Há quase uma semana, funcionários da Flex Contact Center, localizada na Pedra Branca, estão denunciando um possível descumprimento da empresa em relação às medidas de contenção do novo coronavírus. Os relatos dão conta de que o call center estaria acobertando casos de Covid-19 ativos no local, e expondo os mais de 940 profissionais à doença. Desde a última quinta-feira (11), quando a situação veio à tona, denúncias estão sendo enviadas à Polícia Militar e à Prefeitura. A Vigilância Sanitária afirma, porém, que não houve surto no local.
Segundo os relatos, ao invés de isolar todos os funcionários que trabalhavam com pessoas infectadas, a unidade está realocando alguns empregados para diferentes salas, potencializando a contaminação de outros colegas. “Um menino deu positivo paro o teste da Covid-19. Eles só perguntaram quem estava sentindo alguma coisa, e essas pessoas que falaram que estavam foram afastadas. O restante do pessoal foi redistribuído nos outros call centers”, comenta um dos trabalhadores. As salas permanecem com janelas fechadas durante todo o expediente, e comportam de 15 a 50 empregados, segundo as informações obtidas.
Há uma semana, um casal de funcionários chegou a ser afastado da empresa por suspeita de Covid-19 e, até o momento, não retornou ao trabalho. “O rapaz foi confirmado com coronavírus, e a empresa simplesmente fechou a sala onde eles se encontravam com uma faixa de proteção, e colocou um informativo de ‘fechado para desinfecção’. Foi pedido aos funcionários que ‘abafassem’ o caso sobre o teste positivo”, revela um colega. Os relatos expõem que o número de pessoas debilitadas está em constante aumento. Pelo menos 14 membros do mesmo call center, por exemplo, foram isolados com suspeita da doença após o caso.
Embora o Plano de Contingência da Flex, publicado no site da empresa, revele que, em caso de contaminação do novo coronavírus, deverá ser feito o afastamento dos colegas que tiveram contato com o infectado, as denúncias mostram que nem todos que trabalhavam com os doentes são dispensados para o isolamento domiciliar. As medidas da empresa preveem, por outro lado, um “escoamento de toda a operação para outra sala da mesma unidade, caso seja uma operação muito pequena ou muitas pessoas com possível infecção na mesma sala”.
A comunicação limitada é uma das questões que mais preocupa, já que, muitas vezes, os profissionais não ficam cientes das ocorrências de confirmação ou suspeita da doença. “Todo mundo fica ocultando. Perguntam e ninguém sabe de nada”, lembra um dos colaboradores. Outro empregado complementa que pessoas de outros setores ficam sabendo dos casos a partir de terceiros. “A empresa tem funcionários afastados por suspeita do Covid-19, e não informaram os outros funcionários”, relata.
Risco para todos
Como todos utilizam os ambientes comuns, os profissionais afirmam que a equipe inteira estaria exposta ao vírus. “Eles teriam que testar todos os funcionários, pois essas pessoas têm contato com outros funcionários, por andarem dentro da empresa”, sugere um colaborador.
Os relatos dão conta, ainda, de que a higienização feita nos espaços coletivos é precária e ineficaz no combate ao vírus. “Na catraca, na entrada, tem uma pessoa limpando, mas no resto do dia não tem ninguém”, afirma. Outro empregado conta que é comum faltar sabão e álcool 70% para uso individual. “No período na noite, quando vamos embora, a empresa não é limpa, porque as sujeiras estão sempre nos mesmo lugares”, complementa.
De acordo com os colaboradores, a empresa tem jogado a responsabilidade pelo cumprimento das medidas de contenção nas mãos da própria equipe. “Não está fazendo a esterilização necessária para os funcionários trabalharem. Quando é feita a troca de turno, cada um precisa limpar sua mesa de trabalho”, comenta. Ele contesta, ainda, a forma como é feita a medição de temperatura: “Utilizam um termômetro que encosta na testa de todos que precisam entrar na empresa”. Ele declara que, durante a espera, há aglomeração na rua.
Fretado da empresa
Embora alguns profissionais já estejam utilizando o transporte coletivo municipal, que voltou a operar em Palhoça na última semana, há colaboradores que ainda precisam dos veículos disponibilizados pela Flex. Um funcionário lamenta, no entanto, que as medidas de higiene não estejam sendo respeitadas durante as viagens: “Os fretados deixam o pessoal do período da tarde e levam embora o pessoal do período da manhã. Porém, não é feita limpeza do mesmo antes dos funcionários entrarem”.
Resposta da Flex
Em nota, a Unidade Continente informa que todos os profissionais com suspeita de Covid-19 estão sendo afastados e aguardam os resultados dos exames. No entanto, afirma que, até o momento, a unidade Pedra Branca não possui nenhum caso confirmado da doença. A empresa reforça que, desde o início da pandemia do novo coronavírus, está seguindo um rígido protocolo de prevenção, pautado pelas diretrizes do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS), a fim de garantir a saúde e bem-estar de todos os seus profissionais.
Não há surto, segundo a Vigilância Sanitária
Na última sexta-feira (12), a possibilidade de uma operação da Vigilância Sanitária na empresa chegou a ser levantada por populares. A equipe de fiscalização afirma, no entanto, que não houve surto de Covid-19 no local nos últimos dias, e revela que outras vistorias já foram feitas no prédio. Novas operações só devem acontecem quando a Vigilância Epidemiológica divulgar notificações oficiais de casos confirmados do novo coronavírus.
Covid-19 na Casa Lar
Contemplando as ocorrências do novo coronavírus em estabelecimentos e instituições do município, casos de contaminação de servidores na Casa Lar, onde mais de 40 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social são acolhidas, estão trazendo uma série de preocupações.
De acordo com a equipe, duas funcionárias já teriam testado positivo para a Covid-19 desde o dia 11 de junho. O abrigo vem solicitando, desde então, uma desinfecção completa do local, bem como a aplicação de testes em massa e a obtenção de equipamentos de proteção individual (EPIs) específicos. Eles afirmam que, no momento, estão trabalhando apenas com luvas, máscaras de proteção, álcool gel e aventais.
O segundo caso de Covid-19 foi atestado nesta quarta-feira (17). Os trabalhadores afirmam que estão com medo de comparecer à instituição, e lembram que há pessoas que contemplam o grupo de risco da doença no quadro de funcionários. “Entramos em contato até com algumas autoridades que fazem parte dos órgãos fiscalizadores, para que pudessem estar junto, acompanhando esta situação. Até para que nós tivéssemos uma garantia maior de que as providências seriam realmente tomadas”, comenta uma das servidoras.
A profissional fala que uma ação da Vigilância Sanitária para testagem de todos os funcionários estava marcada para a última segunda-feira (15), mas acabou não acontecendo. “Abandonamos nossos lares, nos aglomeramos no abrigo, com a coordenação ali junto, no intuito de fazer testes. O que aconteceu? Fomos surpreendidos com a Vigilância Epidemiológica, e não a Sanitária, que foi lá só pra fazer um informativo”, relata. Ela comenta que, durante o procedimento, já havia servidores com febre: “Se alguém tivesse um termômetro de toque, já teria evitado que aquele funcionário permanecesse ali”.
Em sessão da Câmara de Vereadores, transmitida nesta segunda-feira (15), o vereador Jean Henrique Dias Carneiro (Jean Negão, Patriota) lembrou que os servidores da casa lidam com uma alta rotatividade de escalas, aumentando as chances de contágio no local. “Essas pessoas têm um contato direto com aquelas crianças, saem de lá e vão para suas casas, se relacionam com outras pessoas, e no outro dia voltam para o abrigo”, complementou. Segundo ele, uma das preocupações é a de que não haja tempo e estrutura do estado caso aconteça um surto de infecção.
O vereador fez um apelo à secretária de Saúde, Sandra Ribeiro de Abreu, bem como ao vereador Rosiney Horácio (PSD), ex-comandante da pasta, para que sejam disponibilizados testes do novo coronavírus às crianças e aos funcionários da Casa Lar. Solicitou, ainda, o encaminhamento de um relatório com os procedimentos realizados no espaço. “Eu, sinceramente, tenho minhas dúvidas se as crianças da Casa Lar realmente estão seguras diante deste processo da pandemia. E eu faço essa suspensão, senhores, porque eu esperava sinceramente que já no próprio sábado o Poder Público Municipal adotasse as providências”, expressou o vereador, que soube dos casos na última sexta-feira (12).
A Vigilância Sanitária afirma que as servidoras que testaram positivo para a Covid-19 estão em isolamento domiciliar, e explica que os colegas que tiveram contato com primeira profissional infectada já foram testados e estão aguardando o resultado do exame. Segundo o setor responsável, porém, a higienização externa, com solução de hipoclorito de sódio, só pode ser feita quando há notificação de surto da doença pela Vigilância Epidemiológica.
Uma operação conjunta entre as vigilâncias Sanitária e Epidemiológica deve acontecer nesta quinta-feira (18), para testagem de todos os servidores que não estão de atestado. Segundo as informações do abrigo, os exames daqueles que foram dispensados serão agendados pela própria equipe de saúde. A ação vai acontecer na parte externa da instituição, em distância segura, para evitar aglomerações.
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