Comerciantes e moradores do Centro de Palhoça participaram de uma reunião na tarde desta quarta-feira (12), no gabinete do prefeito Camilo Martins (PSD), para tratar de segurança pública no município, especialmente na região central da cidade. É um reflexo prático da manifestação realizada na última segunda-feira (10), no início da tarde, quando os comerciantes fecharam um trecho da movimentada avenida Barão do Rio Branco para protestar. Na verdade, mais do que um protesto, foi um desabafo de quem não aguenta mais conviver com uma rotina de roubos, assaltos e depredações.
Infelizmente, virou rotina, de fato. Pergunte a qualquer comerciante do Centro de Palhoça se já foi vítima de assalto e a resposta será “sim”. A questão já não é mais “se”, e sim, “quando” ou “quantas vezes”. Que o diga o dono de uma loja de chocolates, invadida justamente na madrugada que antecedeu o protesto - mais tarde, no mesmo dia, sofreria nova tentativa de roubo, no mesmo lugar. Ele mostrava o que restou de uma porta de vidro, estilhaçada pelo vandalismo alheio, e um cartaz, onde se lia: “Hoje, a vítima fui eu. Mais um empresário que quer trabalhar honestamente e tem seu comércio assaltado. Até quando bandido fica solto?”.
A sequência de incidentes estilhaçou também a paciência dos comerciantes - uma estimativa informal aponta para um número de 120 estabelecimentos assaltados, só na área central. No final da semana passada, eles começaram a articular o protesto. A adesão ao movimento foi maciça. Não há um comerciante sequer que não esteja preocupado com a criminalidade. Muitos fecharam as portas dos seus estabelecimentos para encorpar a manifestação. O desabafo veio com discursos e cartazes, com frases como “O comércio de Palhoça pede segurança”, “Tantos impostos e nada de segurança”, “Estamos sendo roubados todos os dias” e “Somos palhocenses, e não, palhaços. Cadê nossa segurança?”.
O tenente-coronel Rodrigo Dutra, comandante do 16º Batalhão da Polícia Militar, sediado em Palhoça, esteve presente durante a manifestação e procurou responder aos questionamentos dos manifestantes. “Na verdade, a gente já tomou conhecimento do aumento desses furtos já há algum tempo e já estamos trabalhando com isso, tanto que uma das medidas foi dar uma dinâmica diferenciada para o posto do Centro. Nós tínhamos um policial ali parado, fixo, e demos uma viatura para ele e fizemos uma programação operacional, então ele tem uma atividade a ser desenvolvida para cobrir uma área maior”, explica o comandante.
Reflexos imediatos
Ainda na segunda-feira (10), o tenente-coronel recebeu uma ligação do comandante da 11ª Região de Polícia Militar (RPM), o coronel Áureo Cardoso. À noite, já se percebia uma movimentação maior de policiais no Centro. No dia seguinte (terça, 11), a PM deflagrava a operação Adsumus Palhoça, que significa, “estamos presentes”, ou seja, a Polícia Militar procurou dar uma demonstração de que está presente e protegendo as pessoas de bem no município. “Nosso foco é ampliar a sensação de segurança em toda a Palhoça, prevenindo e reprimindo todo e qualquer ato criminoso, em especial os furtos e roubos”, informou o comando do batalhão.
A operação se iniciou às 21h, com saída na Praça Sete de Setembro, mesmo local de concentração dos manifestantes no dia anterior. Mais de 50 policiais e 15 viaturas, além de equipes dos batalhão de Choque e Operações Especiais, e do Canil e da Cavalaria participaram da operação. “Não há previsão de encerramento e estamos recebendo grande apoio operacional do comando da 11ª Região de Polícia Militar e do comando-geral”, ressalta o comando do 16º Batalhão.
A classe política também pegou carona na mobilização. Vereadores presentes no protesto convidaram os manifestantes a levar as solicitações até a Câmara, na seção da própria segunda-feira (10). Eles atenderam ao chamado e apresentaram a pauta de reivindicações, que inclui: mais rondas policiais, com homens nas ruas e viaturas, policiando, principalmente, a noite e os finais de semana (momentos em que o Centro costuma ser deserto); ativação do posto policial do Centro, com funcionamento 24 horas por dia; soluções para os casos de moradores de rua e dependentes químicos na região; sistema de câmeras para monitoramento; criação da Guarda Municipal.
As reivindicações foram levadas à reunião desta quarta-feira (12), na Prefeitura, mas nenhuma proposta concreta imediata foi apresentada pelo poder público. Algumas sinalizações, porém, parecem trazer um pouco de esperança. O tenente-coronel Dutra informou que foi criado um grupo, junto com Prefeitura, CDL e conselhos de segurança, para trabalhar a questão dos moradores de rua. A ideia é implantar um programa parecido com o que foi criado em Florianópolis, muito elogiado e com resultados práticos.
Com relação à Guarda Municipal, o prefeito Camilo Martins acena com a possibilidade de concluir as alterações jurídicas necessárias no sistema de regulamentação dos agentes de trânsito (modelo atual) até o final do ano, e a aquisição de 11 viaturas para patrulhamento do município.
Com relação às câmeras de segurança, esta semana deve sair a licitação para a compra de equipamentos de monitoramento. A partir da escolha da empresa que vai fornecer o material, estima-se um prazo de 90 dias até finalizar o processo.
Já a chegada de mais policiais para a realização do patrulhamento das ruas de Palhoça depende da atuação do governo do estado. Hoje, o batalhão conta com cerca de 160 PMs. “Não está condizente com a necessidade do município, mas nós nunca chegaremos ao ideal. Temos que trabalhar com criatividade e todo mundo agregando forças, porque a polícia não vai conseguir acompanhar o crescimento da população, essa equação nunca vai fechar”, lamenta o tenente-coronel Dutra. Uma reunião com o governador Carlos Moisés (PSL) deve ser agendada na próxima semana, para que uma comissão de empresários possa explicar ao chefe do Executivo estadual que o município precisa de uma atenção maior com relação à segurança pública.