Por: Sofia Mayer*
Com apenas cinco casos confirmados do novo coronavírus (Covid-19) no município, segundo informações da Secretaria de Saúde de Palhoça desta terça-feira (7), relatos de munícipes evidenciam um cenário significativo de subnotificação da doença na cidade. Além de problemas na obtenção de resultados de testes, está em debate a eficiência da rede de assistência às vítimas do vírus. Uma situação que preocupa, especialmente agora, que a Secretaria de Saúde confirmou a primeira vítima fatal do Covid-19 em Palhoça.
Uma moradora da Ponte do Imaruim, Leomara de Lima, passou a ter seu caso de Covid-19 contabilizado no boletim oficial do governo do estado nesta segunda-feira (6). A palhocense de 51 anos critica, no entanto, a postura da Secretaria da Saúde de Palhoça e do próprio Samu quando entrou em contato para informar sobre os sintomas que estava apresentando. Leomara relata que, com 40 graus de febre, foi diagnosticada, previamente, com uma virose genérica, e não teve grande auxílio da equipe da saúde: “Estava com muita dor no corpo, com muita diarreia, sem paladar e olfato. Minha vista estava inchada, sem força e na cama,” conta.
Em 28 de março, quando a irmã, Marilande Lima Rocha, e o cunhado, Gilvan Medeiros da Rocha - ambos vizinhos de Leomara - também passaram a sentir sintomas da Covid-19, os três correram para buscar ajuda em um hospital de Florianópolis. No dia, Leomara conta que já apresentava reações mais brandas, mas acabou fazendo o teste para o novo coronavírus com os parentes. “Eles me deram dipirona na veia, fizeram o teste, e me mandaram para casa”, relata. A moradora da Ponte do Imaruim conta, ainda, que, dias depois, recebeu uma ligação do hospital, informando o resultado do exame: foi confirmada a presença do vírus. “Ontem, recebi a notícia que de era coronavírus. Não recebi nem uma luva, nem máscara, nem um remédio. Sou um milagre”, desabafa. Leomara mora com a mãe, de 86 anos, e as filhas, de 33 e 28 anos.
Na ocasião, os três foram examinados, medicados e liberados para a casa. Apenas Leomara testou positivo para a Covid-19. Marilande relata que, embora tenha sido informada pela Vigilância Epidemiológica que os testes dela e de Gilvan tiveram resultados negativos para o vírus, ainda não teve acesso aos documentos que confirmam o resultado. Segundo a paciente, depois de fazer tomografias, foram constatados problemas nos pulmões dela e do marido, que precisou voltar ao hospital, cerca de dois dias depois, onde segue internado, com muita tosse e dificuldade para respirar. “Na segunda vez, fui porque ele estava pra morrer mesmo”, conta. A busca da palhocense, agora, é para ter, em mãos, o diagnóstico que atestam a ausência do novo coronavírus no organismo dos dois. Ao entrar em contato com o hospital, nesta terça-feira (7), Marilande afirmou que o estabelecimento deve enviar o documento via e-mail.
Marilande afirma que, no hospital, a suspeita dos profissionais de saúde chegou a ser de H1N1, que também foi logo descartada. Segundo ela, o marido está sendo tratado com diagnóstico de pneumonia, embora não tenham recebido os laudos médicos. A irmã, Leomara de Lima, que está com o documento que confirma a Covid-19, segue se recuperando em casa, sem auxílio do município.
A história da família da Ponte do Imaruim levantou o debate: a rede pública está preparada para oferecer a assistência adequada a pacientes infectados com o novo coronavírus? Em nota, divulgada nesta terça-feira (7), o governo de Santa Catarina informou que a Secretaria de Estado da Saúde já capacitou 4.925 profissionais para atuar no combate ao enfrentamento da pandemia da Covid-19 no estado: “Os cursos começaram a ser oferecidos no mês de março, especialmente de maneira virtual, e alcançaram profissionais que atuam em atendimentos diretos à população. Desse total, 2.850 foram capacitados para trabalhar nas portas das emergências hospitalares, 1.325 para atuar em UTIs e outros 750 em unidades de pronto atendimento”.
Outra irmã de Marilande e Leomara, que viu de perto a situação, também expõe a falta de assistência do município durante todo o processo de tratamento e diagnóstico dos familiares. “Mandaram ela ligar pro 136 (Disque Saúde). Ela, com 40 graus de febre e diarreia, disseram para ficar em casa. Ela só foi piorando. O médico do posto, pelo telefone, disse que era uma virose e não tinha nada a ver com corona. Não atenderam, ela passou mal, chamou o Samu, que disse que tinha coisas piores para fazer”, relembra, sobre os primeiros contatos feitos por Leomara. A irmã confirma que, no hospital, deram um remédio para dor e febre e a liberaram. “Ela passou mal em casa, quase morreu”, conta.
Com apenas cinco casos confirmados do novo coronavírus em Palhoça, segundo dados oficiais, o relato da família também acende a discussão sobre a possibilidade de subnotificações na cidade. “Só na minha família (provavelmente) são três casos”, conta a irmã de Marilande e Leomara. A palhocense afirma, ainda, que conhece mais dois casais que estão se recuperando da doença: “Sem assistência de Palhoça, e eles têm o comprovante nas mãos que deu positivo para o coronavírus”. Segundo a irmã das pacientes, todas as três pessoas da família tiveram sintomas diferentes.
A subnotificação pode se confirmar a partir de alguns cálculos. Depois de um estudo de taxas, que consideram casos mundiais, a Secretaria de Saúde de Florianópolis afirmou que, no momento, a probabilidade é que cerca de 3,3 mil pessoas estejam infectadas na região da Grande Florianópolis. No Brasil, esse cenário pode ter relação com o baixo número de testes disponíveis, e o fato de não haver uma portaria específica sobre o tema no Ministério da Saúde.
Primeira morte confirmada em Palhoça
Além da Covid-19 ser uma realidade em Palhoça, a cidade ainda expõe casos graves. Na madrugada desta terça-feira (7), a surpresa foi a confirmação, pela Secretaria de Saúde, da primeira morte no município devido à doença. A vítima tinha 58 anos e morava na Barra do Aririú. O caso já era contabilizado nos números oficiais do governo.
Ao todo, Guarda do Cubatão, Ponte do Imaruim, Barra do Aririú, São Sebastião e Pagani têm casos confirmados da doença. As vítimas têm entre 28 e 58 anos.
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* Sob a supervisão de Luciano Smanioto