Estudantes de escolas particulares pressionam governantes e parlamentares em busca de mais recursos para o Uniedu, programa do governo do estado de Santa Catarina para a concessão de bolsas universitárias. Apesar de ter mantido os valores da última edição, neste ano o governo mudou as regras de seleção, e muitos alunos que antes recebiam o benefício, desta vez, ficaram de fora. Pais de alunos do campus da Unisul em Palhoça, localizado na Pedra Branca, estão preocupados com a situação dos filhos.
Famílias como a da Patricia Freitas, mãe da Manuella, que cursa Medicina na Unisul, na Pedra Branca, terão dificuldades para bancar os estudos dos filhos sem o dinheiro da bolsa. “Sem crédito do Uniedu, fica inviável o pagamento, uma vez que sou sozinha para todas as despesas”, conta Patricia, que mora em Palhoça e relata que, a exemplo de tantos outros palhocenses, a receita da família também foi impactada pela crise influenciada pela pandemia. Ela esperava a aprovação do pedido de inclusão da filha entre os beneficiados do Uniedu, o que não aconteceu. “A justificativa foi a falta de recurso. Com as alterações, os recursos atenderam só parte dos estudantes, os quais receberam o máximo de recurso em cada nível do índice de carência, deixando de beneficiar mais estudantes”, lamenta Patricia.
Foi a mesma justificativa recebida pela família da Ilka Scheila Grudtner, mãe da Renata, que está na terceira fase do curso de Medicina da Unisul, na Pedra Branca. Viúva e aposentada por invalidez, Ilka conta que a filha não conseguiu bolsa na primeira fase do curso e precisou da ajuda dos avós para iniciar os estudos na faculdade. “Meus pais, já com idade avançada, compraram o sonho de ver a neta formada e ajudaram com o valor da matrícula e o restante eu parcelei em 15 vezes de 1.800 reais”, relata Ilka.
Para a felicidade da família, que mora em Florianópolis, no segundo semestre, Renata foi aprovada pelo programa. Com o índice de carência de 16 pontos, ela recebeu 100% de bolsa. Neste ano, com o afastamento social preconizado pelo governo do estado no enfrentamento à proliferação do novo coronavírus, o período de inscrição no Uniedu foi atrasado e somente agora, no dia 2 de maio, Ilka recebeu o resultado: apesar de preencher todos os requisitos para a inclusão no programa, a bolsa da Renata foi negada por “falta de recursos”. “Sem a bolsa, não tenho como manter a Renata. Estou tentando reverter, mas não sei como vai ser”, lamenta a mãe.
A situação da Manuella e da Renata é a mesma de outros 2.418 estudantes que não foram selecionados, por critérios diversos, somente nos campi da Unisul espalhados pelo estado. “Está sendo desesperador. Que Deus tenha misericórdia desses dois mil alunos que não sabem o que fazer”, reza Ilka.
Dos 3.050 alunos da Unisul que se inscreveram no programa, apenas 1.224 entregaram toda a documentação exigida e 852 foram considerados aptos a serem inclusos no Uniedu. Porém, apenas 632 receberam a bolsa. Ou seja: 220 estudantes que teriam direito a receber o benefício não foram contemplados por falta de recursos.
O governo estadual garante que não houve corte no orçamento. “Os recursos destinados ao programa foram mantidos, totalizando R$ 206,4 milhões para este ano. A partir de 2020, as novas regras do programa garantem que os alunos mais carentes sejam os principais beneficiários. A seleção é feita com base na avaliação dos candidatos de acordo com o índice de carência (IC), calculado de forma automática pelo Sistema de Cadastro do Uniedu. Esse cálculo garante a transparência do processo de avaliação”, informa a Secretaria de Educação. O percentual de auxílio varia de 25% a 100% da mensalidade paga pelo aluno, de acordo com o índice de carência.
Para os pais, o cálculo automático não é o mais correto. Eles preferiam o sistema anterior, que contava com entrevista com assistente social e análise presencial de documentos, além de permitir uma liberdade maior às instituições de ensino superior (IES) na “partilha do bolo”. São as IES as responsáveis por reger e executar o processo de seleção e a distribuição das bolsas do Uniedu, além de fornecer orientação aos estudantes, baseadas na legislação em vigor.
Outra mudança questionada pelos pais é o fato de que, a partir deste ano, a concessão de bolsas deixa de ser semestral e passa a ser anual. Ou seja: se a situação não for revertida, a Renata e a Manuella só poderão solicitar o auxílio novamente no ano que vem. “Com tudo isso acontecendo, a bolsa era semestral e ele colocou anual em 2020. Por quê? São perguntas sem respostas”, questiona Ilka.
As novas regras foram aprovadas no início deste ano, e regulamentadas pelos decretos estaduais números 470/2020 e 508/2020. A segunda etapa de concessão de bolsas vai até dia 17 de maio. “Em meio ao combate à pandemia do coronavírus, o governo do estado mantém seu compromisso de investimento na concessão de bolsas universitárias, tendo prorrogado o calendário Uniedu para ampliar a oportunidade de ingresso aos alunos”, destaca a Secretaria de Educação.
Além dessa flexibilização de prazos, os estudantes esperam sensibilizar a secretaria a aumentar o volume de recursos destinados ao programa. O diretor de Universidades Pagas da União Catarinense de Estudantes (UCE) e diretor de Permanência Estudantil do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Unisul, Alex Chernehaque, afirma que as entidades estudantis de Santa Catarina estão fazendo pressão junto a deputados e à Secretaria da Educação para que os recursos sejam ampliados. “Estamos com uma pressão grande pra a liberação de mais recursos para a concessão dessas bolsas”, garante Alex.
Segundo o diretor, o problema é que o volume de pedidos aumentou, devido à crise econômica provocada pela pandemia de Covid-19, e alunos com índice de carência maior tiveram preferência na concessão das bolsas. “A gente está com bastante demandas do processo de bolsas do Uniedu deste semestre e muitos alunos não foram contemplados”, lamenta, estimando que o número de estudantes que solicitaram a bolsa triplicou este ano. O governo do estado ainda não tem os números atuais, que só serão divulgados ao final do processo de inscrição.
Parece certo, porém, que, apesar de ter sido aplicado o mesmo volume de recursos, o número de estudantes contemplados será menor este ano. Na Unisul, por exemplo, apenas estudantes com índice de carência até 14 pontos receberam o benefício – estudantes com IC com pontuação até 35 têm direito à inclusão no programa; quanto menor a pontuação, maior o desconto. “Se fosse feito da maneira correta, todos teriam ganho. Pois eles não respeitaram o IC”, finaliza Ilka.
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