Na noite de terça-feira (31), exibimos, ao vivo, a segunda edição do programa “Palavra do Palhocense”, novamente dedicado a debater assuntos relacionados à crise provocada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Desta vez, além de trazer as palavras das autoridades públicas, como o vice-prefeito de Palhoça, Amaro Junior, e o secretário municipal de Saúde, Rosiney Horácio, trouxemos também as reflexões de especialistas em dois aspectos importantes do nosso cotidiano, ainda mais evidenciados em uma época de exceção social como a que vivemos atualmente, com a quarentena imposta pelo Poder Público: a saúde do corpo e a saúde da mente.
A nutricionista clínica Luciana Castanha foi a primeira a entrar no ar. Luciana abordou, primeiramente, a questão da imunidade. Muito se tem comentado que o Covid-19 traz complicações mais severas em pacientes com baixa imunidade. “Pessoas com obesidade, câncer, vitamina D baixa, têm propensão maior a ter o Covid-19, então, a gente precisa fortalecer com nutrientes, vitaminas e minerais, para que a chance de pegar o coronavírus seja menor”, confirma a nutricionista.
Luciana falou da importância da alimentação para manter o sistema imunológico forte. “Muitas pessoas acham que essa alimentação é cara, e não é. Fazendo o básico, com frutas, legumes, verduras, colocando o prato o mais colorido possível, com feijão, arroz integral, carne, peixes... Então, alimentos que não são caros já tornam a imunidade melhor, mais eficiente e diminuem o risco de pegar o coronavírus”, receita a profissional.
Estudos recentes também apontam a relação direta entre índices reduzidos de vitamina D no organismo e a ação do novo coronavírus. E como melhorar nossos níveis de vitamina D? A nutricionista explica que é aconselhável a exposição ao sol, durante 10 a 15 minutos por dia, principalmente nas articulações, cotovelos e joelhos. Luciana também indicou fontes alimentares que ajudam a aumentar os níveis de vitamina D no organismo, como sardinha, atum, ovos, leite e queijo.
Em qualquer momento da nossa vida, é importante ter atenção com a higiene dos alimentos. Em época de pandemia de um vírus de alto contágio, então, nem se fala! Luciana Castanho orienta a ter cuidado, principalmente, com frutas e folhas. “É importante enxaguar bem em água corrente, para tirar bactérias, larvas, vírus, que a gente não consegue ver a olho nu. Esses micro-organismos só saem com água corrente. Então, é importante usar água corrente e depois deixar de molho no hipoclorito de sódio, água sanitária ou cloro por 10 a 15 minutinhos e enxaguar, e só aí poder consumir”, explica, receitando a dosagem de uma colher de sopa (de água sanitária, por exemplo) para cada litro de água onde vamos deixar nossas folhas e frutas de molho.
Outra questão importante: quanto mais tempo passamos em casa, maior a tendência de “assaltar” a geladeira ou a dispensa. E aí, a chance de sairmos dessa pandemia com sobrepeso aumenta consideravelmente. Para diminuir a compulsão com comida, principalmente com os doces, Luciana aconselha a mastigar mais devagar, não pular refeição e comer frutas após a refeição.
O ideal é aproveitar esta “parada forçada” na rotina diária para fazer uma total reflexão dos nossos hábitos alimentares. Até porque, é muito provável que o Covid-19 tenha se originado de hábitos alimentares exóticos e pouco higiênicos, como a ingestão de carne de morcego, comum na região de Wuhan, na China, onde se originou a pandemia. “Muitas pessoas me procuram com relação a peso, mas nutrição não é só isso. Nutrição é imunidade, é saúde, é qualidade de vida. Muitas pessoas precisam mudar de visão. A gente precisa ter mais consciência de como a gente vai levar a vida daqui pra frente. É importante a gente fazer essa reflexão e mudar de hábitos desde já. Aproveitar esse isolamento, a quarentena, para fazer realmente um planejamento, uma organização de como vai ser daqui pra frente”, destaca a nutricionista.
Corpo são, mente sã
Luciana também orienta a população a fazer treinos físicos em casa, a se exercitar, a permanecer ativa, mesmo dentro de casa. A mesma orientação é partilhada pelo naturólogo Rodrigo Haeming, outro entrevistado ouvido pelo programa “Palavra do Palhocense”.
Rodrigo comentou que, ao longo da história, o ser humano está acostumado a lidar com a ansiedade, “porque tem que lidar com as lutas de cada dia”. Em situação de afastamento e redução do convívio social, que são excepcionais ao nosso cotidiano, os níveis dessa ansiedade tendem a aumentar. “É um momento em que somos impactados por um elemento, o vírus, que toma conta da comunidade humana e nos vimos diante de um lugar em que nos sentimos vulneráveis, e parece que a ansiedade aumenta”, reflete o especialista.
Para combater a ansiedade, Rodrigo receita técnicas de respiração e meditação (medir a ação). “Toda meditação é uma forma de olhar para si, e o Covid-19, de alguma forma, faz a gente olhar para a gente e olhar para o outro, e refletir sobre quem é o outro na nossa vida. Às vezes, o outro pode ser chamado ‘medo’, o outro pode ser chamado ‘pavor’. Muitas vezes, a gente está com pensamento de pavor, então precisamos saber medir a ação diante desse pensamento”, pondera. “Sugiro para as pessoas que estão em casa busquem prestar atenção na respiração. Não precisa fazer um exercício específico de respiração, mas que possam observar a respiração de forma espontânea, a entrada e a saída do ar, isso faz uma diferença enorme, gera bem-estar, porque o estado respiratório muda todos os estados emocionais e psíquicos, através do ar, este elemento natural”, receita.
Rodrigo concorda que é importante pegar sol diariamente, uma atitude fundamental para manter a vitalidade: “Quando estiver pegando o sol, faça exercícios de respiração, mantenha contato com o corpo, pare, silencie, observe o pensamento. Os pensamentos são como nuvens, eles vão passar e vão retornar. Este é um estado de percepção da natureza, da natureza da mente, que não está separada da natureza em si. Ela é a expressão dessa natureza de fora”.
O naturólogo convida as pessoas a avaliarem o ritmo do dia, com suas expansões e contrações, analisando detalhes como a alimentação, a respiração e o pensamento. Pensamentos de medo e pavor diante do impacto do vírus na sociedade podem trazer histeria. O importante é manter o equilíbrio. “Estamos passando por uma grande reflexão humana com isso”, diz Rodrigo. Reflexão humana e social; em foco, o prisma da coletividade. Rodrigo avalia que é necessário falar sobre o “estado de bem-estar social” da população em geral. Como exigir que alguém que vive longe das condições básicas, que não tem casa, alimento ou água, seja capaz de sentar e meditar? “A segurança é a base do bem-estar. O estado de segurança é que vai dar a primeira força para que a gente possa superar qualquer dificuldade. Nós, como cidadãos, estamos presentes na sociedade e precisamos exigir que o Estado nos dê segurança”, argumenta.
O especialista afirma que essa segurança interfere diretamente nas relações interpessoais; o impacto da falta de estrutura e, neste momento, de uma crise provocada por uma pandemia, tem um “impacto de amplo espectro na sociedade”. Portanto, acredita que o Estado também precisa ser reinventado por seus gestores e precisa gerir esse bem-estar social. E nós, população, como entes desse Estado, precisamos pleitear nossos direitos. “Esta eu acho que vai ser a grande revisão”, projeta.
Não há dúvidas de que o mundo todo será diferente quando esta pandemia passar. Diferente nas relações econômicas, na atenção à saúde, na observação da higiene e, quem sabe, diferente até na estrutura política e social. De qualquer forma, diferente. Nossa sociedade não será a mesma após a passagem do Covid-19. “Sempre acreditei no ser humano e continuo acreditando nele, é um ser que se dedica muito ao seu propósito de construir uma vida melhor, mesmo com nossos equívocos dentro da política, da gestão. Acredito que o ser humano tem, sim, uma natureza de transformação, e quanto mais entramos em contato com nossas vulnerabilidades, e o Covid nos faz estar presentes diante disso, mais humanos nos tornamos, mais podemos nos reinventar na relação com o outro”, comenta. “A humanidade vai ter que se reinventar diante da dor. Todo sofrimento por que o homem já passou, nas guerras e em todos os momentos de sofrimento, o homem se reinventou e se humanizou”, finaliza.