Desabafo do comediante Cris Pereira, gravado em Florianópolis, ganhou grande repercussão nas redes sociais. Cris fazia uma apresentação do stand up Bagual do Gaudêncio e foi interrompido quando estava no palco do Floripa Comedy Club, no sábado (1). O episódio realimentou o debate sobre o cerceamento do trabalho da classe artística nesta época de pandemia de Covid-19.
A casa havia aberto a agenda de apresentações por entender que os decretos estabelecidos pelo Poder Público para promover o distanciamento social, uma das ferramentas adotadas pelas autoridades para tentar conter a proliferação do novo coronavírus, não mencionavam a palavra “apresentação”. A casa vem funcionando conforme as orientações dos decretos vigentes com relação à limitação de público (apenas 50% da capacidade, como indicado localmente para bares e restaurantes, e o Floripa Comedy Club é um bar) e às medidas de distanciamento, de higiene sanitária e de horário de funcionamento.
O produtor teatral Marcelo Mota, que mora em Palhoça e comanda a produtora Art in Palco, é o responsável pela agenda da casa, que completa um ano em setembro. “Temos trabalhado com os grandes artistas que estão em alta no humor stand up, como Fabiano Cambota, Nando Viana, Rogério Morgado, Émerson Ceará, Alorino Júnior, Nego Di, Cris Pereira, entre muitos outros que já passaram pela casa”, relata Marcelo.
O show de Cris Pereira foi interrompido no momento da segunda sessão por guardas municipais. “As ressalvas nos decretos é que não se poderia ter música e som ao vivo. Bom, isso pode ser interpretativo, porque não estávamos enquadrando a situação como sendo um desses dois, mas sim uma apresentação, palavra esta que não constava no decreto em posse da casa, mas infelizmente o guarda nos mostrou um decreto mais atualizado, do qual a casa não tinha conhecimento. Abro aspas aqui para dizer que em aproximadamente um mês foram cinco atualizações do mesmo decreto, onde nesse último acrescentaram como proibido ‘apresentações’, palavra essa que fez com que infelizmente não nos enquadrássemos para continuar funcionando com as apresentações de comedy”, lamenta Marcelo.
No dia seguinte, Cris Pereira postou seu desabafo em vídeo: “Se o lugar pode receber 50% da capacidade de público, por que não pode ter uma pessoa a mais, que ocupa o espaço como se fosse de uma mesa, que é o palco? Vamos chamar o palco de mesa: o palco é uma mesa onde tem uma pessoa, e essa pessoa é o artista, é o músico, por que a gente não pode voltar? Não estou querendo criar coisa nova, não estou querendo impor nada, só estou querendo trabalhar com o que já está permitido, e está permitido 50% da plateia. Por que não pode ter uma pessoa a mais, que vai fazer música, ou comédia, vai fazer a arte dela?”. Confira o desabafo na íntegra, no vídeo que acompanha esta postagem!
O questionamento reverbera entre a classe artística: que diferença faz, diante da limitação já estabelecida de público, se o som é ao vivo ou mecânico; se há um comediante em um palco ou não? “A maior insensatez da situação é que a casa poderia continuar funcionando sem a presença de uma pessoa no palco”, pondera Marcelo Mota. “Temos aqui um misto de incoerências, hipocrisias, políticos se aproveitando da situação, profissionais da segurança despreparados para atuar neste momento e enquanto isso ficamos no meio desta bola de fogo de vaidades entre aqueles que acham que podem ser mais e, como na maioria das vezes, não lutando pelos interesses coletivos, mas sim, pelos interesses individuais”, comenta o produtor.
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