliz com a repercussão do filme, pois assim ele está sendo visto. Acho que esta seja uma história singela do dia a dia e que merece ser visualizada. Mas confesso que até agora não sei exatamente o que esta repercussão significa, até porque o filme não foi exibido ainda”, diverte-se.
* A Morte Branca do Feiticeiro Negro
Brasil | 2020 | Documentário | 10'20''
Direção e argumento: Rodrigo Ribeiro
Montagem: Rodrigo Ribeiro, Carlos Eduardo Ceccon e Julia Faraco
Pesquisa de imagens: Julia Faraco e Rodrigo Ribeiro
Produção: Julia Faraco, Luiz Gustavo Laurindo e Rodrigo Ribeiro
Câmera: Carlos Adelino e Rodrigo Ribeiro
Edição de imagem e finalização: Carlos Eduardo Ceccon
Edição de som e mix: Rodrigo Ribeiro e Leandro Cordeiro
“Memórias do passado escravista transbordam em paisagens etéreas e ruídos angustiantes. O curta-metragem A Morte Branca do Feiticeiro Negro apresenta uma inédita história dos tempos brutais de escravidão no Brasil através de um poético ensaio visual, trazendo uma reflexão sobre silenciamento e invisibilização do povo preto em diáspora, numa jornada íntima e sensorial.” É assim que o diretor define o documentário experimental, que busca refletir sobre o rastro deixado pelo período de escravidão e o silenciamento do povo negro no Brasil.
Nesta obra, som e imagem são veículos utilizados para retratar um pesaroso legado histórico, diante do qual o sentimento não deveria ser outro senão repulsa e assombro. “Imergindo nas instâncias mais subjetivas desse processo, recobramos o preço de três séculos de escravidão negra no Brasil. As chagas que pareciam insondáveis são representadas através da materialidade dos acervos históricos que resistem à precisão cronológica e, por isso mesmo, transformam-se em um discurso sobre a permanência. Os efeitos desse legado são duradouros e ainda sub-representados no imaginário coletivo, de modo que para contemplar esse autorretrato é necessário confrontar uma dor persistente, rompendo o silêncio que assombra nossa memória”, reflete Rodrigo, cineasta negro paulistano radicado há cinco anos em Florianópolis.
Formado pela Unisul em 2019, conviveu com a Pedra Branca entre as idas e vindas da graduação. Através de um cinema negro experimental, feito de mal-estar e afeto, produz um retrato poético da dor em A Morte Branca do Feiticeiro Negro. Além do FAM, o documentário também foi incluído em outros festivais. A estreia, aliás, foi simultânea, no Festival de Finos Filmes, de São Paulo, e no Rastro – Festival de Cinema Documentário, de Brasília (DF). O documentário também estará na Mostra Competitiva do Kinoforum, de São Paulo; obteve menção honrosa no FestCurtas - Festival Nacional de Curtas do Cinema da Fundaj, de Recife (PE); recebeu o prêmio de Melhor Documentário no Festival Assimetria, realizado de forma online em parceria entre as universidades federais de Santa Maria e Florianópolis. O filme também fará sua estreia internacional no último trimestre de 2020. “A repercussão tem sido ótima e generosa, me chama a atenção a força e o impacto que o filme vem tendo, com tamanha receptividade nos festivais. É a arte e o cinema como plataforma de reflexão e discussão das nossas mazelas raciais e sociais”, comemora Rodrigo.
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