Por: Sofia Mayer*
O Ministério Público de Santa Catarina segue investigando a morte de um paciente de Covid-19 no Hospital Florianópolis. O jovem de 21 anos, residente de Palhoça, faleceu no dia 15 de julho sob a suspeita de barotrauma pulmonar, uma lesão causada pelo respirador quando o paciente não está devidamente sedado. Ata de reunião entre promotores e secretário de Saúde revela que estudante teria recebido morfina para realizar o procedimento.
As informações repassadas na última semana pelo promotor responsável, Luciano Naschenweng, dão conta de que Mateus Felippe de Sousa, então estudante de Direito na Unisul, passou por outras três unidades de saúde antes de dar entrada no Hospital Florianópolis. UPA de Palhoça, Clínica São Lucas e Hospital Regional constam nos registros.
Segundo a mãe, Andréia Felippe, o estudante foi bem atendido em todas as unidades da região continental e, até então, não apresentava falta de ar.
Mateus teria dado entrada em 19 de junho no Hospital Regional de São José, mas foi transferido para o Hospital Florianópolis no dia 22 do mesmo mês.
A morte coincidiu com o período em que havia desabastecimento de sedativos e relaxantes musculares específicos para intubação de pacientes com Covid-19 no estado. Na ata da primeira reunião que levantou o tema, em 24 de julho, consta um questionamento de Naschenweng a respeito de um jovem de 21 anos, internado no Hospital Florianópolis, que teria recebido morfina por falta de medicamentos adequados.
Cinco enfermeiras da UTI do Hospital Florianópolis foram ouvidas pela 33ª Promotoria de Justiça da Capital na última semana. O processo tramita sob segredo de Justiça.
“Por que não falaram?”
Os quadros clínicos foram sendo alterados de forma rápida; segundo a mãe, o jovem estava com pressão sanguínea boa e rins em funcionamento. Durante um banho, a saturação de oxigênio de Mateus teria baixado, fazendo com que ele começasse a vomitar. Ela conta que a equipe deu um remédio para alterações do sistema digestivo, e o índice voltou para 94% - número perto da normalidade, segundo a Organização Mundial da Saúde, que estima que as saturações ideais variem de 95% a 100%. Pouco depois, ele teria enviado fotos no oxigênio.
Andréia, que manteve contato com o filho até a entrada na UTI, conta que ele já questionava a falta de remédios na unidade de saúde. “Ele mandou muitas mensagens que estava sem medicamento. Fiquei ligando para a médica e ela falou que já tinha prescrito”, lembra. O jovem, no entanto, seguia informando à mãe que não havia recebido nada.
Uma das principais indignações dos pais é referente à falta de transparência do hospital em relação aos acontecimentos. “Se faltava medicamento, por que não falaram? Eu vendia tudo que tinha para comprar o medicamento”, desabafa Andréia, inconformada por precisar entrar na Justiça para ter acesso ao prontuário do filho. As evidências disponíveis dão conta de que morfina teria sido utilizado para a intubação.
Ainda segundo a mãe, o tomógrafo do hospital estava quebrado, impedindo que Mateus realizasse exames necessários para pacientes internados com Covid-19. “Levaram o guri sem tomar remédio”, revela.
Queria ser promotor
Os pais esperam uma investigação consolidada. Segundo Andréia, o sonho de Mateus, que se formaria em Direito no ano que vem, era trabalhar como promotor. Hoje, está na promotoria a esperança da família de ter as causas da morte do filho esclarecidas.
Natural de Tubarão, Mateus já estava introduzido ao cotidiano palhocense. A família se mudou para a cidade por conta do trabalho do pai, e, por isso, o jovem terminou o ensino médio na Escola de Educação Básica Governador Ivo Silveira, na região central do município. Em 2021, ele se formaria em Direito na Unisul.
Filho carinhoso e namorado dedicado, Mateus planejava noivar no final do ano e se casar também em 2021. Andréia conta que o jovem sempre foi motivo de orgulho e sorrisos para os mais próximos: “Nunca bebeu, nunca fumou, nunca teve histórico dessas coisas...”.
* Sob a supervisão de Alexandre Bonfim
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