Por: Willian Schütz*
Olga da Silva Silveira foi mãe de nove crianças e marcou a infância de muitas outras na paradisíaca Praia da Pinheira. Conhecida como Dona Boneca, ela testemunhou o crescimento exponencial da comunidade praiana palhocense. Além disso, para muitas pessoas da região que a conheceram, foi sinônimo de solidariedade, com seu jeito maternal e sincero. Neste Dia das Mães e em pleno 2021, o legado da Dona Boneca segue vívido para muita gente.
“Quando crianças da vizinhança ou das comunidades próximas ficavam doentes, as moças vinham e perguntavam para ela o que poderiam fazer e que chá poderiam dar. Mas quando ela não sabia o que fazer, indicava um médico. E quando dava um chazinho, muitas vezes, as crianças apareciam melhores no dia seguinte, então, todos tinham muito carinho por ela”, conta uma das filhas, Iliana Caldas. “Vezes médica, vezes escritora ou correspondente, ela ajudava com o que sabia e com o que podia”, acrescenta Iliana.
Quase como uma personagem de filme, Dona Olga tinha o costume de ajudar as mulheres da comunidade que não sabiam escrever, mas precisavam enviar cartas para os maridos que estavam trabalhando em outros estados. Essa, afinal de contas, era uma situação que também ocorria com ela.
Dos 18 aos 61 anos, Olga morou na Pinheira. Ela nasceu no Sertão do Campo e mudou-se para a famosa praia quando se casou com seu Aldemar, pescador ativo que passava mais tempo trabalhando em Santos, no litoral paulista, do que em casa. Ele costumava enviar dinheiro de lá. No entanto, não havia abundância financeira. E, para agravar a situação, Olga ficou viúva em 1980, quando perdeu o marido para o câncer.
Logo após esse episódio, ela começou a trabalhar fora. Assim, por muitos anos, atuou nos serviços gerais do posto de saúde local. Paralelamente, Dona Boneca costumava receber muitas pessoas que passavam pela Pinheira durante o verão. Em muitas ocasiões, mal conhecia quem estava hospedando. Mesmo assim, hospedava, não por ingenuidade, mas por bondade.
Em virtude dessa atitude, Dona Boneca tinha muitos “amigos de verão”: pessoas que passaram períodos de férias na Pinheira e aproveitavam para ficar um pouco na casa da senhora.
Dessa forma, a casa da Dona Boneca costumava estar sempre cheia, segundo os relatos. Além disso, era ponto de referência na comunidade. “Ela era muito ativa. Muitas vezes, nós saíamos no final da tarde para ir pegar mariscos na praia. E, naquelas noites, a turma se reunia na casa dela para confraternizar. Desse jeito, tinha sempre gente em casa”, conta a filha.
“As pessoas confiavam nela”
O historiador Otávio Jorge Caldas é casado com Iliana. Eles se conheceram lá mesmo, na casa da Dona Boneca. Sobre os primeiros contatos com a sogra, o historiador conta: “Eu cheguei na Pinheira no dia 2 de janeiro de 1978. Nesta época, lá na Pinheira, só tinha os nativos, praticamente, exceto alguns gaúchos”. “Então, naquela região, uma das principais casas da comunidade era a da Dona Boneca”, relata o historiador, que noivou com a filha de Olga em 1979.
“A Boneca era uma pessoa muito conhecida, popular, porque ela era muito receptiva e as pessoas confiavam nela”, elogia Otávio. Além disso, havia uma notável determinação. “Quando faltava dinheiro, ela ia à luta: saía para ir à praia e pegar peixe. Então, às vezes, quando eu estava lá e não tinha comida para o almoço, ela descia até a praia e logo voltava com alimento”, relembra o genro.
Otávio também lembra de algo forte na presença da dona Olga. Recorda-se que, além da generosidade, ela era perseverante. “Desde que eu fui lá pela primeira vez, até o fim da vida dela, eu nunca a vi tirar um minuto que fosse para reclamar da vida, e olha que era difícil, criar nove filhos com o marido longe. E depois, viúva. Mas nunca faltou comida e nunca faltou carinho”, relata Otávio.
Viajado, mesmo antes de chegar nas paradisíacas praias de Palhoça, o historiador e genro da Dona Boneca já alertava sobre o crescimento desenfreado da comunidade. Nessa linha, sempre chamou a atenção para questões ambientais, como os aterramentos de mangues, lagoas e rios, por exemplo.
Esse foi o crescimento testemunhado por Olga da Silva Silveira, que faleceu em 2002, aos 61 anos de idade. Para o mundo, ela deixou nove filhos, dos quais quatro também já partiram. Além disso, deixou muitas lembranças e saudades. Ainda hoje, há quem siga aprendendo com o legado maternal e solidário deixado pela Dona Boneca.
* Sob a supervisão de Alexandre Bonfim
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